Os conselhos de uma psicóloga: como jogar com o tempo

Com a idade, o tempo parece acelerar. Como lutar contra esses sentimentos?
Muriel Flis Treves: Não é o tempo que acelera. Quanto mais envelhecemos, mais temos consciência que o fim se aproxima. É isso que cria a angústia mas é possível pensar a nossa vida de outro jeito. De imaginá-la, por exemplo, como uma viagem: tem aqueles que são obcecados pelo fim e os que não aproveitam de nada e aqueles que, ao contrário, desfrutam ao máximo de cada instante. Na vida, é a mesma coisa: a perspectiva da finitude pode dar consistência ao tempo que nos resta.

Suely Aparecida Tonarque *

 

A imagem pejorativa que nossa sociedade dá às pessoas idosas não melhora nada…
Muriel Flis Treves: De fato, a velhice perdeu o seu brilho. Antes, era sinal de sabedoria, de profundidade, de experiência. Hoje ela esta associada à perda, à destruição e à decadência. Agora ficou quase vergonhoso ser velho e portanto mais difícil viver esta etapa da vida. Entretanto, nada é definitivo. Então o trabalho psicanalítico pode ajudar. No inconsciente reina uma atemporalidade, um tempo não mensurável. Em nossa psique, cada um é capaz de fazer idas e voltas na linha do tempo de cada um. Ir por exemplo procurar as lembranças da infância esquecidas para ligá-las a certos episódios do presente e voltar a confiar em si. Graças a este processo, as pessoas não se sentem mais presos à flecha irreversível do tempo que passa. O ser humano não é definitivo, ele está sempre se transformando e possui a capacidade constante de se refazer.

Assim mesmo, o tempo pesa mais sobre as mulheres do que sobre os homens?
Muriel Flis Treves: As mulheres são naturalmente mais sensíveis à percepção dos anos que passam. Seu tempo biológico é pontuado pela menstruação, depois pela maternidade e enfim pela menopausa. Sempre foi habituada a ser tratada em função da sua idade. Além disso, em nossa sociedade, a feminilidade está associada à beleza, à juventude. A prova: no século XVIII, não era normal o embelezamento para as mulheres idosas, isto é, por volta dos 30 anos.

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Nos dias de hoje, felizmente, elas são consideradas velhas mais tarde…
Muriel Flis Treves: É verdade. Elas o reivindicam. Belas mulheres de 50 ou 60 anos, como as atrizes Demi Moure ou Sharon Stone, exibem-se com prazer. A mensagem que elas transmitem é claramente esta: “Vejam! Não mudei”. A medicina também ajuda a suspender o tempo. Com o congelamento dos óvulos, daqui a pouco, a medicina oferecerá às mulheres que ultrapassaram a idade a perspectiva de maternidade. Isso reforça a ideia que as mulheres podem brincar com o tempo.

A cirurgia plástica é outra ferramenta…
Muriel Flis Treves: Fazer desaparecer suas rugas dá ilusão que se é capaz de apagar os sinais reveladores dos anos acumulados. De fato, começamos a nos sentirmos velhos fisicamente quando não conseguimos mais aceitar os índices que aparecem no nosso corpo. O botox ou as injeções de colágeno são bons meios de trapacear. Isto não é um problema se for decidido de uma maneira lúcida. Há muitos fracassos, porque as expectativas são grandes demais. As pessoas estão persuadidas que um simples corte de bisturi vai transformar suas vidas e fazer com que, por exemplo, encontrem um grande amor…

Nos homens, a angústia da idade se traduz pela síndrome da idade do lobo?
Muriel Flis Treves: No homem, a exigência do desejo faz às vezes irrupção no que se chama a crise da “meia idade”. Quando ele olha seu casamento, sua mulher, ele não encontra mais a sua juventude. Mudar de vida, de parceira, lhe dá ilusão que poderá recomeçar tudo de novo. E quanto mais jovem sua parceira, mais jovem se sentirá, já que ela é o seu espelho. É o narcisismo: ele tira a juventude dele da outra. Sinal dos tempos: cada vez mais, as mulheres gostam também de serem vistas com homens mais jovens.

Nota da Tradutora: “Escolhi a tradução desse assunto por achar interessante que o tema “ficar jovem” é procurado por homens e mulheres, em diferentes classes sociais e em vários países. A busca eterna da juventude é nunca chegar próximo da velhice. “

* Suely Aparecida Tonarque, psicóloga, mestranda em Gerontologia pela PUC-SP, pesquisadora do tema “Envelhecimento e sua relação com o vestir”. E-mail: [email protected]. O texto é da Revista Le Nouvel Observateur – nº 2400 de 4 de novembro 2010. Assunto da Capa – Ficar Jovem.

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