A tecnologia e o afeto a favor da educação

Para Mahatma Gandhi, “a verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma pessoa”. É fazer florescer os potenciais adormecidos, assim como o beijo dos contos de fada que faz a menina/mocinha despertar do sono profundo.

 

 

a-tecnologia-e-o-afeto-a-favor-da-educacaoSim, educação também se adquire através de um bom contador de histórias, pelas ficções que nada tem a ver com a tradicional matemática ou a pesada geografia. E hoje ainda temos a tecnologia que permite a troca de experiências, o conhecimento das culturas e o aprendizado. Tudo acontecendo segundo um processo intergeracional: idosos e crianças juntos, unidos pelos avanços da tecnologia, do afeto e do saber compartilhado.

A matéria “Vovós britânicas contam histórias para crianças indianas pelo Skype”, de Jane Wakefiled, publicadas na BBC, conta como a ideia surgiu: “O Projeto Vovó em Nuvens (The Granny Cloud Project) é a criação de Sugata Mitra, mais conhecido pelo seu projeto de computador que levou PCs para algumas das partes mais pobres da Índia. O projeto agora já está sendo reproduzido em outros países e chegou até à América do Sul”.

A ideia surgiu quando Mitra percebeu que o computador que tinha em seu escritório, no sul de Déli, chamava a atenção das crianças que viviam em uma favela em frente. Ele deixou com que algumas delas passassem a mexer na máquina e ficou maravilhado com a rapidez no aprendizado. Dentro de poucos dias, as crianças eram capazes de navegar pela internet, copiar e colar, arrastar itens e criar pastas. As crianças gostam de desenhar, usando, por exemplo, o programa Microsoft Paint para criar suas pinturas. Em seguida, elas passaram a fazer o download de jogos. No segundo mês, já haviam descoberto arquivos musicais em MP3 e começaram a baixá-los.

Por que uma “vovó”?

O professor Mitra notou que elas se saíam melhor quando um adulto estava presente para lhes dar conselhos e oferecer incentivo. Ele pensou que ninguém poderia ser mais incentivador do que uma vovó.

O nome oficial do projeto é Sole (abreviação para self-organized learning environments – ambientes de aprendizagem auto-organizados), mas é mais conhecido como Vovó nas Nuvens, uma referência aos projetos de computação em nuvem (em inglês, cloud computing), que visam compartilhar recursos e dados de forma remota, por meio da internet.

As vovós, ou e-mediadores como elas são chamadas oficialmente, não são professoras, no sentido clássico, e as sessões que elas realizam não são aulas convencionais. Em vez disso, as vovós leem histórias para as crianças e falam sobre temas relevantes para elas e assuntos ligados à Grã-Bretanha.

Jackie Barrow é uma das voluntárias do projeto. Ela vive em uma área rural a 24 quilômetros de Manchester. Ela conta sua experiência como “vovó virtual”: “Nós falamos sobre o meu jardim. Na primavera, eu mostro a elas fotos das ovelhas no campo, perto da minha casa e, no inverno, retratos da neve. Se vou a Londres, levo fotos minhas por lá. Elas adoram”.

Projeto em expansão

Sugata Mitra declarou à BBC que atualmente há cerca de 300 vovós envolvidas com o projeto e que ele não para de crescer, mas há também contratempos e Mitra cita-os de forma sincera:

“Após três anos, ainda parece que estamos na fase piloto. Há uma série de coisas que precisamos resolver. Este tipo de e-mediação é voltado para colégios não muito bons, mas eles não querem o projeto. Os professores não têm grande interesse, não há eletricidade suficiente, há centenas de razões pelas quais não funciona”.

Um dos muitos problemas enfrentados é a dificuldade da conexão: “Usar Skype para conectar as avós com as crianças pode ser barato, mas nem sempre é algo com o qual se pode contar. A conexão muitas vezes cai, como já ocorreu com Jackie. De acordo com Mitra, uma em cada dez sessões apresentam um problema”.

Outro problema são os dilemas da cultura e religião: “Inicialmente, as vovós trabalhavam com escolares de Hydrerabad, onde as diferenças culturais na formação das voluntárias britânicas e as crianças com as quais elas estavam se conectando logo se tornaram óbvias”. Mitra explica: “As escolas eram predominantemente muçulmanas, e, olhando para trás, talvez essa não tenha sido a melhor escolha”.

Jackie lembra que no início havia uma falta de entusiasmo generalizada com a empreitada: “Havia muitos problemas, ninguém no colégio parecia preparado para facilitar a realização das sessões. Os professores constantemente não possuem as qualificações necessárias, não são competentes com tecnologia, não falam inglês e talvez se sintam intimidados por esse tipo de intervenção”.

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Atualmente as sessões são realizadas com a participação de um clube que promove sessões após as aulas, chamado Khelgar, onde uma vasta equipe oferece apoio às crianças. Entre eles há Suneeta Kulkarni, que conta com o trabalho desafiador de coordenar a empreitada em toda a Índia.

Kulkarni explica que a iniciativa é altamente recompensadora: “Já notei fortes diferenças nas crianças. Elas aprenderam muitas palavras e, agora, quando Jackie, mostra alguma frase diante da câmera do computador, eles tentam ler as palavras”.

Ideia exportada

Como tudo que é bom tem que ser compartilhado, a Colômbia, agora está implementando o projeto em quatro escolas. O mesmo está ocorrendo nas escolas britânicas: Como na cidade de Gateshead, o nível de alfabetização é abaixo da média nacional britânica, as “vovós virtuais” entraram em ação para envolver as crianças desde as primeiras etapas do processo de aprender a ler.

Segundo Mitra “Os professores também adoram, pois podem fazer pausas para tomar um copo de chá e as crianças ficam muito empolgadas em ver uma vovó aparecer na tela”. Pelos resultados, Mitra diz estar confiante de que o projeto possa ser encampado por uma grande organização e ser implementado mundialmente: “Em termos de potencial, nós apenas arranhamos a superfície”.

Nesse avanço Mitra vê grande potencial em expandir o papel dos e-mediadores, criando uma “nuvem de aposentados”: “Nós contamos com uma força de trabalho silenciosa, engenheiros aposentados, médicos, encanadores, todos com muita experiência para compartilhar”.

Segundo ele, esse seria um importante salto cultural na forma com que as populações idosas são vistas: “Em vez de perguntar, “O que podemos fazer por eles?”, iremos perguntar “O que eles podem fazer por nós?”

E por que não pensar nas instituições de longa permanência fazendo parte dessa rede de saber compartilhado? Uma possibilidade a ser pensada e quem sabe estudada e implementada. Quem sabe algum empreendedor não encampe essa ideia por aqui?

Experiências brasileiras

Enquanto isso não acontece podemos conhecer outra iniciativa intergeracional, realizada aqui mesmo, no Brasil, na casa de repouso Vó Elza, e divulgada no Diário da Manhã, sob o título “Convívio social para uma velhice mais saudável”. A matéria assinala que a sócia proprietária Fátima Marlene Petter foca a qualidade de vida dos idosos “nunca perdendo o gosto pela vida”: “Sempre buscamos atividades para movimentar o dia-a-dia deles, fugindo da ideia de que o idoso deve ficar esperando a morte chegar”.

Jaqueline Leirias, enfermeira da instituição, explica que um dos principais motivos pelo qual os idosos passam a morar nas casas de longa permanência é devido a convivência social que eles podem ter nestes locais: “Hoje em dia todo mundo trabalha e, em casa, os idosos muitas vezes acabam ficando mais solitários. Aqui eles estão sempre conversando, realizando atividades de recreação, além de que a alimentação é específica para cada pessoa de acordo com suas necessidades”.

Inclusão através da interação criança – idoso

A psicopedagoga e terapeuta comunitária Lovaine Streit Junges desenvolve um projeto no sentido de incluir os idosos novamente na sociedade, através de parcerias com escolas da cidade. A iniciativa prevê trabalhar com crianças de 7 a 12 anos, possibilitando que os alunos visitem mais as casas de repouso, para que eles comecem a perceber o envelhecimento como parte da vida, respeitando mais o idoso. O projeto prevê ainda o trabalho com idosos isolados, moradores da comunidade.

Lovaine ressalta que os ganhos com esta interação e troca de afeto são sentidos tanto pelas crianças como para os idosos: “As crianças criam mais um vínculo de amor, aprendendo valores, além de deixarem de temer a velhice”. Tendo implementado esse trabalho desde 2002, Lovaine afirma que os resultados vão desde melhores notas na escola até a redução das dificuldades de aprendizado e da agressividade.

Segundo ela, para os idosos, esta interação promove mais saúde e qualidade de vida: “Eles acabam precisando de menos remédios e consequentemente se gasta menos com a permanência deles na casa, podendo investir em mais alimentação e oportunidades de lazer”.

Referências

WAKEFILED, J. (2012). Vovós britânicas contam histórias para crianças indianas pelo Skype. Disponível Aqui. Acesso em 10/05/2012.

DIÁRIO DA MANHÃ (2012). Convívio social para uma velhice mais saudável. Disponível Aqui. Acesso em 10/05/2012.

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