Os enigmas do envelhecimento e suas enfermidades

Com o aumento da população idosa no país, multiplicam-se os estudos sobre envelhecimento e suas respectivas enfermidades. Pode parecer estranho, mas o envelhecer ainda é um enigma, uma especialidade que merece atenção e novas pesquisas.

 

 

A médica Themis Reverbel da Silveira, uma das pesquisadoras mais reconhecidas no Rio Grande do Sul, em entrevista ao Jornal do Comércio, na matéria de Jessica Gustafson, relata os principais temas nos quais a pesquisa clínica precisa se debruçar atualmente: doenças cardiovasculares, diferentes infecções e o câncer, são os assuntos que, de acordo com ela, merecem mais atenção.

A médica ainda ressalta que os idosos também devem estar na pauta dos pesquisadores, pois são eles os que mais sofrem com as enfermidades e, assim, consomem uma grande parte dos recursos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Jornal do Comércio – Como são escolhidos os temas para a pesquisa clínica?

Themis Reverbel da Silveira – Na pesquisa clínica, o foco é o paciente, seja ele isolado ou inserido em um grupo específico. Atualmente, os grandes temas precisam ser aqueles que possam fornecer subsídios para que a população seja ajudada. Assim, temos que pensar nas prioridades e nos temas que atingem os indivíduos.

JC – Quais são os principais temas nos quais a pesquisa clínica precisa se debruçar?

Themis – Atualmente, são as doenças cardiovasculares, as diferentes infecções e o câncer. Essas são as doenças que mais levam a óbito no Brasil. É importante salientar também sobre a importância do estudo das endemias e doenças emergentes, que até foram definidas pelo governo federal no Pacto pela Saúde, em 2006, como prioritárias. São elas: dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza. Além disso, são citados como foco de atenção o combate ao câncer do colo de útero e de mama, a saúde do idoso e a redução da mortalidade infantil e materna.

JC – Como a questão do idoso poderia vir a ser tratada?

Themis – Esse é um tema ao qual eu sou muito sensível, porque os idosos constituem 12% da população, mas consomem mais de 25% dos recursos de internação hospitalar pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso é extremamente importante, pois o País está envelhecendo muito rápido. Antes, diziam que o que se investia na infância se gastava na velhice, mas na verdade não é bem assim. O sistema de saúde brasileiro, durante muitos anos, foi dirigido para atender à saúde materno-infantil. Assim, o envelhecimento não foi considerado com o rigor que deveria. Os idosos são os que mais apresentam câncer, doença cardiovascular e infecções graves, que são os temas que merecem mais atenção no País. Ainda existe um preconceito grande com os mais velhos e uma carência de profissionais para o cuidado deles.

JC – Quem são os beneficiados com as pesquisas na área da saúde?

Themis – Eu defino quatro grupos beneficiários. Primeiramente, as instituições que promovem a pesquisa, porque elas acabam atendendo melhor os pacientes a partir destes estudos, elevando o padrão de assistência. Outros grupos de beneficiados são os pacientes, os médicos e a indústria. Acredita-se que o Brasil será, em 2015, o sexto país que mais consome fármacos no mundo. A vacina da esquistossomose levou 30 anos para ser feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e só será liberada daqui a alguns anos. Esse é outro exemplo de benefício, porque traz independência para o País na questão da importação de vacinas e de medicamentos de alto custo. Grande parte da verba para tratar pacientes com hepatite viral, tipo B e C, pelo SUS, vai para o medicamento Interferon. Atualmente, a Fiocruz está na segunda fase de sua pesquisa clínica para a produção deste remédio, em parceria com Cuba.

JC – Como a senhora avalia o desenvolvimento da área de pesquisa no Brasil?

Themis – Acredito que o País está indo muito bem na área. Durante oito anos, vivenciei uma experiência bem-sucedida no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, quando foi criado o Centro de Pesquisas. Desde 2002, houve um crescimento exponencial de publicações, de participação de alunos em projetos e de reconhecimento. Em 2010, foram criados no Brasil centros de excelência em instituições de ensino através da Rede Nacional de Pesquisa Clínica. No fundo, o que se quer com esse incentivo é diminuir a desigualdade que existe de produção em determinadas áreas no País. Hoje, já existem 30 centros, divididos em diversas regiões, para distribuir esta oferta de capacitação de profissionais.

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Envelhecimento Celular

Outro estudo em desenvolvimento está descrito na matéria de Samuel Antenor da Agência Fapesp. Nele a pesquisadora espanhola María Blasco, diretora do Centro Nacional de Investigações Oncológicas (CNIO) relata seu trabalho no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra o câncer e busca conhecer detalhes dos mecanismos do envelhecimento celular, que se iniciam após o nascimento, para aplicar o mesmo princípio no controle da doença por meio do impedimento da renovação celular do tumor.

Para isso, ela estuda o papel dos telômeros, que são a parte mais extrema dos cromossomos, responsáveis por manter a integridade e funcionalidade das células, e da telomerase, enzima responsável por manter intactos os telômeros, bem como sua capacidade de adicionar sequências específicas e repetitivas do DNA.

O estudo foi apresentado em Madri durante o “Fronteras de la Ciencia – Brasil y España en los 50 años de la FAPESP”. O simpósio integra as comemorações dos 50 anos da FAPESP e reuniu em Salamanca (10 a 12/12) e em Madri (13 e 14/12) pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa paulistas e de diferentes instituições congêneres do país ibérico.

Segundo Blasco, os genes embrionários, com características que denomina em sua pesquisa como “células onipotentes”, são capazes de reconhecer a presença, nos cromossomos, dos telômeros, responsáveis pela adição de novas sequências celulares, garantindo a renovação celular e, em última instância, a manutenção das próprias espécies.

A telomerase, que se interrompe no momento do nascimento e deixa de se expressar na maior parte dos tecidos, faz com que as células se deteriorem de maneira progressiva, com o simples passar do tempo. Esse comportamento é apontado por Blasco como uma das causas do envelhecimento.

O que ela e sua equipe tentam, agora, é descobrir como esse processo é interrompido, para reproduzir essa interrupção também nas células cancerosas, que, ironicamente, conseguem reativar o mecanismo de renovação da telomerase, tornando-se capazes de renovar constantemente seu conjunto de células tumorais e, consequentemente, manter o desenvolvimento constante da doença.

Blasco explica à Agência FAPESP: “Quando os telômeros perdem sua capacidade de ação ocorre a morte celular. Por contraste, as células do câncer seriam imortais, precisamente, por serem capazes, de maneira aberrante, de reativar a telomerase, o que ocorre na grande maioria dos tumores humanos”.

Segundo a pesquisadora, mais de 95% dos tumores humanos têm que reativar a telomerase para escapar de um “destino de morte”, inerente às células.

A busca dos pesquisadores em Madri está concentrada em uma terapia gênica para o tratamento do câncer, mas deixa entrever uma possibilidade de conhecimento que se amplia para todo o processo de envelhecimento.

“Olhamos para esta questão porque sabemos que, ao medir a ação dos telômeros, poderemos entender como eles atuam no processo de envelhecimento celular em todos os tecidos, incluindo as células-tronco. A ação do câncer visa reativar a telomerase para interromper o processo de envelhecimento do tumor, e é esse mecanismo que pretendemos dominar”, disse Blasco.

Atualmente, a equipe de Blasco desenvolve modelos para medir o efeito da telomerase no organismo e dominar processos que sirvam para aumentar o período de vida saudável, ou seja, tornar as pessoas menos suscetíveis a enfermidades.

“Os genes se encarregam de eliminar as células doentes. Ao dominarmos esse processo, poderíamos aumentar a telomerase e, consequentemente, desenvolver estratégias terapêuticas para aumentar o tempo de vida livre de doenças”, disse.

Referências

GUSTAFSON, J. (2012). Pesquisas clínicas devem dar mais atenção a idosos. Disponível Aqui. Acesso em 18/12/2012.

ANTENOR, S. (2012). Desenvolvimento celular de doenças é objeto de estudo para controle de câncer e de envelhecimento. Disponível Aqui. Acesso em 18/12/2012.

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