O segredo para a longevidade

O segredo para a longevidade

A importância das interações para ser longevo. Construir interações com pessoas em nossas cidades, nosso trabalho, nossos trajetos, assim reforçamos nosso sistema imunológico, inundamos nosso cérebro e sangue de hormônios que causam o bem-estar e nos ajudam a viver mais. Construir essas interações é literalmente uma questão de vida ou morte.

 

Mais um Ted Talk, e mais um tema de interesse. O vídeo recentemente publicado foi filmado em abril deste ano e seu tópico é o segredo para se viver mais anos, quem promete revelá-lo é Susan Pinker, psicóloga e escritora famosa que teve muitas de suas ideias veiculadas em importantes mídias como New York Times, The Wall Street Journal e The Economist.

E o que Susan Pinker tem a dizer? Em primeiro lugar que em todos os lugares do mundo desenvolvido as mulheres vivem em média seis a oito anos mais que os homens, além disso os homens de países ricos têm duas vezes mais chances de morrer do que as mulheres em qualquer idade.

Mas existe um lugar no mundo que é exceção à regra, um lugar onde a superlongevidade é comum tanto para mulheres como para homens. Esse lugar fica na Sardenha, uma ilha italiana, nessa ilha há seis vezes mais centenários que no continente italiano que fica há poucos quilômetros de distância, e quando comparada a América do Morte possui 10 vezes mais centenários.

Agora, por que nesse lugar os homens vivem tanto quanto as mulheres e ambos vivem muito? Susan Pinker foi até lá descobrir o motivo. O primeiro passo foi ver o perfil genético, ela descobriu que os genes eram responsáveis por apenas 25% da longevidade do local, os outros 75% estavam conectados ao estilo de vida.

Resta a pergunta: qual é esse estilo de vida? A arquitetura nos fornece uma pista, a vista aérea da região mostra um local de grande densidade, casas muito próximas e alamedas e ruas que se entrelaçam. Esse tipo de urbanização garante que a vida dos moradores se cruzem constantemente.

A defesa e a coesão social foram fundamentais para a sobrevivência dessa região, a vila antiga precisou dessa estrutura para se manter em pé. Mas as prioridades urbanas mudaram com o tempo e hoje o isolamento social se tornou um problema de saúde pública. Atualmente um terço da população afirma que só possui duas ou três pessoas com quem contar.

Em Villa Grande, na Sardenha, onde moram vários supercentenários, o cenário é o oposto. Susan Pinker, então, foi entrevistar alguns desses cidadãos, se por um lado Giuseppe Murinu se mostrou extremamente tranquilo e otimista, a entrevista com Giovanni Corrias comprovou, para a felicidade de muitos, que ser otimista e ter pensamentos positivos não são segredos para a longevidade, afinal ao perguntar para Giovanni o porquê de sua longevidade ele apenas resmungou “Ninguém precisa saber meus segredos”.

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Giovanni e Giuseppe não compartilhavam da mesma atitude ao se relacionar com estranhos como Susan Pinker, mas a pesquisadora notou que eles assim como outros entrevistados compartilhavam outra coisa. Esses supercentenários estavam sempre cercados por pessoas, familiares, amigos, vizinhos, pelo padre, pelo dono do mercadinho e por aí vai.

E assim pensamos em nós mesmos, como postergar a data de nossa morte? Julianne Holt-Lunstad, pesquisadora da Universidade de Brigham Young abordou essa questão em uma série de estudos. Ela selecionou aspectos relacionados ao estilo de vida de inúmeras pessoas: se fumavam, bebiam, faziam exercícios, eram casados ou solteiros, dieta, frequência com que iam ao médico. Ela anotou os dados de uma série de pessoas da meia idade e esperou sete anos para revisitar os sujeitos e então mapear entre as pessoas que restaram o que mais reduziu as chances de morte, e eis o resultado:

E o que esses dados mostram? Indo do indicador mais fraco para o mais forte. O ar puro, que é ótimo, não prediz quanto tempo vamos viver, ter a hipertensão sob controle também é bom mas ainda é um indicador fraco, assim como o quanto você pesa, seja magro ou gordo, seu peso está apenas em terceiro lugar. Exercício é um indicador moderado assim como recuperação de um problema cardíaco e também tomar vacina da gripe. Sim, tomar vacina da gripe te protege mais do que fazer exercício.

Os indicadores começam a ficar mais fortes, parar de beber e parar de fumar aumentam sua expectativa de vida, mas não tanto quanto os dois primeiros itens, duas características da vida social. Em segundo lugar vem as relações mais próximas, são as pessoas que pedimos dinheiro emprestado, que nos levam no hospital se precisarmos e que estarão conosco em momentos de crises existências, a existência dessas pessoas é um forte indicador de quão longevos seremos. E por fim, em primeiro lugar nos indicadores está a interação social, ela se refere ao quanto interagimos durante o dia, com quantas pessoas conversamos, podem ser laços fracos ou fortes, seu melhor amigo ou o porteiro, o cobrador do ônibus, o garçom daquele restaurante que sempre frequentamos.

No mundo cada vez mais digital que vivemos e sabendo que as interações sociais são os maiores indicadores de longevidade é necessário se perguntar se o cara a cara e o virtual são equivalentes. A resposta curta é não, a conexão do olhar, ou o “toca aqui” é suficiente para liberar oxitocina, o contato pessoal libera uma série de neurotransmissores que a internet não consegue proporcionar. Mas, ainda cabe aqui a ressalva de que a tecnologia está constantemente evoluindo com ferramentas como Facetime e Skype que tornam a interação cada vez mais próxima do que seria caso fosse presencial.

Por fim, voltamos a questão de o porquê mulheres viverem mais do que homens, ao que tudo indica elas priorizam relacionamentos cara a cara ao longo da vida. O poder do contato cara a cara é real, é a razão de porquê há menores índices de demência entre pessoas sociáveis, essas pessoas criam um escudo biológico contra doenças e o declínio no geral e isso ocorre não só em humanos. O antropólogo Joan Silk mostrou que fêmeas de babuínos que possuíam pelo menos 3 relacionamentos estáveis, um grupo de amigas, apresentavam menos estresse (por meio de seus níveis de cortisol) além de viverem mais.

Susan Pinker termina seu Ted Talk reforçando a importância das interações, esse é seu recado para ser longevo. Construir interações com pessoas em nossas cidades, nosso trabalho, nossos trajetos, assim reforçamos nosso sistema imunológico, inundamos nosso cérebro e sangue de hormônios que causam o bem-estar e nos ajudam a viver mais. Construir essas interações é literalmente uma questão de vida ou morte.

 

 

 

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