A visão da Mídia e do Grupo Pão de Açúcar sobre o idoso, como trabalhador e potencial consumidor

A visão da Mídia e do Grupo Pão de Açúcar sobre o idoso, como trabalhador e potencial consumidor

Sobre o programa focado na contratação de profissionais da terceira idade, Vandreia Oliveira, Gerente de Recursos Humanos do Grupo Pão de Açúcar, diz: “Desenvolvemos programas de inclusão social e percebemos, na prática, o quão benéfico é possuir um time de colaboradores composto por pessoas diferentes”. Ela completa: “é preciso ter cuidado para não dizer que uma geração é melhor que a outra”. 

 

O idoso sempre sofreu enorme dificuldade no âmbito social. Apesar disso, na atualidade, se mostra que o mesmo faz parte de um público alvo interessante, no sentido de consumo e trabalho.

De acordo com o IBGE, “no ano 2000, 30% dos brasileiros tinham de zero a 14 anos, e os maiores de 65 representavam 5% da população. Em 2050, esses dois grupos etários se igualarão: cada um deles representará 18% da população brasileira. Se em 2000 o Brasil tinha 1,8 milhão de pessoas com 80 anos ou mais, em 2050 esse grupo poderá atingir os 13,7 milhões, representando um crescimento em torno de 4,16% ao ano” (IBGE, 2016).

Junto com esse aumento da população idosa, veio um crescimento no âmbito do trabalho. “Entre a população com 60 anos ou mais (em maio de 2006 representavam 52,7% das pessoas com 50 anos ou mais de idade) as estimativas mostram que 19,3% dos idosos estavam voltados para o mercado de trabalho, 18,8% como ocupados e 0,5% como desocupados” (IBGE, 2016).

“As taxas de desocupação destes grupos eram baixas: em maio de 2006, 3,9% (50 anos ou mais) e 2,7% (60 anos ou mais), contra 4,9% e 3,9% em maio de 2002, respectivamente. A taxa de desocupação média das seis regiões metropolitanas era 10,2% em maio de 2006 e 11,9% em maio de 2002” (IBGE, 2016).

O Grupo Pão de Açúcar, formado pelas redes Extra, Pão de Açúcar, Ponto Frio e Assaí, tem um programa focado na contratação de profissionais da terceira idade. O que vai contra o estigma do idoso presente na sociedade. Segundo Goffman (1988), “os ambientes sociais oferecem o lugar apropriado de se encontrar as categorias e exigências para o enquadramento das pessoas”. A Organização faz de um jeito diferente, como diz a Gerente de Recursos Humanos da empresa, Vandreia Oliveira: “Desenvolvemos programas de inclusão social e percebemos, na prática, o quão benéfico é possuir um time de colaboradores composto por pessoas diferentes”. A mesma ainda enfatiza que é preciso ter cuidado para não dizer que uma geração é melhor que a outra.

“A vitimização garante que o indivíduo se sirva de meios que o façam corrigir seu problema” (Goffman, 1988). Nesse caso se percebe que apesar do aumento populacional de idosos, ele não perde seu estereótipo de ‘velho’, porém o faz querer provar que é jovem e consegue fazer as mesmas coisas que na ‘idade ativa’.

Apesar da evolução, no sentido de como as empresas começam a ver o potencial no idoso, pode-se notar que a sociedade continua estigmatizando para o mesmo parecer o mais jovem possível. Novaes (2000) deixa claro quando diz que “na sociedade moderna, consumista e imediatista, os velhos são encarados como um peso social, sempre recebendo benefícios e não dando nada em troca. Os valores da juventude predominam como os de beleza, de energia e de ativismo”. Nessa frase fica claro como o idoso não perde seu estigma, porém o mesmo pode “virar jovem” desde que entre no jogo do capitalismo e compre produtos para manter sua “velhice jovem”.

Debert (2002) reforça a ideia de que o capitalismo rege o estereótipo: “Por sua vez, acredita que a noção de Terceira Idade foi elaborada para atingir os interesses de um mercado de consumo que vem se expandindo ao longo das décadas, cuja correspondência com a jovialização resida certamente na ideia de que ‘juventude’ é um valor, não mais um período etário”.

A ideia do Grupo Pão de Açúcar é interessante, pois a mesma segue a política de inclusão de diferenças e nisso ajuda a desconstruir esse estigma social de que o idoso não pode mais produzir na sociedade.

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Observamos que o idoso, apesar da luta constante para ser aceito como membro que contribui com a sociedade, vem sendo melhor valorizado nos tempos atuais e, devido ao seu alto crescimento nos últimos anos, as empresas passaram a focar nessa faixa etária, porém, ainda destacamos o poder do capitalismo que rege o estigma, como reforça Marx (1975, p. 89-90) “trabalhador afunda ao nível de mercadoria, torna-se a mais destruída das mercadorias”.

Fica bem mais claro quando olhamos do ponto de vista de Marx (1975, p. 89-90): “Torna-se mais pobre quanto mais riqueza produz”.

Concluímos que essa desconstrução do idoso não poderá ser feita sem antes desconstruir esse sistema capitalista que suga e exclui, assim visando, também, que a questão de identificação social não depende muito da faixa etária em si, mas do quanto o indivíduo produz para sociedade.

Referências

DEBERT, G. G. (2003). O velho na propaganda (Versão Eletrônica). Cadernos Pagu, 21, p.133-55. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/cpa/n21/n21a07.pdf. Acesso em 15 dez., 2010.

GOFFMAN, E. (1988). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. São Paulo: LTC. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/viewFile/6928/5020. Acesso em 15 dez., 2010.

IBGE. (2016). Cresce a presença da população com 50 anos ou mais no mercado de trabalho. Disponível em:
https://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=648&busca=1&t=cresce-presenca-populacao-50-anos-mais-mercado-trabalho. Acesso em 15 dez., 2010.

MARX, C. (1975). Manuscrito econômico-filosófico e outros textos escolhidos. Rio de Janeiro: Abril Cultura. Disponível em:
https://psicologado.com/atuacao/psicologia-social/a-relacao-entre-capitalismo-e-exclusao. Acesso em 15 dez., 2010.

NOVAES, M. H. (2000). Psicologia da Terceira Idade: conquistas possíveis e rupturas necessárias. Rio de Janeiro: Nau Editora.

 

Por Daniel Illan Pazinato Wajman – aluno do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica – PUCSP, 5º semestre. E-mail: [email protected]. Ruth Gelehrter da Costa Lopes – supervisora atendimento psicoterapêutico à terceira fase da vida. Profa. Dra. do Programa de Estudos Pós Graduados em Gerontologia e do curso de Psicologia, fACHS. E-mail: [email protected] Ruth Gelehrter da Costa Lopes

 

 

Ruth G. da Costa Lopes

Psicóloga, mestrado em Psicologia Social pela PUC-SP e doutorado em Saúde Pública pela USP. Atualmente é professora Associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Gerontologia e Psicogerontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: processo de envelhecimento, psicoterapia em grupo para idosos, velhice e família. E-mail: [email protected]

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Psicóloga, mestrado em Psicologia Social pela PUC-SP e doutorado em Saúde Pública pela USP. Atualmente é professora Associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Gerontologia e Psicogerontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: processo de envelhecimento, psicoterapia em grupo para idosos, velhice e família. E-mail: [email protected]

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