Curandeiros e terapeutas místicos foram condenados nos tribunais da Inquisição em Portugal no século 18. O historiador norte-americano Timothy Walker fala sobre a participação dos médicos lusitanos nessa empreitada contra os métodos alternativos de cura, a partir de documentos que indicam que as condenações tiveram uma motivação mais corporativista.
Henrique Kugler e Gilberto Hochman(*)
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Embate clássico: de um lado, as terapias tradicionais baseadas em empirismo ou superstição; de outro, a medicina convencional sustentada em saberes referendados pela ciência. Não é de hoje que os métodos alternativos de cura provocam desconfiança. A briga é mais antiga do que se imagina.
No século 18, em Portugal, os tribunais da Inquisição não economizaram tinta nas condenações contra curandeiros e terapeutas místicos. Mas, até há pouco, curioso detalhe passara despercebido às pesquisas historiográficas: a perseguição a esses ‘bruxos’ não era, necessariamente, resultado da intransigência dos inquisidores.
Documentos indicam que essas condenações tiveram uma motivação mais corporativista. Foram os representantes da então emergente classe médica portuguesa – novos médicos e cirurgiões doutrinados no espírito do Iluminismo – que se aliaram à Inquisição para pedir a cabeça dos curandeiros e seus congêneres. Afinal, havia um mercado em disputa.
Quem analisa a questão é o historiador norte-americano Timothy Walker, da Universidade de Massachusetts-Dartmouth. Ele empreendeu o que chama de ‘trabalho de detetive’: passou anos a fio enfurnado em bibliotecas a vasculhar milhares de arquivos empoeirados.
A busca rendeu o livro Médicos, medicina popular e Inquisição: a repressão das curas mágicas em Portugal durante o Iluminismo. Publicada em inglês há mais de 10 anos, a pesquisa ganha agora a primeira tradução para o português, por uma parceria entre a Editora Fiocruz (Rio de Janeiro) e a Imprensa de Ciências Sociais (Lisboa).
Walker esteve no Brasil em novembro para uma conferência na Fundação Oswaldo Cruz, na capital fluminense, quando conversou com Ciência Hoje sobre a relação dos inquisidores com os representantes da classe médica lusitana.
Leia a entrevista completa no Ciência Hoje 322, clicando aqui
(*)Henrique Kugler, Ciência Hoje/ RJ, e Gilberto Hochman, Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz/ RJ. Artigo publicado em 17/02/2015.