O Genoma dos Supercentenários: O Que nos Faz Mais Longevos que Outros?

Viver mais e bem parece ser o grande desafio de cientistas e toda aquela turma que nem pode imaginar que, a qualquer hora, um certo trem passa e, quase inesperadamente, acabou. Sendo assim, vamos ao entendimento pelo caminho da ciência do que sejam os fatores que nos levam a ser mais longevos que outros, através de uma das maiores geneticistas do país, Mariana Zatz.

 

É sabido e altamente veiculado pela mídia em geral que o envelhecimento saudável é regulado por fatores genéticos e ambientais, como uma alimentação saudável, prática de exercícios, sono regular, entre outros. Para Zatz, o que ainda nos falta é descobrir quais são os fatores genéticos que explicam porque algumas pessoas conseguem chegar aos 100 anos com saúde enquanto outros já mostram sinais evidentes de envelhecimento aos 60.

Será que estar de bem com a vida poderia ser determinante para um envelhecer saudável? Coincidência ou não, o que se vê é que pessoas que conseguem enfrentar melhor as vicissitudes da vida são aquelas com um acerto “agrupamento de recursos internos” que as faz mais corajosas, determinadas e preparadas para o inevitável. Não quer dizer que elas não sofram como todas as outras, mas o posicionamento diante das questões aparentemente sem solução se mostra, normalmente, bastante diferente.

Mas para tentar desvendar esse segredo, Zatz traz o resultado do estudo de pesquisadores de Boston liderados por Paola Sebastiani e Thomas Perl que sequenciaram o genoma de um homem e de uma mulher que passaram de 114 anos. São os supercentenários (pessoas que passam dos 110 anos) considerados casos muito raros. Estima-se que ocorra um caso em cada 5 milhões de habitantes. Qual é o segredo de seus genomas?

Dos 80 aos 100 ou mais anos
Mayana Zatz assinala que, para chegar-se saudável aos 80 anos, a genética tem pouca influência, talvez 20 a 25%. O estilo de vida é muito mais importante. Mas para passar dos 100, ocorre o contrário. Estudos de centenários sugerem que os genes parecem ter papel fundamental na longevidade. Entretanto, pouco se sabe a respeito desses genes: quais são e o que fazem. Descobrir seus segredos é de grande interesse porque a maioria de nós não possui os genes “supercentenários”.

Portanto, chegar aos 80 anos, por exemplo, têm mais a ver com um eficiente processo de vida do que, propriamente com genética. E com isso, pensa-se no envelhecimento desde o nascimento, como degraus de uma escada que devem ser trilhados um a um. É como a construção de edifício, se a base não for suficientemente forte, os demais andares se fazem frágeis ao longo dos anos até o desgaste produzido pelas mazelas de um tempo mal vivido. Não se chega aos 80 de repente, num passe de mágica. Tudo é resultado de muito trabalho.

O que foi observado nos dois “supercentenários”?

Segundo Mayana Zatz, de acordo com os pesquisadores o homem manteve-se saudável tanto física como intelectualmente até os 114 anos enquanto a mulher passou a ter um leve declínio cognitivo, mas só após os 108. Nada mau, não? O homem tinha história familiar de parentes bem longevos. Essa informação não foi conseguida no caso da mulher, mas sabe-se que ela tem descendentes que já estão na faixa dos 90 anos e saudáveis. Também serão incluídos no estudo.

Quando se constata a possibilidade concreta de se viver tantos anos chega a ser algo assustador. Conseguimos mais tempo se fizermos parte deste grupo seleto de supercentenários, mas e daí? E todos os outros “não supercentenários”, pessoas amigas, queridas e amadas; como lidar com essas perdas? Vive-se mais, mas por outro lado enfrenta-se um luto diário, quase constante.

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O que mostrou o estudo de seus genomas?

Surpreendentemente, a análise dos genes de risco para doenças como câncer, Alzheimer ou cardiopatias não mostrou diferenças em relação aos genomas comuns. Foram encontrados vários genes supostamente de “risco” nos dois. O homem tinha 37 genes que aumentam o risco para câncer de intestino e realmente ele desenvolveu um câncer de colón intestinal que foi removido quando ele tinha 70 anos, sem maiores consequências.

Diante deste resultado, chegamos naquilo que a ciência, talvez, nunca consiga explicar: o poder de uma força interior misteriosa que encontra caminhos de cura inimagináveis.

Como explicar então essa longevidade excepcional?

Zatz cita que a hipótese levantada pelos pesquisadores para explicar como manter-se saudável após um século de vida seria a presença de genes raros “protetores” e que seriam suficientes para anular os efeitos dos genes de risco. Para comprovar essa hipótese será necessário analisar um número maior de indivíduos supercentenários e tentar compreender como esses genes “protetores” atuam. A esperança é que, se conseguirmos descobrir o que eles fazem, talvez seja possível transformar um genoma comum, presente na maioria de nós, em um genoma “supercentenário”. Uma pesquisa que interessa a todos nós.

De fato, interessa, mas não para se viver como um caso raro de longevidade. Transformar um genoma comum em um supercentenário não seria caminhar na contramão daquilo que somos? Dúvidas, elas se inquietam com alguns avanços científicos que parecem desmedidos e desnecessários. O tempo deve responder…

E para contribuir com essa pesquisa, Zatz explica que “O centro do Genoma Humano está realizando um projeto de análise do DNA e ressonância magnética de pessoas que se mantém saudáveis após os 80 anos. Será que alguns deles têm os genes protetores dos supercentenários? Se você for um deles ou conhecer pessoas com essas características que queiram participar do estudo por favor entre em contato conosco. E é claro que, quanto mais idoso, melhor. O email de contato é: [email protected].”

Referências

ZATZ, M. (2012). O genoma dos supercentenários: o que eles têm de especial. Disponível Aqui. Acesso em 02/02/2012.

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