O toque e sua importância na evolução positiva do paciente com Alzheimer foi tema de pesquisa

O fisioterapeuta Rafael Fortes foi sensibilizado para trilhar o caminho da gerontologia quando morou em Portugal, em 2006. Foi lá que, assistindo a algumas aulas de um curso de especialização na área, percebeu que seria possível unir conhecimentos da sua formação principal com as questões do envelhecimento.

Maria Lígia Mathias Pagenotto

 

Com um olhar voltado para as necessidades de pacientes com Alzheimer e seus cuidadores, Rafael aprofundou-se, em sua dissertação de mestrado, justamente em pesquisar a importância do toque na evolução positiva de uma pessoa com Alzheimer.

Ele percebeu que, muitas vezes, diante de um quadro de demência, familiares e cuidadores se ressentem de informações especializadas, que lhes deem suporte para superar obstáculos. Se as pessoas ao redor do paciente têm melhor qualidade de vida e enfrentam melhor seu dia-a-dia, o portador do problema também tende a ter uma evolução melhor.

Em seu estudo, Rafael partiu de um estudo qualitativo, valendo-se, como metodologia, da observação participante. Outras ferramentas de pesquisa foram o inventário de sobrecarga do cuidador, a avaliação fisioterapêutica do paciente e um diário de campo.

“Durante três meses, três sujeitos com doença de Alzheimer em estágio avançado, foram submetidos a um programa de fisioterapia terapêutica. As sessões foram acompanhadas pelo cuidador familiar, que foi devidamente orientado”, explica Rafael sobre seu estudo.

Foi com este olhar que Rafael Fortes defendeu seu mestrado em junho de 2011, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Sua pesquisa, intitulada “Toque Fisiogerontológico na Doença de Alzheimer e a redução da apatia”, teve como orientadora a professora doutora Ursula M. Karsch.

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Conheça aqui o trabalho do fisioterapeuta Rafael Fortes.

Por que decidiu fazer mestrado em gerontologia?
Após minha graduação, fui morar em Portugal (2006), onde por acaso tive contato com um curso de especialização em Gerontologia Social. Fui ouvinte de algumas disciplinas deste curso, o que, de certa maneira, abriu meus olhos quanto à minha atuação profissional como fisioterapeuta. Percebi que a Gerontologia como ciência poderia servir de “pano de fundo” para a fisioterapia. A questão do cuidado ao idoso sempre esteve presente na minha vida, já que tive uma avó que foi portadora da Doença de Alzheimer por 12 anos.

Como definiu seu tema de pesquisa?
Logo que voltei de Portugal, comecei a fazer atendimentos domiciliares e, por incrível que pareça, meus primeiros pacientes foram sujeitos com Alzheimer. Desde então, venho percebendo as melhorias no comportamento do paciente, aplicando uma abordagem diferenciada, que envolve adaptações no ambiente e orientações aos principais cuidadores e familiares.

Quais os principais desafios que enfrentou durante o desenvolvimento do trabalho?
Tive certa dificuldade de passar a observação para um diário de campo e depois inserir este texto dentro de normas acadêmicas.

Que desdobramentos esta pesquisa teve na prática?
Passei a pensar a fisioterapia dentro de uma nova abordagem, denominada de fisiogerontologia. Aqui, o idoso demenciado encontra o seu lugar e é compreendido em toda sua complexidade. Creio que consegui mostrar a necessidade de uma nova abordagem fisioterapêutica, visando melhora das alterações comportamentais na doença de Alzheimer em fase avançada.

Como avalia a repercussão de sua pesquisa na sociedade? De que forma acha que seu trabalho contribui para uma cultura da longevidade?
Na minha opinião, a falta de orientação aos familiares de sujeitos com doença de Alzheimer é ponto chave para o pior prognóstico do doente. Ou seja, influi na evolução negativa da doença. Mas, com orientações diretas e objetivas, pode-se novamente inserir o doente no convívio social familiar, diminuindo a sobrecarga de cuidadores. Sendo assim, os novos dispositivos clínicos utilizados na pesquisa preconizam uma maior longevidade do doente, bem como do cuidador, que passa a ter uma melhor qualidade de vida.

O que o mestrado e a pesquisa acrescentaram em sua vida pessoal e profissional?
O olhar de quem estuda Gerontologia se amplia, torna-se mais abrangente. As subjetividades envolvidas no processo de envelhecimento ficam mais evidentes. Esta questão tem me auxiliado muito no planejamento da minha vida pessoal. Além disso, como professor, posso passar esse olhar para jovens que se formarão em breve e atuarão diretamente na reabilitação de pessoas idosas.

Quais foram os passos seguintes ao mestrado em sua vida acadêmica? E na vida profissional?
Logo após a defesa, surgiu a oportunidade de transformar a minha dissertação em um livro, o qual será publicado em novembro de 2011. Quanto a vida profissional, tive a sorte de, apenas um mês de concluído o mestrado, ser chamado para docência no Estado de Rondônia. O título de mestre era o que me faltava.

O que diria para quem está começando a estudar na área?
É uma área promissora e de grandes desafios, visto que a população brasileira está envelhecendo de maneira muito veloz. Há campo para diversos profissionais que atuam no processo de envelhecimento, levando-se em consideração a questão da interdisciplinaridade.

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