O uso da via subcutânea em Geriatria e Cuidados Paliativos

Tanto em Geriatria quanto em Cuidados Paliativos, é frequente que o paciente, em algum momento do curso da doença, não tenha condições de receber pela via oral medicamentos importantes para controle de sintomas. A via subcutânea é uma via útil e segura para permitir que o conforto do paciente seja mantido. Uma punção de subcutâneo pode ser feita, com técnica adequada, em menos de um minuto. Ainda assim, essa via não é difundida e existe um preconceito com relação ao seu uso que, em minha opinião, não tem justificativa.

Redação ANCP *

 

o-uso-da-via-subcutanea-em-geriatria-e-cuidados-paliativosDaniel Lima Azevedo formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e tem especialização em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, e em Medicina Paliativa pela Associação Médica Brasileira. Daniel foi o organizador do Guia “O uso da via subcutânea em geriatria e cuidados paliativos”, com apoio da SBGG e da ANCP. A formulação do material contou com a participação de cerca de 30 profissionais brasileiros a partir do encontro no Congresso da European Association for Paliative Care, em 2015, em Copenhagen.

Confira a seguir a entrevista com o organizador Daniel Lima Azevedo.

Como surgiu a ideia para o guia?

Em maio de 2015, um pequeno grupo de profissionais brasileiros encontrou-se no congresso da European Association for Palliative Care [Associação Europeia de Cuidados Paliativos], em Copenhagen. Criamos um grupo de WhatsApp que resolvemos manter, após o término do evento, para discussão de casos. Pouco depois, começamos a debater o acesso subcutâneo e sugeri escrevermos um guia para aproximar as práticas dos serviços de Cuidados Paliativos no Brasil.

Como foi o processo de elaboração da publicação?

Reunimos os profissionais interessados em participar do projeto. Ao todo, eram cerca de 30 pessoas de diversos estados, incluindo enfermeiros, farmacêuticos e médicos – com presença expressiva dos geriatras. Vários serviços de renome estavam representados. Coordenar um grupo tão seleto de colaboradores foi uma tarefa intensa e a redação levou alguns meses, com troca de centenas de e-mails e múltiplas revisões. Eu não imaginava a dimensão desse trabalho! Ao mesmo tempo, a participação de vários autores permitiu uma exploração detalhada do tema, partindo do histórico da via subcutânea, com o detalhamento das técnicas de punção e até um protocolo de treinamento para implantação da punção como nova rotina em serviços.

Qual a importância do uso da via subcutânea?

Tanto em Geriatria quanto em Cuidados Paliativos, é frequente que o paciente, em algum momento do curso da doença, não tenha condições de receber pela via oral medicamentos importantes para controle de sintomas. A via subcutânea é uma via útil e segura para permitir que o conforto do paciente seja mantido. Uma punção de subcutâneo pode ser feita, com técnica adequada, em menos de um minuto. Ainda assim, essa via não é difundida e existe um preconceito com relação ao seu uso que, em minha opinião, não tem justificativa.

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Qual o motivo desse preconceito?

Penso que o principal motivo seja o fato de que não se ensina essa via na graduação tradicional. Os profissionais desconhecem o acesso e apresentam uma resistência inicial ao seu uso. No entanto, depois que se familiarizam, percebem o quanto é prático recorrer ao subcutâneo ao invés de investir um tempo longo em múltiplas tentativas de punção venosa. O preconceito precisa acabar, até para que o uso da via subcutânea se difunda para além da Geriatria e dos Cuidados Paliativos. Uma das nossas preocupações foi reunir referências relevantes que servissem de respaldo para a publicação – e conseguimos destacar mais de cem, que enumeramos na extensa bibliografia. Agora, ninguém mais vai poder dizer, como já ouvi em um hospital, que esse acesso é “uma invenção que não existe na literatura”. Existe, e muito!

Há alguma restrição para os medicamentos que podem ser feitos?

O guia inclui uma tabela com os principais medicamentos que podem ser administrados pelo subcutâneo, conforme as referências mais atuais. Alguns deles são surpreendentes, como meropenem. Nossa intenção é aprimorar a tabela nas edições futuras para que a publicação permaneça relevante.

O guia destina-se a qual público?

Membros da equipe multidisciplinar que atendam pacientes idosos ou com indicação de abordagem paliativa, em qualquer ambiente de cuidado, desde o domicílio até instituições de longa permanência ou unidades de terapia intensiva. Penso que seja útil, sobretudo, para enfermeiros e médicos. Acredito que as dúvidas habituais dos profissionais serão respondidas por meio da leitura do guia. Foram essas mesmas dúvidas que nos motivaram a estudar o assunto e a elaborar o guia.

Como ter acesso ao guia?

Ele será disponibilizado em pdf, de forma gratuita, no site da SBGG, na seção “Publicações Científicas / Guias”, onde é possível encontrar outros materiais elaborados pela nossa Comissão, como a cartilha “Vamos Falar de Cuidados Paliativos”. O guia também está no site da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Temos, ainda, uma versão específica para impressão. Interessados em receber essa versão devem solicitar autorização à SBGG, que pretende autorizar a impressão, desde que o conteúdo seja mantido. Nossa intenção é que esse material se difunda rápido para atingir o maior público possível.

Alguma palavra final?

Gostaria de destacar a importância da colaboração de todos os autores citados no guia. O trabalho não teria sido possível sem a dedicação deles. Além disso, agradeço o incentivo da diretoria da SBGG e da ANCP, que vêm sendo parceiras na divulgação de informações de qualidade e no aprimoramento profissional de seus associados. Com essa publicação, despeço-me da presidência da Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da SBGG, que passa em breve às mãos da Dra. Laiane Moraes Dias, geriatra do Pará com certificação em Medicina Paliativa. Estamos juntos há 4 anos e tenho a convicção de que ela fará um trabalho primoroso.

Leia o guia na íntegra clicando aqui

* ANCP – Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Site Acesse Aqui

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