Violência contra idosos continua

Viver muito e com dignidade é um direito de todo ser humano. É da competência do Estado desenvolver e disponibilizar às pessoas envelhecidas uma rede de serviços que lhes assegurem os seus direitos básicos de saúde, transporte, lazer e ausência de violência, tanto no espaço familiar como no espaço público. Mas isso está muito longe de acontecer.

Mariuza Pelloso Lima *

A família assume o papel de cuidador, e, na grande maioria, com dificuldades. A negligência, violência, discriminação, crueldade ou opressão e falta de cuidados intrafamiliares e sociais são visíveis ou camuflados na velhice.

Os níveis de violência vão desde atitudes abusivas no contexto social, como pensões e aposentadorias inadequadas, dificultando para o idoso o acesso a serviços sociais e de saúde, criando situações de marginalização e discriminação, como também, conflitos no âmbito doméstico quando seus vitimizadores, geralmente filhos, dependem do idoso economicamente.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, os maus tratos e negligência constituem “uma ação única ou repetida, ou a ausência de uma ação devida, que causa sofrimento ou angústia, e que ocorre em uma relação que haja expectativa de confiança”.

Podemos classificar a violência contra idosos em maus tratos físicos: uso de força física que pode produzir lesão, ferida, dor ou incapacidade; maus tratos psicológicos: ação de infligir pena, dor ou angústia por meio de expressões verbais e não -verbais; abuso financeiro ou material:exploração imprópria e ilegal e/ou uso não consentido de recursos de um idoso; abuso sexual: contato sexual não consentido;negligência:recusa ou falha em exercer responsabilidades no ato de cuidar do idoso.

Os idosos mais vulneráveis à violência são os dependentes física ou mentalmente, sobretudo quando apresentam problemas de esquecimento, confusão mental, alterações no sono, incontinência e dificuldades de locomoção, necessitando de cuidados intensivos em atividades da vida diária. Como consequência, muitos idosos passam a sentir depressão, alienação, desordem pós-traumática, sentimentos de culpa e negação das ocorrências e situações que os vitimizam. Passam a viver em desesperança.

O Brasil passa por uma transição demográfica que provoca um aumento na incidência de doenças crônico-degenerativas, que, consequentemente, faz aumentar a incapacidade funcional dos idosos.

Associando-se a este fator, a falta de recursos econômicos para cuidar do idoso, tudo isso propicia o aumento da violência contra ele, como também, a negligência diante da impossibilidade de prover uma alimentação adequada, medicamentos e fraldas.

A negligência, vista como a recusa, omissão ou fracasso por parte do responsável pelo idoso em garantir-lhe os cuidados de que necessita, é uma das formas mais presentes atualmente, tanto em nível doméstico quanto institucional em nosso país.

É fundamental procurar ajuda para melhor atender ao idoso, seja nas instituições públicas municipais, verificar o que têm para oferecer; procurar informações para conhecer mais de perto as necessidades dos idosos; dividir os atendimentos ao idoso, na medida do possível, com todos os familiares, para não sobrecarregar somente alguns.

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Há uma história que elucida bem esta violência ao idoso e nos mostra que o exemplo diz muito mais do que palavras:

Um trabalhador, perdeu muito cedo sua esposa e precisou cuidar do filho sozinho. Levantava antes do sol nascer para preparar as refeições da criança, e depois o levava consigo para o trabalho, cuidando para que nunca lhe faltasse algo. Os anos foram passando, seu filho se tornou um grande economista e casou-se.

Seu pai, ficando muito velhinho, já não tinha condições de se prover e se auto-cuidar. Foi morar com o casal, que nessa época tinha um filhinho de 5 anos.

Um dia, o velhinho ouviu as brigas do filho com sua nora, onde ela se queixava do trabalho que o sogro lhe dava. O filho, então, pegou um cobertor, abriu a porta da casa, chamou seu pai e lhe disse: – Toma esse cobertor e saia de casa!

O velhinho, não querendo criar desavenças entre o casal, saiu. Seu neto, vendo a cena, saiu correndo atrás do avô, pediu:

– Vovô, me dá metade desse cobertor?

O velhinho, não entendendo o motivo, mesmo assim, dividiu o cobertor e deu metade ao seu neto.

O pai, observando a cena, perguntou ao filho:

– O que você vai fazer com essa metade do cobertor?

Eis que o filho pequenino responde:

– Papai, um dia, você também ficará velhinho, e eu já terei o cobertor para lhe dar.

(*)Mariuza Pelloso Lima é Pedagoga e mestre em Gerontologia pela PUC-SP. O texto foi inicialmente publicado em seu Blog Portal da Maturidade: Disponível Aqui

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