Rembrandt para refletir as velhices

Rembrandt para refletir as velhices

Refletir as velhices nas suas diversas formas por meio de Rembrandt e entrar em contato com o velho que habita em cada um de nós parece ser um interessante caminho para este entendimento, que se faz urgente.


Sim, o mundo envelhece em velocidade e tira o controle das mãos dos profissionais que, acostumados a trabalhar com adultos e crianças, percebem uma enorme dificuldade em compreender as tantas velhices apresentadas.

Velho é velho, dizem alguns. São todos saudosistas e rabugentos, juram alguns outros.

O fato é que alguns profissionais que trabalham com este público foram muito pouco preparados para entender a complexidade do envelhecer. A velhice é múltipla já que ser velho é a constituição máxima de cada ser humano.

A heterogeneidade da Velhice nada mais é do que o retrato das diversas maneiras que temos de encarar a vida e como aprendemos, ao longo do viver, a lidar com as dificuldades e alegrias nos dada por ela ao longo dos tempos.

Seu Agenor se constituiu em um velho bastante difícil e deixa os cuidadores do Centro Dia que frequenta sem saber como conviver com ele.

Agenor passou a vida destruindo as relações que a vida ia lhe presenteando. Não sabendo se relacionar, foi deixando mágoas espalhadas em diversos corações. Hoje, os descontentamentos distribuídos no lugar dos afetos positivos, deram lugar ao rancor e a tristeza. Como compreender que mesmo fazendo questão de ser desagradável, Agenor é digno de respeito? Quem somos nós para dar à ele um tratamento áspero como troca do não reconhecimento por tudo aquilo que cada cuidador tenta fazer por sua velhice? Como compreender velhices assim?

Mais fácil é conviver com a doçura de Dona Sílvia que, mesmo com todas as dificuldades impostas pela vida, nunca deixou de cativar quem cruzava seu caminho. Frequentadora do mesmo Centro Dia do Seu Agenor, os cuidadores disputam a possibilidade de estar ao lado dela e não ao lado dele.

Como agir? Como preparar os profissionais que lidam com as mais diversas velhices para aceitar as várias maneiras de ser velho?

Refletir as velhices nas suas diversas formas e entrar em contato com o velho que habita em cada um de nós parece ser um interessante caminho para este entendimento, que se faz urgente.

Tenho a sorte de pensar a vida através da Arte, que clarifica a maneira de compreender as velhices no contexto que vivemos.

Arte que colabora com a compreensão do viver longevo ao despertar emoções que nos tiram deste mundinho superficial enquanto nos auxilia a percorrer outras camadas do pensamento.

Convido os profissionais que trabalham com as velhices a mergulharem comigo na vida e na obra do pintor holandês Rembrandt (1606- 1669).

Trata-se de um dos maiores gênios da História da Arte. Viveu apenas 63 anos e fez inúmeros autorretratos sendo que os pintados no final da sua vida são os mais reflexivos.

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Como ninguém, Rembrandt soube perceber o claro e o escuro, a luz e a escuridão, na Arte e na vida.

Através de seus autorretratos percebemos o jovem com olhar afoito, o adulto realizado e os muitos velhos que ele, honestamente, nos mostrou pelas dificuldades impostas pela própria vida ali retratadas.

Rembrandt era exímio ao se pintar com tamanha verdade. Nos seus retratos, diferentes estados psicológicos eram mostrados sem constrangimento algum. Do jovem bem-sucedido e inteligente, do homem potente e bem sucedido, do velho sereno e resignado, à simplicidade do seu fim de vida, tudo está ali para nos fazer refletir o nosso próprio processo de envelhecimento. A compreensão do viver foi inteiramente pintada por ele e nós, cuidadores que somos, podemos observar a velhice como uma construção de afetos que nos transformam, física e emocionalmente, ao longo do viver.

Rembrandt teve muitas perdas. Viu filhos morrerem, o dinheiro acabar e a procura pela sua arte se tornar escassa após períodos tão intensos.
Era um dos maiores gravuristas que a Arte já viu até que precisou vender sua prensa de impressão para quitar dívidas. Envelheceu só e com amarguras que o entristeceram.

A Arte foi o recurso encontrado por ele para acalantar este viver doído.

Ao oferecer aos profissionais de um Centro Dia Público a possibilidade de refletir o envelhecimento por meio da genialidade do artista, propomos algo impactante. Um jogo com atividades práticas que traz a obra de Rembrandt como objeto e é capaz de instigar a reflexão do longeviver. Trata-se de um meio de gritar bem alto, aos quatro cantos do mundo: NÃO À BANALIZAÇÃO! A vida e o viver não devem jamais ser menosprezados.

Aprender é um direito de todos. A Arte nos faz pensar, refletir e sentir.

Trata-se de um perigo para aqueles que não querem pensar a vida.

A obra de Rembrandt é de domínio público e deve ser amplamente explorada por todos que buscam se encantar pela vida longeva.

Rembrandt para a compreensão das velhices é uma parceria do Faça Memórias com o Espaço Longeviver, afinal, pensar as velhices é um dever da contemporaneidade.

Nota da Redação do Portal

Esta formação continuada no serviço é o mais novo projeto do Espaço Longeviver chamado “Territórios do Envelhecimento em Diálogo”. Acreditamos que os serviços existentes na cidade possam se qualificar permanentemente, fortalecendo seus laços e relações e, assim, atender melhor as velhices, especialmente as mais vulneráveis. Maiores informações: [email protected] ou pelo Whats (11) 99269-6110.

Cristiane T. Pomeranz

Arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Idealizadora do Faça Memórias em Casa que propõe o contato com a História da Arte para tornar digna as velhices com problemas de esquecimento. www.facamemoriasemcasa.com.br E-mail: [email protected].

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Arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Idealizadora do Faça Memórias em Casa que propõe o contato com a História da Arte para tornar digna as velhices com problemas de esquecimento. www.facamemoriasemcasa.com.br E-mail: [email protected].

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