Uma Moda Antenada na Longevidade

Quem falar em moda e necessariamente pensar na juventude, especificamente nos corpos esculturais, esculpidos por longas horas na academia e zero de gordura, estará cometendo um grande equívoco: um novo desafio para a indústria da moda está aí e veio para ficar, a moda para homens e mulheres com mais ou muito mais de 50 anos.

 

 

uma-moda-antenada-na-longevidadeUma moda antenada na longevidade. As pesquisas não apontam que estamos envelhecendo a passos largos? Marilda Ferraz, 75, conta à imprensa nacional: “Eu estou vestindo uma bermuda e por isso as pessoas olham para mim espantadinhas”. O diminutivo usado por Marilda mostra bem como a sociedade ainda relaciona a idade com o tipo de roupa usada. Preconceito? Talvez, mas como pensar e viver de outra forma quando se tem valores tão enrijecidos e pouco flexíveis para as diferenças de gosto e bem-estar?

Vivemos uma época em que um vestuário deve estar, literalmente, à altura da vida atarefada de muitas mulheres executivas, despojadas e livres. É algo que mulheres como ela, acima dos 50 anos, consideram imprescindível. Mas não costuma ser uma tarefa simples encontrar uma roupa adequada para o próprio estilo da pessoa, independente da idade. A velhice, se não chega a ser um tabu para a indústria da moda, é praticamente ignorada por ela.

Marilda, com razão, acrescenta: “Tomamos cuidado com o corpo, com o cabelo, com a maquiagem. Mas na moda existe um exagero: ficamos com cara de velhinha, ou então de velhinha querendo parecer menina”. A reportagem “Idoso é o novo desafio para indústria da moda” narra que o Instituto de Estudos e Marketing Industrial de São Paulo (Iemi) faz pesquisas de mercado nos setores de vestuário, calçados e móveis para que os lojistas entendam melhor o comportamento do consumidor. Marcelo Prado, 46, diretor do instituto, aponta: “Existe uma maior participação de pessoas acima dos 65 anos no setor da moda”.

Segundo ele, não houve um aumento só na população de idosos, mas também em seu poder de compra. Existe uma predisposição para que os idosos se tornem a grande fatia do mercado a partir de 2030. Ao fazer moda para terceira idade podemos mudar a modelagem, o decote, mas temos que manter os estilos da estação, as cores, os tecidos etc.

Não podemos esquecer que velho é sempre o outro, portanto, tudo que o classifique como tal não será bem aceito. Marilda vai ao cabeleireiro, dirige, trabalha e consome. Ela diz: “Eu me sinto integrada à sociedade. Daqui a algum tempo, tudo o que faço, que hoje ainda é considerado surpreendente, será visto com naturalidade”.

Ela se refere não só ao envelhecimento da população brasileira, mas também a uma mudança no perfil da terceira idade. Sim, porque falamos em mulheres e homens que, de aposentados, retornam para o mercado de trabalho que, justamente, demanda este tipo de mão de obra. Pedagoga há 40 anos, Marilda divide a semana entre São Paulo, onde trabalha e pratica ioga, e sua cidade natal, Guaxupé (MG), onde vive o marido. Percorre o trajeto de 300 km de ônibus.

Ela ainda faz alguns gracejos: “Minhas amigas trabalham para complementar a aposentadoria e fazem cruzeiros para todo canto”. E avisa as mais novas: “Quando chegar a vez de elas envelhecerem, terão muito mais obrigações”.

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Mas, apesar de todas essas transformações culturais e perspectiva de profunda mudança no cenário demográfico, o desenvolvimento de vestuário voltado para esse público ainda é um movimento embrionário na indústria da moda. Parece que os “grandes” da indústria da moda tem um certo medo de mergulhar neste segmento e “perder a mão”.

A explicação de Patricia Sant’Anna, 37, pesquisadora do Grupo de Estudos em Arte, Design e Moda da Unicamp, faz sentido: esse público alvo é muito difícil de satisfazer. Ela afirma que “O cliente não pode ser chamado de velho. Temos que reinventar um nome, uma ideia de elegância e propor isso de maneira sutil. Não querem ser excluídos do universo da moda e nem uniformizados por um figurino da terceira idade”.

Todo cuidado é pouco, Sant’Anna ressalta questões delicadas sobre essa longevidade complexa e nova para muitos. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o estilista Ronaldo Fraga, 45, diz que não existe moda para terceira idade “Era muito comum senhorinhas entrarem na loja e dizerem que iam comprar roupa para suas netas. Mas, na verdade, estavam comprando pra elas mesmas”.

Em 2009, Fraga fez a coleção “Risco de Giz” que foi apresentada na São Paulo Fashion Week por idosos e crianças. Para ele, o desfile significou mais: “Vivemos num país tão jovem que uma pessoa se torna invisível para a sociedade depois que faz 65 anos. O que nós estamos fazendo com os nossos velhos? Como queremos envelhecer?”.

O fashionista americano Ari Cohen retrata senhoras de Nova York com um estilo diferenciado em seu blog Advanced Style (estilo avançado, em tradução livre) e comenta: “A indústria da moda está aberta a todos. As mulheres mais velhas que eu conheço ainda fazem compras e leem revistas de moda. A publicidade pode ainda tentar convencer as pessoas de que ser jovem é melhor, mas eu acho que usar modelos mais velhas diria algo de bom sobre a qualidade da marca”.

Ronaldo Fraga concorda e assinala que “Se a moda não quiser olhar para os idosos pelo olhar humanizador, de inclusão, que seja pelo econômico: A indústria está comendo mosca”.

Pensemos, então, em uma moda acessível e que faça as pessoas se sentirem livres e bem amadas, independente da idade. O resto não importa.

Referências

JORNAL FLORIPA (2012). Idoso é o novo desafio para indústria da moda. Disponível Aqui . Acesso em 25/01/2012.

IMAGEM (2009). Desfile Risco de Giz. Disponível Aqui. Acesso em 26/01/2012.

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