Pesquisas integradas sobre a doença de Alzheimer

Uma das etapas do projeto temático consiste na organização de um banco de dados com centenas de imagens de ressonância magnética do crânio de três grupos de pacientes idosos: o primeiro, com diagnóstico provável de doença de Alzheimer; o segundo, com comprometimento cognitivo leve (considerado um estágio intermediário entre o envelhecimento normal e demências, como a doença de Alzheimer); e o terceiro grupo, com voluntários idosos sem nenhum sintoma de demência.

Hérika Dias *

 

pesquisas-integradas-sobre-a-doenca-de-alzheimerCientistas de diferentes grupos de estudo, mas com interesse comum em viabilizar diagnóstico precoce, testar novos tratamentos e caracterizar a doença de Alzheimer, estão reunidos em um projeto temático em andamento no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Neurociência Aplicada (NAPNA), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O projeto envolve pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e de Ribeirão Preto (FMRP), do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e de Psicologia (IP) da USP. A proposta é utilizar equipamentos de imagem, como ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons (PET), e biomarcadores liquóricos (parâmetros biológicos presentes no liquor, espaços entre as membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal) para estudar a doença de Alzheimer, com a integração de cientistas e da estrutura desses centros de pesquisa da USP.

De acordo com o Ministério da Saúde, a doença de Alzheimer é a principal causa de demência (síndrome resultante do declínio progressivo da capacidade intelectual do indivíduo) no mundo, responsável por 50 a 80% dos casos. A doença afeta a memória, pensamento e comportamento das pessoas, caracteriza-se pela destruição progressiva e irreversível dos neurônios, células do sistema nervoso. Ela não tem tratamento específico nem cura, mas existem intervenções para que os pacientes consigam manter suas funções, por isso a importância do diagnóstico precoce, já que a doença de Alzheimer se inicia muitos anos antes de aparecerem os sintomas.

Uma das etapas do projeto temático do NAPNA consiste na organização de um banco de dados com centenas de imagens de ressonância magnética do crânio de três grupos de pacientes idosos: o primeiro, com diagnóstico provável de doença de Alzheimer; o segundo, com comprometimento cognitivo leve (considerado um estágio intermediário entre o envelhecimento normal e demências, como a doença de Alzheimer); e o terceiro grupo, com voluntários idosos sem nenhum sintoma de demência.

“As imagens de ressonância estão sendo obtidas, concomitantemente, do recrutamento em São Paulo e Ribeirão Preto, por meio da FMUSP e FMRP. Isso amplia a coleta de dados de pacientes que passam pelos mesmos protocolos de avaliação clínica e de ressonância magnética”, explica o professor da FMUSP Geraldo Busatto Filho, integrante do projeto e um dos coordenadores do NAPNA.

Esses dados serão analisados pelos pesquisadores que buscam, por meio das imagens, reconhecer padrões associados à doença de Alzheimer. Busatto conta que parte dos voluntários de São Paulo também terão suas vias visuais analisadas pelo grupo de pesquisa da professora Dora Ventura, do Instituto de Psicologia da USP.

“Uma área ainda pouco explorada sobre a doença de Alzheimer é de alterações visuais associadas a essa demência. Então, após os exames de imagem e avaliações clínicas, os pacientes são convidados a uma avaliação completa psicofísica e fisiológica das vias visuais”, diz o professor.

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O projeto também inclui a investigação de técnicas para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer com a aplicação de tomografia por emissão de pósitrons (PET), uma área da medicina nuclear que possibilita fazer imagens de processos moleculares no cérebro relacionados ao envelhecimento normal ou patológico (como na doença de Alzheimer).

Esse exame permite medir variações nos processos moleculares alterados por uma doença. As mudanças são detectadas eletronicamente com a ajuda de moléculas marcadas por um isótopo radioativo (átomo capaz de emitir algum tipo de radiação).

Segundo Busatto, a equipe liderada por Carlos Alberto Buchpiguel, professor da FMUSP, e por Daniele de Paula Faria, pesquisadora do Centro de Medicina Nuclear da USP, é responsável por implementar, no projeto, um método que usa marcador com isótopo radioativo para identificar locais no cérebro nos quais há acúmulo de fragmentos de peptídeo beta-amilóide.

“Em pacientes com propensão para a doença de Alzheimer, esses fragmentos vão se acumulando fora dos neurônios, sendo essa uma alteração molecular associada à doença. O exame de PET para mapear o acúmulo de peptídeo beta-amilóide pode ser usado como reforço a um diagnóstico de doença de Alzheimer”, explica o professor Busatto.

Biomarcadores

O projeto temático do NAPNA abrange ainda a integração de dados de imagens cerebrais com outros métodos para sinalizar a doença de Alzheimer implementados por Orestes Forlenza e Wagner Gattaz, professores da FMUSP sediados no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. A técnica, usada pelos pesquisadores há vários anos, usa marcadores presentes no liquor (líquido cefalorraquidiano que ocupa os espaços entre as membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal). O liquor possui em sua composição proteínas que podem indicar determinados processos anormais ou doenças que acometem o sistema nervoso central.

Essa sinalização da doença de Alzheimer ocorre com a identificação de diferentes concentrações de três proteínas: a redução do “peptídeo beta-amilóide”, e o aumento da proteína “Tau total” e da “fração fosforilada da proteína Tau – Tau hiperfosforilada”.

“Integrando informações sobre esses dois tipos de marcadores (PET e biomarcadores liquóricos), podemos fazer avaliações comparativas do seu valor diagnóstico, estudando qual é a melhor combinação de medidas para prever, por exemplo, qual caso de comprometimento cognitivo leve pode evoluir para uma demência”, afirma Busatto.

O professor acredita que a coleta de dados com os mesmo protocolos e o compartilhamento dessas informações sobre os pacientes entre os diferentes grupos de pesquisas poderá aprimorar os diagnósticos da doença de Alzheimer e ajudar na caracterização dos transtornos psiquiátricos e neurológicos.

* Hérika Dias ([email protected]) escreve para a Agência Usp de Notícias. Saiba mais Aqui

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