A Terapia Ocupacional e o processo de envelhecimento

A Terapia Ocupacional e o processo de envelhecimento

Uma vez que um dos objetivos da terapia ocupacional é o de proporcionar grau máximo de autonomia e independência nas atividades diária de um indivíduo, é necessário trabalhar com a reabilitação, entretanto mais importante ainda é a prevenção.

 

O Conselho de Terapia Ocupacional (Crefito) define essa área da saúde como “uma área do conhecimento, voltada aos estudos, à prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da sistematização e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos”.

O Terapeuta Ocupacional é um profissional dotado de formação nas Áreas de Saúde e Sociais. Sua intervenção compreende avaliar o paciente, buscando identificar alterações nas suas funções práticas, considerando sua faixa etária e/ou desenvolvimento da sua formação pessoal, familiar e social. “E o objetivo é sempre o de alcançar uma melhora na qualidade de vida”.

O objetivo principal da Terapia Ocupacional, portanto, é o de proporcionar a cada paciente um grau máximo de independência e autonomia, facilitando seu desempenho funcional em seu ambiente de trabalho, doméstico e de lazer. Dessa forma, a Terapia Ocupacional tem como principal tarefa promover qualidade de vida, por meio da restauração e reforço de habilidades e capacidades funcionais, facilitando a execução de suas atividades de vida diária.

Partindo do princípio que uma das funções do Terapeuta Ocupacional é auxiliar na recuperação de perdas físicas, mentais e sociais, pode-se dizer que sua atuação junto ao idoso é imprescindível, uma vez que a perda desses fatores faz parte do processo de envelhecimento.

Perdas Físicas

Uma das principais dificuldades encontradas por grande parte dos idosos é a perda física, que pode ficar limitada devido a alguns fatores associados ao processo de envelhecimento, sendo eles: fragilidade óssea, perda da elasticidade do tecido conjuntivo, diminuição da força muscular e artrites.

Segundo dados do Crefito, exercícios físicos, caminhadas, dança, entre outras, são algumas das atividades utilizadas pela terapia ocupacional e que auxiliam na promoção da manutenção das funções corporais como medida preventiva, bem como a melhora das funções musculares e articulares, circulação sanguínea, coordenação motora, sobretudo, prevenção da obesidade e sedentarismo que podem trazer como consequência o desencadeamento de processos degenerativos.

Dentro desse aspecto, existe o fator queda, sendo esse, segundo Perracini e Ramos, 2002, um dos problemas mais sérios referentes ao processo de envelhecimento e no que diz respeito aos acidentes domésticos, podendo interferir negativamente na qualidade de vida dos idosos, uma vez que resulta em muitas situações de dependência na locomoção, bem como nas atividades básicas de vida diária (AVD’S), além de hospitalização e até mesmo a morte.

Dessa forma, o Terapeuta Ocupacional pode atuar diante de dois aspectos: prevenção e reabilitação, sendo que a primeira tem uma grande importância tanto para a qualidade de vida do indivíduo, como também de auxilio para o sistema de saúde, diminuindo os altos custos de internações.

Uma vez que um dos objetivos da terapia ocupacional é o de proporcionar grau máximo de autonomia e independência nas atividades diária de um indivíduo, é necessário trabalhar com a reabilitação, entretanto mais importante ainda é a prevenção. Assim sendo, se forem tomados os cuidados necessários, não será preciso procurar um profissional para a reabilitação, que quase sempre vem acompanhada de sofrimento, dor, perda de funcionalidade e, consequentemente, de autonomia e independência. Além disso, o terapeuta ocupacional pode auxiliar quanto ao uso de equipamento para mobilidade dentro de casa e até mesmo na rua, como: cadeiras de roda, bengala, andadores, o que pode, em muitos casos, trazer não somente independência, mas também segurança.

Além da prevenção de quedas, o terapeuta ocupacional tem o papel de atuar, juntamente com o fisioterapeuta, em exercícios que melhorem a força muscular, amplitude de movimento, equilíbrio e coordenação, uma vez que, por meio dessa conduta, é possível, segundo Cavalcanti, Dutra e Elui (2015), favorecer a capacidade funcional para a realização do desempenho ocupacional, que muitas vezes é prejudicado devido a uma incapacidade física.

Outra intervenção que o terapeuta ocupacional é capacitado para realizar e que pode proporcionar autonomia e, principalmente independência, ao idoso com alguma disfunção física, são as tecnologias assistivas que podem se constituir de formas mais elaboradas, como em simples objetos como garfos, copos, tesouras. Por exemplo, se um idoso que sofre um Acidente Vascular Encefálico (AVE) tem como sequela hemiplegia do seu lado dominante, dificultando a função no momento de levar o alimento até a boca com o uso dos talheres, o terapeuta ocupacional pode ajudá-lo adaptando um garfo ou uma colher para que ele seja novamente capaz de se alimentar de forma independente.

É importante sempre lembrar que os atendimentos podem e devem ser trabalhados com uma equipe multidisciplinar, seja com o fisioterapeuta para a parte de reabilitação e exercícios específicos que diminuam o risco de quedas, seja com um arquiteto ou enfermeiro para trabalhar as adaptações domiciliares reais e necessárias ou com um psicólogo para o resgate da autoconfiança relacionado ao medo de cair ou tratar uma depressão que causa uma grande dependência. Essa atuação interdisciplinar possibilita ao idoso muito mais que atendimentos, mas também uma intervenção ética, humana e de qualidade.

Perdas Cognitivas

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Outro fator comum devido ao processo de envelhecimento são as limitações cognitivas que normalmente aparecem em muitos idosos; diminuição da atenção, perda progressiva da memória são algumas alterações que podem dificultar a execução das atividades diárias do indivíduo, por isso, é importante a estimulação cognitiva, que faz parte da atuação da terapia ocupacional.

Normalmente, dentro de instituições de longa permanência ou Centros Dia, as intervenções feitas são organizadas por meio de oficinas. Por exemplo: oficina de memória, oficina de dança, oficina de artesanato, oficina de autocuidado, entre outras. Ou seja, o terapeuta ocupacional irá elaborar atividades dentro de cada oficina que possam contribuir para o objetivo principal, estimulação cognitiva, e também pensar se aquela atividade possui um significado para o grupo que irá realizá-la .Muitas vezes não são contratados profissionais formados na área para organizar e elaborar essas atividades, o que pode motivar a ausência de significado para o grupo, o que acaba não despertando interesse desses participantes, ou ainda serem escolhidas atividades infantis ou que não contribuem de nenhuma forma para a reabilitação dos idosos.

A instabilidade emocional também é outro fator que acaba aparecendo em muitos idosos, que pode surgir associada a outras alterações, como por exemplo, a dificuldade em realizar movimentos e alterações sensórias. Por isso, nesse caso, é importante que se faça um trabalho multidisciplinar, no qual a atuação do psicólogo e fisioterapeuta contribui significativamente para a reabilitação de idoso junto com o trabalho do terapeuta ocupacional.

Perdas Sociais

Quando se chega à velhice, concomitantemente, aparecem muitas perdas: perda dos laços familiares, perda de amigos, em alguns casos, perda da capacidade de trabalho e da identidade física ou perda de algumas habilidades devido as alterações comuns do processo de envelhecimento.

Dessa forma, algumas pessoas possuem uma dificuldade maior para lidar e aceitar essas perdas, por isso a atuação do terapeuta ocupacional junto ao psicólogo é indispensável para auxiliar esse idoso diante de todas essas mudanças.

Um dos recursos utilizados pela terapia ocupacional para auxiliar nesse aspecto é a organização da rotina do indivíduo, procurando, junto com ele, atividades que lhe despertem interesse e vontade de participar, além de intervir com uma série de ações que irão prevenir perdas funcionais e físicas, proporcionando saúde e qualidade de vida para que o idoso seja capaz de realizar todas as propostas traçadas pelo terapeuta ocupacional junto a ele.

A terapia ocupacional é uma profissão muito ampla, que tem um olhar holístico, global do paciente, por isso as formas com que o terapeuta ocupacional atua são múltiplas. O Crefito traz algumas das principais atividades que essa profissão pode realizar e que contribui para a saúde do idoso:

Atividades de vida diária: Comer, vestir, higiene pessoal, locomoção e comunicação.  Estas atividades são consideradas prioritárias e são indicadores do grau de autonomia do idoso.

Atividades de vida prática: Fazer compras, telefonar, cozinhar, ir ao banco, tomar conta da casa etc. Estas atividades permitem que o idoso mantenha um grau de satisfatório de independência e autonomia em casa e na comunidade.

Atividades sociais: Passeios, visitas, comemorações de festas, entre outras. Este tipo de atividade permite manter o interesse pela vida, sentir o prazer pela companhia de outras pessoas além de proporcionar oportunidades diversas.

Atividades culturais: De acordo com o nível cultural e potencial intelectual do indivíduo poderão ser empregadas atividades literárias para crítica e revisão de livros, discussão de assuntos atuais, audições musicais, peças teatrais, que valorizam a cultura e a criatividade.

Atividades artesanais: Pintura, cerâmica, trabalho em couro, tecelagem, trançagem, tricô, crochê, mosaico, entre outras.  Essas atividades desenvolvem a criatividade, mantêm habilidades motoras, promovem a autoestima, entre outras funções.

Atividades ocupacionais: Limpeza, jardinagem, cuidado de animais, atividades profissionais diversas, que contribuem principalmente para a valorização do idoso como indivíduo útil e necessário.

Atividades recreativas e lazer: Danças, jogos de salão, dominó, baralho, entre outras.  Promovem um meio próprio à integração dos sexos e das idades, ao desenvolvimento do ser humano enquanto ser criativo ao resgate da espontaneidade daquilo que se conhece por alegria de viver.

Por meio da atenção, da escuta e de todas as intervenções citadas ao longo do texto, a terapia ocupacional proporciona e cuida muito mais do que a saúde do idoso, traz habilidades, potenciais, autoestima, capacidade, dignidade, manutenção de seus direitos e também deveres e o prazer em viver.

 

Ana Beatriz Almeida

Graduada em Terapia Ocupacional pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e Mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: [email protected]

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Graduada em Terapia Ocupacional pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e Mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: [email protected]

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