Survivors19, projeto denuncia o ageísmo no acesso à saúde

Survivors19, projeto denuncia o ageísmo no acesso à saúde

Artistas, criadores e comunicadores denunciam a discriminação sofrida pelos idosos durante a crise do coronavírus. Os responsáveis do projeto Survivors19 planejam levar a questão aos órgãos competentes.


Profissionais do mundo da arte, da criação e da comunicação uniram forças no Survivors19, um projeto independente, apolítico e não-denominacional que denuncia o ageísmo, ou seja, o preconceito à idade, como critério para determinar o acesso aos cuidados hospitalares. Survivors19 é uma iniciativa liderada por um coletivo de artistas e criadores que buscam dar voz às grandes vítimas dessa crise de saúde: os idosos.

O objetivo é gerar debate social e provocar análises críticas em torno das decisões que foram tomadas e continuam sendo tomadas durante a crise de saúde provocada pelo coronavírus.

“Este projeto surge da necessidade de ajudar. Quando você é criativo, sempre há algo que pode fazer”, explica Eva Santos, diretora de criação global da Proximity Worldwide e promotora criativa da iniciativa. A iniciativa busca gerar debate e análise crítica da sociedade diante dessa crise.

Durante as primeiras semanas da crise sanitária provocada pelo coronavírus, surgiram várias notícias internacionais comentando que a lotação dos sistemas de saúde italiano e espanhol se devia ao fato de pessoas idosas estarem sendo atendidas.

“Fiquei muito impressionada com a maneira como essa ideia foi expressa e que ninguém disse nada. Isso me fez pensar sobre o tipo de sociedade que estamos nos tornando”, compartilha Eva Santos.

Um manifesto para dar visibilidade aos idosos

Cinco sobreviventes reais do COVID-19, de alguns dos lugares mais afetados pela pandemia, juntaram suas vozes em um manifesto para tornar visível o grupo mais vulnerável. Entre os protagonistas deste projeto internacional estão:

Giuseppe Villani, empresário de Módena (76 anos)
Jorge Mijangos, engenheiro aposentado de Madri (80 anos)
Young Joo Hwang, aposentada de Cheongdo, da Coreia do Sul (97 anos)
Dulce Ferris, voluntária em grupos de assistência sanitária de Pouso Alegre (84 anos)
William “Bill” Kelly, bombeiro aposentado e veterano da Segunda Guerra Mundial. Residente em Yamhill County, Oregon (95 anos)

A reivindicação desta iniciativa é baseada na Declaração Universal dos Direitos Humanos e se une àqueles que criticaram a administração durante a crise da saúde, como Rosa Kornfeld-Matte. A especialista independente da ONU sobre os direitos dos idosos evidenciou que em países com sistemas de saúde saturados, os processos de triagem estavam sendo adaptados na escolha de quem era tratado em uma unidade de terapia intensiva, priorizando frequentemente pessoas mais jovens sob o argumento de que suas chances de sobrevivência seriam maiores.

Eva Santos assinala que a falta de produtividade e geração de riqueza é na realidade a razão da discriminação contra os idosos, que durante toda a crise foram tratados como um grupo vulnerável e categorizados “de uma maneira muito pouco humana”.

Por esse motivo, ela e Mauricio Rocha – CEO da agência AKA -, os principais promotores dessa causa, entendem o projeto como “um tributo à velhice como estágio da vida, não da morte”.

Mauricio explica que o projeto tem um forte componente pessoal, uma vez que foi feito pensando naqueles parentes mais velhos que estão “confinados, sozinhos e morrendo de medo” diante da situação. Ele também compartilha que a narrativa que compõe o manifesto e a peça criativa se baseia em um texto que ele escreveu para sua própria avó.

“As pessoas mais velhas são tão valiosas quanto qualquer outra pessoa. Nunca deve haver um momento em que você tenha que escolher uma vida em vez de outra.”

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Nesse sentido, ele acredita que governos e administrações públicas deveriam alocar mais fundos e recursos para a saúde.

Comunicação ao serviço da reflexão social

Eva Santos explica que entraram em contato com profissionais e colegas de diferentes áreas criativas e de vários países, como Itália, Argentina e Estados Unidos, para encontrar os protagonistas da peça, que consideram autênticos sobreviventes, e assim divulgar essa situação.

“Mais de 30 pessoas e empresas das áreas de criação e de comunicação se uniram para tornar esse projeto uma realidade, impulsionado pela necessidade moral de ajudar no que sabemos fazer: comunicar”.

“Não queremos prêmios ou reconhecimento. Queremos que a sociedade reflita.”

A descoberta das histórias que protagonizam este projeto se deu graças à colaboração de profissionais de mídia e comunicação, sempre respeitando as regras e regulamentos relativos ao confinamento em diferentes países. Mauricio Rocha, criador e membro do grupo, explica:

“Encontramos histórias impressionantes, algumas delas enchem você de esperança e outras de dor. Mas, acima de tudo, o que detectamos é a enorme necessidade desse grupo de ser escutado e sentir que não está sozinho nessa situação”.

Da mesma forma, ele nos diz que as dificuldades técnicas e as poucas habilidades tecnológicas dos protagonistas para compartilhar materiais audiovisuais com os criadores colocam o projeto em risco. Mauricio destaca que está “orgulhoso e empolgado” com o trabalho altruísta dos membros da iniciativa, que não buscam reconhecimento criativo pela indústria. “Não queremos enviá-lo para nenhum festival de publicidade. Não se trata de prêmios. O único reconhecimento é o da pessoa idosa que tem o direito de viver”.

No site, www.survivors19.org são coletadas as assinaturas – mais de 300 até agora – que apoiam essa reivindicação, com os cinco protagonistas da peça criativa sendo os primeiros a assinar o projeto. Consta no site que Survivors é um movimento para garantir que a idade ou qualquer outra condição pessoal não sejam critérios determinantes para o acesso à saúde e tratamento medico.

Eva Santos assegura que a coleta de apoio servirá para fazer uma consulta sobre o sentimento da sociedade e levar a causa aos órgãos e instituições internacionais competentes.

“A coleção oficial de assinaturas traz formalidade à iniciativa, transforma-a em ativismo social. Quando assinamos, queremos que as pessoas parem e pensem sobre o que aconteceu, qual é a sua posição e postura a respeito dessa situação. Que reflitam profundamente.”


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