Prostitutas de Amsterdã agora em livro

Há muitos anos estive em Amsterdã. O turismo na cidade fazia parte de um belíssimo roteiro de trinta dias pela Europa. Mas lembro claramente, por essa rápida passada pela cidade, de uma frase do guia sobre as famosas prostitutas de Amsterdã: “aqui o fundamental é o olhar de respeito e admiração, nunca desprezo”.

Luciana H. Mussi(*)


E agora, ao ler a matéria “Prostitutas mais velhas de Amsterdã contam segredos em livro”, resgatei lembranças – conversas sobre o tema durante a viagem – há muito esquecidas. Algumas vezes, penso que o melhor das reportagens da web são os comentários dos internautas, sempre oscilando nos extremos julgadores da moral. Mas sobre isso, reservo um espaço logo adiante.

Sobre o livro

As mais antigas prostitutas de Amsterdã foram jogadas na ribalta com o lançamento de suas memórias e de um documentário sobre suas vidas, “Meet the Fokkens” (Conheça as Fokkens, em tradução literal).

O filme segue as gêmeas idênticas Louise e Martine Fokken, de 70 anos de idade, que compartilham os segredos da venda de sexo no famoso distrito da luz vermelha da cidade.

Segundo reportagem da BBC, reproduzidas pelo Uol Notícias (ver abaixo), Louise e Martine vivem em um apartamento de dois quartos que dividem em Ijmuiden, a oeste de Amsterdã. Uma de chinelos, a outro de sandálias, elas pegam canecas de café e seus bolos de creme favoritos.

Martine cantarola enquanto Louise resmunga sobre famílias forçadas a fugir durante a Segunda Guerra Mundial. Sua mãe tinha origem judia, algo que conseguiu esconder das forças de ocupação nazistas, permanecendo na Holanda. Já o tema da canção de Louise transita entre a alegria de viver e a tristeza de deixar alguém.

“Nós éramos muito pequenas durante a guerra. Quando as sirenes soavam, nossa mãe nos levava ao porão. Nós não tínhamos capacetes e por isso usávamos frigideiras para cobrir nossas cabeças. Ficávamos muito engraçados. E nos divertíamos lá”.

Ao serem questionadas sobre suas memórias, se lágrimas ou risos, elas respondem: “Oh, risos, definitivamente risos. Você tem de rir mesmo se estiver triste, porque é a sua vida e você não pode mudá-la. É sempre melhor se você está sorrindo”. Mas os seus lábios habilmente pintados de vermelho não diminuem o brilho de tristeza em seus olhos.

“É claro que quando tínhamos 14 ou 15 anos nunca pensamos em trabalhar como prostitutas um dia. Éramos criativas e cheias de sonhos”, diz Martine.

Louise acrescenta: “Eu sempre conto que o meu marido me batia. Ele era violento e disse que iria me deixar se eu não vendesse sexo para ganhar mais dinheiro. Mas ele foi o amor da minha vida …”. As crianças de Louise foram levadas para um orfanato. Ela ainda guarda fotografias, que ficam nas prateleiras de uma estante antiga, mostrando seus pequenos rostos sorridentes.

A importância da experiência

Martine ainda vende sexo. Ela diz que a aposentadoria do estado holandês não é suficiente para o seu sustento. Já Louise teve de parar por sofrer de artrite. Martine diz que gostaria de se aposentar, mas não pode. O documentário a mostra no trabalho – sentada em um banquinho, de meias finas, cinta-liga e sapatos altos envernizados.

Ela diz que os tempos mudaram: “Os meninos são diferentes agora, eles bebem muito, são gordos e não respeitam você. Eles deveriam andar de bicicleta como meninos holandeses, e não apenas beber o tempo todo”.

Martine se especializou em outro tipo de serviço: “bondage” para homens mais velhos. Orientando-a sobre como querem que ela se vista, eles a pedem para usar uma série de chicotes ou sapatos de salto alto. Parece que ela encontrou um nicho no mercado de fetiche.

“Nós sabemos os truques, nós sabemos o que eles querem. Nós sabemos como falar com eles e sabemos como fazê-los rir muito”.

Sobre o riscos da profissão, Martine lembra um episódio em que recebeu um homem que lhe despertou uma sensação ruim, de desconfiança: “Ele tirou a roupa e, quando me sentei na cama, percebi que havia uma faca enorme sob o travesseiro”.

“Há sempre altos e baixos”, acrescenta Louise. “Altos e baixos, altos e baixos …” as gêmeas cantam, antes de cair em si e terem um ataque de riso.

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“Isso é o que sabemos fazer. Se não estivéssemos na rua, o que faríamos? Esta é a nossa vida. Além disso – Martine olha novamente para a irmã – ainda estamos nos divertindo”.

A voz dos internautas

Parece que julgar é a palavra da hora. As pessoas buscam uma justificativa: se sexo por necessidade financeira, se sexo por prazer, se sexo por compulsão, se sexo por compaixão…

Abaixo, selecionamos algumas frases de internautas que consideramos marcantes, análises sobre esse estranho hábito de julgar a todos aqueles que optam ou não por um tipo de vida diferente, que não seja o nosso.

  • “Não acredito q elas, como a maioria das profissionais do sexo, façam isso só por uma necessidade financeira… o q a gente observa, lendo, vendo TV, internet, livros, ouvindo outras pessoas, eh q elas realmente GOSTAM dessa vida…eh uma fantasia pra elas, um modo de vida pra elas…mtas largam marido, filhos, pra viver essa vida, já outras, q se casam, continuam atendendo como profissionais do sexo, e outras, q qdo largam a prostituição, continuam tendo sexo com outras pessoas, vivendo um “casamento aberto”… ñ quero dizer q são os piores seres humanos do mundo, eh claro q NÃOOO, mas q a grande maioria gosta sim dessa vida pelo sexo, aventura, fantasia e, claro, mtooo dinheiro. Será q na Holanda, país de primeiríssimo mundo, ñ teria outra atividade pra realizar, num lugar cheio de oportunidades?! Elas GOSTAM, simples assim. E pelo menos, são sinceras, ñ tão enganando ninguém”. PYRO1
  • “Uma vez tive em Goiânia e visitei as casas de luz vermelha. Fui recebido por uma prostituta muito carinhosa, transei com ela, dormi la mesmo e no outro dia teve café da manha. Por isso não tenho nada contra elas”. C.V.T. (ver vídeo porta-curtas)
  • “As meretrizes, a exemplo de qualquer “profissional” do mundo, também envelhecem. Acredito que a felicidade que elas estampam é que, após anos de árdua batalha, as vovós do sexo conseguem lançar um livro de memórias. Imagino que o conteúdo da tal obra deve estar deixando muito marmanjo velho de cabelos em pé, afinal, esse tipo de “trabalhadora” deve possuir um vasto acervo de apimentados segredos sobre a velha clientela”. COPACARIOCA
  • “É difícil de acreditar nesse aparente estado de felicidade das vovós, mas o mundo está prestes a acabar msm, mais uma apologia a situações perigosas e vertiginosas. Que venham os asteróides! Estamos prontos!”. LARISSA CARVALHO

Enquanto isso… na Inglaterra

É, de fato, a crise chegou na Europa e em todos os segmentos da prestação de serviços. A matéria “Prostitutas oferecem programas com descontos para idosos na Inglaterra” comprova isso.

Garotas de programa da cidade de Conisbrough, na Inglaterra, estão fazendo descontos especiais para aposentados, com preços que chegam ao equivalente a R$ 7 para um programa completo com os homens mais velhos.

Segundo o jornal britânico The Sun, além dos descontos, elas também estão batendo de porta em porta oferecendo seus serviços. De acordo com as moradoras da região, ao menos quatro jovens, de aproximadamente 20 anos, estão visitando as casas se oferecendo para programas.

As moradoras desconfiam dos preços cobrados e suspeitam que o grupo esteja tentando entrar nas casas para realizar furtos. O sargento Dave Jones, da Equipe de Vizinhança Segura de Conisbrough, contou ao The Sun que a polícia está criando um esquema de segurança para acompanhar as denúncias e garantir a segurança dos idosos.

Portanto, todo cuidado é pouco e que fique um alerta para aqueles que, eventualmente, possam se interessar pelo serviço.

Referências

EM (2012). Prostitutas oferecem programas com descontos para idosos na Inglaterra. Disponível Aqui. Acesso em 02/10/2012.

UOL (2012). Prostitutas mais velhas de Amsterdã contam segredos em livro. Disponível Aqui. Acesso em 04/12/2012.

VÍDEO (2007). Praça da Luz. Disponível Aqui. Acesso em 30/12/2012.

(*)Luciana H. Mussi é engenheira, psicóloga, mestre em Gerontologia pela PUC-SP e doutoranda em Psicologia também pela PUC-SP. É membro do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE) e faz parte da Equipe Portal.

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