Olavão

Dr. Olavo tinha tudo para ser um autocrata. Tinha poder, tinha recursos, formação – sua educação na infância fora confiada a uma tutora alemã – acumulara sucessos em todos seus empreendimentos, transformara um “tamborete” no segundo maior banco privado brasileiro.

Waldir Bíscaro *

 

No entanto, era uma pessoa aberta ao diálogo, um admirador das artes, um executivo que respeitava seus colaboradores e sabia reconhecer os méritos de seus empregados.

Só vim a conhecê-lo em meados de 1966, quando ingressei no então Banco Federal – Itaú que acabara de incorporar o Banco Sul Americano do Brasil. Fui contratado para implantar um sistema de avaliação de desempenho mais moderno, então. Nos quatro anos em que permaneci no Itaú, testemunhei o quanto doutor Olavo estava à frente de outros empresários, especialmente da área financeira.

Destaco quatro eventos em que estive envolvido e que pude ver de perto a atuação do grande executivo:

1º – A campanha de alavancagem para colocar o banco entre os primeiros do mercado.

2º – O treinamento de administradores de agência.

3º – A abertura do banco para a área do Mercado de Capitais

4º – A formação dos gerentes para se adequarem aos novos desafios no mercado de capitais.

O banco que o Dr. Olavo começou a dirigir chamava-se: Federal de Crédito. Tratava-se de um banco médio e classificado em quinto ou sexto lugar no ranking dos bancos paulistas. Na época, a forma mais direta de crescimento de bancos era através de fusões com outros.

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E foi assim que se deu com o Federal de Crédito. Depois de incorporar dois bancos médios – o Itaú, um banco mineiro e o paulista Sul Americano do Brasil. Olavo fez as contas e constatou que se cada um dos três bancos se mantivesse independente e com o mesmo ritmo de crescimento que vinha tendo, a somatória dos três hipotéticos desenvolvimentos teria sido superior ao que estava constando após a fusão dos três.

Alguma coisa deveria ser feita para que ocorresse sinergia e não entropia, como parecia acontecer.

Qualquer executivo de banco pensaria imediatamente em um processo de competição entre gerentes de agência, premiando aqueles que mais trouxessem novos aportes para suas agências.

Olavo pensou diferente: 1, não haveria competição entre agências e sim com o mercado. 2, todos os funcionários e não apenas os gerentes deveriam se envolver na campanha e poderiam ser premiados.

Para que houvesse competição com o mercado e não entre agencias, estabeleceu-se previamente o potencial mercadológico de cada agencia, isto é, o quanto uma determinada agência poderia crescer dentro de seus limites de atuação. Número de residências, de casas comerciais, de indústrias, de serviços, de depósitos bancários, tudo isso iria compor a base para se calcular o potencial mercadológico de uma agência. Era a cabeça de um engenheiro atuando na área financeira.

Para preparar um plano de campanha, foi formada uma comissão com elementos de diversas áreas, o banco ainda não dispunha de um setor de marketing. Duas áreas, a de “Recursos Humanos” e a de “Organização e Métodos” eram de maior peso nesse processo.

O Gerente de Recursos Humanos esperava que coubesse a ele a coordenação da campanha, mas não foi essa a decisão do Dr. Olavo. O gerente de O&M ficou com a coordenação. Não conformado com a decisão, o gerente de RH comunicou que indicaria alguém de sua equipe para participar da organização da campanha. Fui eu o indicado.

Minha missão foi definida como preparador dos implantadores da campanha junto às agências. Teria de treinar cerca de cinquenta funcionários, todos da administração central. A preparação da campanha durou dois meses de duro trabalho.

Estávamos em meados de 1967 e a campanha seria lançada no final de Julho. Coube ao Dr. Olavo batizar a campanha com um nome que chamaria a atenção, pelo pitoresco: DISPARADA 67, uma clara referência a uma canção que se tornara muito popular no Festival Internacional da Canção de 1966.

Gostaria de ver a cara do Vandré se soubesse que sua canção servira a inspiração para a marca de um evento de marketing bancário.

(Esse tema continua)

* Filósofo e psicólogo, e ex-professor de Psicologia do Trabalho na PUC/SP. E-mail: [email protected]

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