Pesquisa investiga a vaidade e o medo de envelhecer das pessoas

Até que ponto o discurso médico vigente, funcionalista e positivista, associado ao da mídia atual e ao assédio mercadológico, são agentes impactantes na cultura da jovialidade? Esta questão instigava a psicóloga Nádia Loureiro Ferreira – especializada em psicologia hospitalar – há algum tempo. Quando se decidiu pelo mestrado em gerontologia, concluído na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), fez desta inquietação o seu tema de pesquisa. Com um recorte prospectivo, descritivo e qualitativo, a pesquisadora tratou das questões do processo de envelhecimento e da velhice e a aparência da beleza física.

Maria Lígia Mathias Pagenotto

 

pesquisa-investiga-a-vaidade-e-o-medo-de-envelhecer-das-pessoasEntrevistou profissionais que atuam em áreas que tratam da beleza, mas com diferentes formações e enfoques. Um de seus objetivos, com este trabalho, foi avaliar o que significa envelhecer para essas pessoas. Sua dissertação, “Medo da velhice: A relação entre o envelhecer e a demanda pela beleza jovial” foi orientada pela professora doutora Suzana Aparecida da Rocha Medeiros e defendida em setembro de 2010.

Por que decidiu fazer mestrado em gerontologia?

Por ser a população que mais cresce no país, esse tema se mostra muito presente em diversas situações. E há um campo enorme a ser desbravado neste segmento. Antes de fazer o mestrado, atuei com idosos e também ensinei outras pessoas a atuar com este segmento populacional. Nesse processo, vi que há pouco conhecimento específico para a área e decidi, então, buscar mais informação. A escolha pelo mestrado se deu a partir desta demanda.

Como se decidiu pelo seu tema de pesquisa e como foi seu desenvolvimento?

Trabalhei por cinco anos com um cirurgião plástico e sempre me chamou a atenção, a vaidade e o medo de envelhecer das pessoas. Pessoalmente, sempre acreditei que envelhecer era um processo natural, que faz parte da vida, e não uma doença que precisa ser impedida de caminhar ou mesmo ser curada, como tais pacientes viam a velhice. Parti dessas questões para desenvolver minha pesquisa. Foi um trabalho relativamente tranquilo, mas minha maior dificuldade foi evitar análises ou vocabulários muito específicos da psicologia, já que a pós em gerontologia tem um caráter multiprofissional.

Que desdobramentos acha que esta pesquisa teve na prática ou ainda terá?

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Acredito que, em um futuro breve, a população pesquisada (que está na faixa dos 35 a 45 anos e está só engatinhando em direção ao envelhecimento), comece a apresentar outros sinais mais claros e sérios das dificuldades de envelhecer. Hoje o culto à juventude e à beleza é exacerbado. O status dado a esses temas, em um país que envelhece rapidamente, como o Brasil, terá de ser revisto. Será necessário focar numa maior valorização do idoso e do envelhecer e mudar a cultura que hoje é dominante. Espero que nesse momento minha pesquisa possa colaborar, dando subsídios a psicólogos, sociólogos e antropólogos que estudem esse assunto também.

Por algum motivo acha que a sociedade ainda não está preparada para implementar, na prática, o que você discute na pesquisa?

É muito difícil modificar crenças e cultura. Esse é um trabalho árduo e de longa duração. Ainda se acredita que o Brasil é um país de jovens. Continuamos mostrando a beleza e a juventude nas nossas propagandas de turismo, as revistas para adolescentes e jovens continuam a tratar envelhecimento como doença e algumas áreas da medicina também.

O que o mestrado e a pesquisa acrescentaram em sua vida pessoal e profissional?

Constato muitos acréscimos em minha vida pessoal. Adquiri bastante conhecimento na área, me aprofundei nos temas que eu desejava. Mas, por enquanto, em termos profissionais, ainda não senti nenhuma alteração efetiva. Tenho a expectativa de dar aulas e de ter as portas abertas em setores que lidam com as questões do envelhecimento.

Quais os principais desafios que enfrentou durante o desenvolvimento da pesquisa?

Tive algumas dificuldades práticas e burocráticas no meio do percurso. Mas acho que consegui driblar esses problemas e chegar bem à defesa.

Quais são seus próximos passos na vida acadêmica a partir deste mestrado? E na vida profissional?
Estou pensando em continuar estudando, me aprofundando mais. Mas busco também arrumar um emprego na área, para utilizar na prática todo o conhecimento que adquiri.

Sua pesquisa traz uma discussão importante. De que forma acha que ela contribui para a cultura da longevidade?

Acredito que o mais importante é levantar essa necessidade de modificar a visão do envelhecimento que existe hoje, consolidada em nossa sociedade. Alterar a cultura e as crenças atualmente existentes é mais do que urgente. A longevidade é um fato e o envelhecimento precisa ser valorizado, para que no futuro não sejamos um país de velhos com alterações psicológicas sérias, sem condições de enfrentar o envelhecer. Já temos hoje altos índices de depressão, demências e suicídios entre os idosos. O isolamento acarretado por não se aceitar a velhice pode aumentar esses números, trazendo agravamento da saúde mental dos envelhecentes.

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