Sucessos e fracassos nos mistérios da longevidade

Sucessos e fracassos nos mistérios da longevidade

Pesquisas que estudam os sucessos e fracassos nos mistérios da longevidade parecem não ter fim. O homem é incansável quando a questão é viver mais. Vivemos na atualidade o mito da juventude eterna, tormenta do célebre personagem do livro de Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray”.

 

Ao ver-se em seu retrato finalmente pronto, o jovem Dorian Gray exaspera-se:

“Eu ficarei velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho… Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!… Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!”

No século XXI já não nos entregamos a atos tão desesperados, mas ao estudo da ciência e tudo aquilo que ela pode nos proporcionar. E quando falamos de sucesso nesse desejado longeviver, pensamos imediatamente no Japão.

O Japão tem a maior média de expectativa de vida do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das Nações Unidas (ONU), e o segredo não é somente a alimentação, como se pensava.

O processo é complexo pois envolve muitos fatores que devem se interligar na nossa vida diária. Segundo Kenji Shibuya, professor do departamento de política global de saúde da Universidade de Tóquio, as razões da longevidade japonesa têm tanto a ver com o acesso a medidas de saúde pública quanto a uma dieta equilibrada, educação, cultura e também atitudes de higiene no dia-a-dia.

O especialista e uma equipe de pesquisadores estudaram vários aspectos da cultura, da política e da economia japonesa que influenciam na forma de viver da população e publicaram o estudo no jornal médico The Lancet. O professor Shibuya explicou à BBC Brasil que “A expectativa de vida do japonês aumentou rapidamente entre os anos 50 e 60, primeiramente, por causa da queda da taxa de mortalidade infantil”.

Histórico de sucesso

Hoje, um bebê quando nasce no Japão pode esperar viver até 86 anos se for uma menina, e quase 80 se for menino. Mas segundo o estudo conduzido pelo professor Shibuya, os japoneses nem sempre tiveram a perspectiva de viver por tanto tempo. Em comparação com dados de 1947, houve um salto de mais de 30 anos na expectativa de vida de uma pessoa.

Esse crescimento começou no final da década de 50, quando o país passou a experimentar um desenvolvimento econômico acelerado.

No pós-guerra, o governo começou a investir em ações de saúde pública, introduzindo o seguro nacional de saúde em 1961, tratamento grátis para tuberculose e infecções intestinais e respiratórias, além de campanhas de vacinação.

Uma das principais ações foi a redução das mortes por acidente vascular cerebral (AVC). “Isso foi um dos principais impulsionadores do aumento sustentado da longevidade japonesa depois de meados dos anos 1960”, contou o estudioso. “O controle da pressão arterial melhorou através de campanhas, como a de redução do consumo de sal, e uma maior utilização de tecnologias de custo-benefício para a saúde, como medicamentos anti-hipertensivos com cobertura universal do seguro de saúde”.

Educação e cultura

– Shibuya: “Em 1975, muitas doenças não transmissíveis já estavam em níveis extremamente baixos em comparação com outras nações de alta renda, devido em grande parte a uma herança cultural de cuidados com a alimentação e prática de atividades físicas”.

Saúde

– Shibuya: “Eles também são conscientes em relação à saúde. No Japão, check-ups regulares são normais e oferecidos em larga escala em escolas e no trabalho, a todos, pelo governo. A comida japonesa tem benefícios nutricionais balanceados e a dieta da população tem melhorado de acordo com o desenvolvimento econômico ao longo das décadas”.

Trabalho e lazer

Para o cantor de rua japonês Yu Rikiya, de 68 anos, o segredo é o fato de haver muitas atividades voltadas para pessoas de idade mais avançada. “Essas pessoas têm um motivo toda semana para continuar vivendo. Fazem o que gostam, se divertem e não se estressam”.

Além de produzir e vender os próprios CDs, Yu Rikiya canta na noite e diz que nunca se preocupou com o avanço da idade. “Temos acesso a médicos, tratamentos e remédios. Ganho o suficiente para comer e sustentar a família. Saio com amigos para beber e curtir a vida. Então, para que se preocupar? Quero viver muito ainda, produzir mais música e, quem sabe, ainda ser famoso um dia”, planeja.

Envelhecimento

O lado negativo do sucesso do Japão em conseguir manter a população saudável é o desequilíbrio populacional. Até agora, cerca de 24% da população tem mais de 65 anos. Mas cálculos do governo apontam que, em 2060, a porcentagem de idosos será de 40%, numa população que se reduzirá dos atuais 127 milhões para 87 milhões.

Segundo o estudo, a expectativa de vida deve aumentar ainda mais, chegando a 84 anos para homens e 90 para as mulheres. Shibuya aponta que “O rápido envelhecimento da população japonesa é um desafio para o sistema de saúde do Japão em termos de financiamento e qualidade dos cuidados”.

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Ele ressalta: “Simplesmente aumentar a expectativa de vida não faz mais sentido. Devemos focar mais em maximizar de forma saudável essa expectativa de vida”.

Outros desafios que o Japão enfrenta são altos índices de alcoolismo, tabagismo e suicídio, problemas gerados em parte por causa do aumento do desemprego e do prolongamento da crise econômica.

Após Fukushima e os desastres naturais

As mulheres japonesas deixaram de ser as mais longevas do mundo no ano passado, perdendo uma liderança ocupada há 26 anos, informou o Ministério de Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão. Um dos fatores responsáveis por esse dado foi o desastre ocorrido na região de Fukushima em 11 de março de 2011.

Isso se explica porque mais de 56% das vítimas fatais do terremoto e tsunami tinham 65 anos ou mais e 75% dos desaparecidos tinham mais de 60 anos. O aumento do número de suicídios também foi apontado como um fator determinante para a diminuição desse número.

Os desastres naturais ocasionados pelo terremoto seguido tsunami ocasionaram grandes estragos na região leste japonesa, provocando a morte de aproximadamente 16 mil pessoas, além do colapso da usina nuclear de Fukushima-Daichii.

A sociedade japonesa se converteu em um parâmetro mundial de longevidade em decorrência do desenvolvimento da medicina e da queda da taxa de natalidade no país. Esse fenômeno é bem perceptível no nordeste do Japão, que mesmo antes do terremoto sofria com o êxodo da população mais jovem devido à queda de postos de trabalho.

Viver mais, mas a que preço?

Sim, estamos vivemos mais, mas a que preço? Um conjunto de estudos publicados no dia 13 de Dezembro na revista The Lancet, com trabalhos desenvolvidos em 50 países, incluindo o Brasil apontam que apesar da população mundial se beneficiar de uma expectativa de vida cada vez maior, os anos a mais estão sendo vividos com menor qualidade por causa de problemas de saúde.

Os diversos recursos da medicina para melhorar os anos de vida a mais, parecem não alcançar a corrida destrutiva das doenças. Uma luta sem fim e sem garantias.

Resultados

Os pesquisadores analisaram um grande volume de dados, como incidência de doenças, motivos de internação hospitalar e mortalidade em diferentes lugares do mundo para produzir um retrato das condições de saúde em 2010. Um dos artigos de destaque foi produzido pela Escola de Saúde Pública de Harvard, que comparou as condições de saúde da população de 187 países entre os anos 1990 e 2010. Os resultados mostraram que um ano a mais de vida corresponde, na verdade, a 0,8 ano vivido com saúde. Quanto mais a expectativa de vida aumenta, maior é o buraco entre longevidade e qualidade de vida.

Depressão

Um estudo australiano, da Universidade de Queensland, mostrou que os transtornos mentais, como a depressão, são responsáveis por metade dos anos vividos com alguma sequela incapacitante. Foram listados também os dez problemas de saúde que mais causam sequelas e pioram a qualidade de vida: dor nas costas, depressão, anemia ferropriva, dor no pescoço, DPOC, problemas muscoloesqueléticos, transtornos de ansiedade, enxaqueca, diabetes e quedas.

Doenças Crônicas

O Ministério da Saúde afirma que, se não atacarmos as doenças crônicas desde cedo, as pessoas vão até viver mais, mas com sequelas de diversas doenças, como AVC, amputação por causa de diabetes e diálise. Em 2011, a ONU realizou uma reunião de cúpula para discutir o impacto das doenças crônicas, e em maio de 2013 devem ser estabelecidas metas para o combate a doenças como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares.

Referências

MINHA VIDA (2012). Expectativa de vida maior pode ser de má qualidade, diz estudo. Disponível Aqui . Acesso em 15/12/2012.

TERRA (2012). Pesquisa tenta desvendar segredo da longevidade no Japão. Disponível Aqui . Acesso em 11/12/2012.

OPERA MUNDI (2012). Após Fukushima, mulheres japonesas perdem liderança no ranking mundial de longevidade. Disponível Aqui . Acesso em 30/08/2012.

 

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