Setembro amarelo – suicídio em idosos

Setembro amarelo – suicídio em idosos

O idoso não comete suicídio porque chegou ao fim da sua vida. Não é com a vida que ele deseja acabar, mas com a dor que a vida que leva provoca e que se torna insustentável quando não existe uma rede de apoio.

 

Às vezes ouvimos falar de pessoas que cometeram suicídio porque perderam a fortuna ou tiveram sua reputação arruinada. Esses casos são extremos. Outras pessoas, ao sofrer uma grande perda, tornam-se profundamente infelizes e adoecem. Não conseguem distinguir a vida da situação da vida.” (Eckhart Tolle)

Em alusão ao ‘setembro amarelo’, mês em que há maior conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio, abrimos espaço para abordar o assunto também no contexto do envelhecimento.

Assunto tabu em qualquer faixa etária embora seja considerado uma questão de saúde pública, a morte provocada soa de forma incoerente no envelhecimento e recebe pouca ou nenhuma atenção das autoridades, da mídia, de profissionais etc., para este evento.

Quando pensamos no suicídio em pessoas idosas, acreditamos ser impossível já que se tem a ideia de que nesta fase da vida muitas adversidades já foram superadas, muitas vontades e desejos alcançados e que não há motivos para antecipar a morte.

Porém, com o aumento da população idosa ocorrendo rapidamente, é necessário que possamos dialogar acerca deste tema buscando formas de prevenção, mas acima de tudo, de acolher esse público com uma escuta atenciosa, tentando compreender que a dor do outro dói, e às vezes, somente dói.

É sabido que o envelhecimento traz consigo algumas alterações que colocam o indivíduo em uma situação de vulnerabilidade, principalmente, social, onde a posição ocupada pelo idoso gera fatores de risco como depressão, isolamento social, alcoolismo, transtornos psicológicos, dor crônica, demências, perdas sociais e de familiares, incapacidade física e cognitiva entre outros, que estão presentes na vida destas pessoas e que são aspectos a serem considerados quando falamos de ‘suicídio’. Especialistas afirmam que o acúmulo de perdas ao longo da vida e o isolamento social, são condições motivadoras para tal ato.

Um alerta feito pela OMS diz respeito à alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos, principalmente homens, com médias registradas de 8,9 mortes por 100 mil habitantes nos últimos seis anos, sendo que a média nacional é de 5,5 por 100 mil. Já entre as mulheres o índice é de 2,4 mortes por 100 mil habitantes. A principal causa dos óbitos é o enforcamento.

Em todo o mundo, as taxas elevadas de tentativas e atos estão nas faixas mais avançadas e, no Brasil, não é diferente. Em nosso país, cerca de 1.200 pessoas com 60 anos ou mais morrem a cada ano em decorrência de suicídio. Para ter-se uma ideia, em uma comparação entre homens e mulheres, observa-se que os homens tiveram um índice maior, correspondendo a 79% do total de óbitos registrados. Quando na condição de solteiros, viúvos ou divorciados, o número de óbitos por suicídio é de 60,4%. Entre as mulheres, doenças e deficiências incapacitantes, impacto da morte de familiares próximos, violência, abuso e endividamento, foram os motivos sinalizados.

É importante destacar que o idoso não se ‘mata’ porque chegou ao fim da sua vida, de certa forma, não é com a vida que ele deseja acabar, mas com a dor que esta veio a provocar e que se torna insustentável quando não existe uma rede de apoio, principalmente familiar, de garantir que este idoso possa ocupar o espaço social a ele destinado, sendo este, um fator importante para evitar possíveis tentativas de suicídios, que são sinalizadas pelo idoso através de pistas verbais e comportamentos.

Cada vez mais se torna necessário que os profissionais estejam capacitados para observar as nuances existentes no diálogo como também no silêncio do idoso. Não no silêncio das palavras, mas no silêncio do olhar, que pode dizer mais coisas do que se imagina.

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A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia alerta para a importância de reconhecer os sinais de depressão no idoso, considerado este, o fator de risco principal entre aqueles que atentam contra a própria vida, chegando a 70% dos casos.

Incentivar lazer, socialização, momentos em família, com amigos, manter a pessoa idosa em atividade, oferecer atenção e escuta acolhedora ao menor sinal de uma situação agravante, são ações que podem afastar os pensamentos negativos. A assistência é o principal fator de proteção, tanto psicológica quanto psicossocial através do Centro de Apoio Psicossocial e, até mesmo parcerias com o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferecendo suporte emocional gratuito através de ligações.

E, aproveitando que este mês também é considerado mês de conscientização sobre a Doença de Alzheimer, alertamos para os casos de depressão em cuidadores, muitas vezes também idosos, que necessitam de cuidados singulares.

Só podemos prevenir aquilo que conhecemos, logo, discutir sobre o assunto e desmistificar o suicídio na velhice é fundamental.

“Nunca despreze as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana”. (Augusto Cury).

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Taxa de suicídio é maior em idosos com mais de 70 anos. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/29691-taxa-de-suicidio-e-maior-em-idosos-com-mais-de-70-anos. 2017.

CENTRO DE VALORIZAÇÃO À VIDA. Suicídio de Idosos: um alerta à sociedade. Disponível em: https://www.cvv.org.br/blog/suicidio-de-idosos-um-alerta-a-sociedade/. 2012.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA. Confira reportagens em esclarecimento a depressão em idosos como um fato de risco a ser observado no combate ao suicídio. Disponível em: https://sbgg.org.br/sbgg-na-midia-confira-reportagens-em-esclarecimento-a-depressao-em-idosos-como-um-fato-de-risco-a-ser-observado-no-combate-ao-suicidio/. 2016.

 

Simone de Cássia Freitas Manzaro

Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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