O envelhecer: ausente no diálogo familiar e profissional

O envelhecer: ausente no diálogo familiar e profissional

O envelhecer não faz parte da educação escolar, tampouco dos diálogos familiares e muito menos nos assuntos que envolvem os profissionais, inclusive daqueles que atuam com a população idosa.

por Denise Thiago dos Reis (*)

 

É fato que não aprendemos nas escolas como envelhecer, ou como cuidar de uma pessoa idosa, restando apenas uma relação de gratidão e/ou amor e afeto por alguém que nos cuidou ao nascer ou no decorrer da vida. Mas nem sempre é isso o que acontece.

Simplesmente em nossos diálogos familiares não é costume falar de envelhecimento ou morte. Ignoramos como se esse dia jamais chegasse.

Utilizamos a nossa massa corporal diariamente, ou seja, gastamos o nosso corpo; apresentamos perdas. Com isso envelhecemos todos os dias gradativamente. Nesse sentido, utilizamos o termo velho porque o corpo de fato envelhece, não sendo pejorativo dizer que esta ou aquela pessoa é velha, utilizando-se a referência do corpo e não a sua capacidade intelectual.

Para os mais jovens os velhos são quase que invisíveis ou passíveis de dó, onde se utilizam termos na linguagem diminutiva como coitadinho, velhinho, vovozinho ou, ao contrário, utilizam termos pejorativos como bruxa velha, velho gagá, velho ranzinza, velho babão, velho tarado, embora muitas vezes, nesse último caso algumas medicações alteram o fator biológico afetando a sexualidade da pessoa idosa e causando excitações.

No que tange a tais fatores biológicos existem algumas síndromes geriátricas apontadas como fragilidades, embora a fragilidade seja condição humana. Na fragilidade e na funcionalidade, uma tem relação direta com a outra, pois a velhice está ligada a autonomia, capacidade de tomar decisões e a dependência também, capacidade de fazer atividades do dia-a-dia e não realizá-las, bem como a funcionalidade, o ato de fazer diversas atividades ou atos que executamos sem pensar na sua complexidade.

Entendemos que nossas funções vão sendo alteradas na medida em que envelhecemos e que a dependência é condição humana. O problema maior é sermos incapazes funcionalmente. Em algum momento, dependemos de algo, ex. os óculos, que nesse caso é funcional para enxergarmos melhor. Não há problema algum em sermos dependentes. Temos pessoas envelhecendo de todas as formas, por isso é importante levar em consideração as boas práticas de saúde como, por exemplo, realizar exercícios físicos para manter a massa muscular, ter boa alimentação evitando gorduras, açúcar, álcool, sal, ter boa qualidade de sono, manter bons relacionamentos, inclusive intergeracionais, mantendo a mente atualizada, continuar estimulando o cérebro através de leituras, dando continuidade às formações uma vez que as pesquisas e avanços tecnológicos estão cada vez mais acelerados.

Devemos no atualizar e estarmos ao par do que acontece no contexto contemporâneo para não ficarmos tão distantes da sociedade e poder, assim, continuar interagindo com os demais. Vivemos em grupo, não vivemos sozinhos ou isolados em nosso corpo, por isso precisamos de contato, troca de corpos, ou seja, o corpo necessita de contato. Existe uma dependência, esta é condição inerente ao ser humano. Precisamos das relações e do amparo do outro.

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Diante disso, necessitamos da nossa família e/ou da nossa rede de relações que fizemos no decorrer das nossas vidas para que haja um cuidado até a finitude. A história da nossa família vai ser reescrita todo o tempo e ressignificada.

Como profissionais temos que ser facilitadores e pensadores desse processo do “Ser idoso”, onde as pessoas não se veem como idosos. Precisamos pensar na diversidade da velhice, como os idosos gays. Repensar políticas que atendam plenamente esse público para que estes não recuem em suas escolhas, pois tais atitudes vão interferir no seu bem estar.

Como profissionais temos que referendar as políticas públicas existentes e fazer valê-las, compreendê-las e pô-las em prática.

Temos que validar os estudos e escritos realizados por profissionais e estudiosos que se empenharam através de pesquisas e literaturas, a fim de que o segmento idoso possa ter um envelhecimento ativo, saudável e que as pessoas possam ter uma visão voltada para as fragilidades na velhice.

Lutar pela defesa dos direitos dos idosos e pelas conquistas de direitos que lhe garantem um salário para a sua sobrevivência. Lutar pela manutenção dos espaços de convivência para que os idosos possam desenvolver a sua autonomia e sociabilidade; fortalecer os vínculos familiares e comunitários e prevenir situações de risco social.

Fazer com que a população lute por uma política responsável como adequação de calçadas, respeito no transporte para que tenham veículos adequados para mobilidade reduzida, como degraus de acordo com a sua necessidade.

Realizar campanhas para que os profissionais que lidam diretamente com o público possam compreender as diversas limitações do corpo que envelhece, como visão, audição, dificuldade na fala, na marcha lenta, etc.

Elaborar campanhas junto às empresas e Ongs onde possam esclarecer a necessidade do preparo do idoso para a aposentadoria. E esclarecer aos familiares a necessidade do idoso ser ouvido, apontando que o mesmo tem direito a escolhas e que sua vontade deve ser sempre respeitada.

 

(*) Denise Thiago dos ReisGraduada em Serviço Social, com experiência em Políticas Públicas na área da Assistência Social. Atualmente é Gerente de Serviço do Núcleo de Convivência de Idosos, através da Secretaria Municipal da Assistência Social da Prefeitura do Município de São Paulo. Texto apresentado no cursoFragilidade na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento ofertado pela PUC-SP no segundo semestre de 2017. E-mail: [email protected]

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