Natal, Pandemia e Alzheimer: como conciliar tudo?

Quanto mais repetirmos aos idosos com Doença de Alzheimer sobre o porquê deste distanciamento físico e quanto mais minimizarmos seus impactos, menos ele se sentirá abandonado.


Este ano foi de muitas aprendizagens, mudanças e adaptações em função da pandemia do Covid-19. As festas de final de ano manterão este clima! Diferente de todos os outros anos, teremos que passar sem beijos, abraços e muitas tradições natalinas. Como será enfrentar essa época? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o mais seguro este ano seria não ter as tradicionais festas, reunindo os familiares e amigos, mas celebrar apenas entre as pessoas que residem na mesma casa. Sabemos que isso nem sempre será possível.

Vamos pensar especialmente nos idosos ou casais que residem sozinhos, se permanecerem apenas eles nesta festa tão tradicionalmente familiar após um ano com meses de isolamento podemos agravar ou trazer problemas à saúde mental, que deve ser preservada tanto quanto a saúde física. Quando pensarmos em idosos com quadros demenciais, como a Doença de Alzheimer, isso torna-se ainda mais preocupante, pois eles simplesmente podem não recordar do momento que estamos vivendo e se sentirem abandonados!

O que fazer então?

Pensando na sociedade em geral, a Fiocruz lançou um material especial com orientações para as festas de final de ano, no qual, dentre outras recomendações está em manter a máscara sempre que não estiver comendo ou bebendo e receber apenas o número de pessoas que comporte no local considerando o distanciamento de 2 metros entre os participantes.

No entanto, quando se trata de um idoso com Alzheimer em casa, há muitas outras questões em jogo. Frequentemente os idosos com diagnóstico de demência que atendo têm esquecido sobre a pandemia, questionado os protocolos de segurança como máscara, avental, entre outros. Encontrar os familiares desta maneira será muito confuso, além das questões habituais que essas festividades sempre trazem.

Recentemente uma cliente queixou-se comigo de que a filha havia montado a árvore de Natal da casa, sem ela, enquanto ela dormia! As mudanças na decoração da casa devem ser graduais, para não confundir ou causar incômodo ao idoso, preferencialmente, ele deve participar deste momento, manifestando sua opinião, desejos e sendo ativo nas decisões da casa.

Em todos os anos, costumamos recomendar aos familiares de idosos com Doença de Alzheimer não realizarem uma festa com muitos convidados e nem modificarem demasiadamente a rotina do idoso. Neste ano, esta recomendação se faz mais necessária, à medida que quanto maior o número de participantes, maior o risco a que estaremos expondo nosso ente querido. Os meses de distanciamento físico diminuíram o hábito de casa cheia e rotina modificada, então, se possível, dar a refeição dele no horário habitual, antes dos demais, diminuindo a exposição aos riscos e as possíveis confusões mentais que advém da alteração na rotina.

Recomenda-se também que a festa tenha uma duração menor, o que exigirá flexibilidade e planejamento das famílias sobre qual o melhor horário para começar e terminar. O momento da troca de presentes deve ser realizado sem muita aglomeração e sem contato. Recomenda-se o uso do álcool gel ou lavar as mãos antes de pegar nos pacotes.

Por falar em presentes, uma outra cliente estava inconformada por não poder sair e escolher os presentes de Natal para seus filhos e netos como realiza todos os anos. Ajude seu familiar nesta tarefa realizando juntos compras online, ou por WhatsApp.  É importante ele manter esta atividade, tão simbólica e cheia de afeto, mas com todos os cuidados com sua saúde.

A preocupação com os cuidados pessoais também tem aparecido entre os questionamentos. Recomenda-se ir ao salão em momentos de baixo movimento ou preferencialmente realizar os cuidados com cabelos e unhas em casa, mas permitindo ao idoso cuidar de sua aparência se isso for algo que pode afetar demais seu humor e autoestima.

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Alguns familiares têm nos questionado sobre o risco de encomendar a ceia, esta é uma decisão individual, mas uma sugestão é aproveitar este momento e unir-se ao seu familiar com Doença de Alzheimer para preparar pratos tradicionais que, além de possibilitar rememorar muitas histórias de família, certamente podem formar novas lembranças.

Todas as atividades acima podem e devem ser realizadas com muita música! As músicas de final de ano são inesquecíveis, comece a cantar ou tocar e logo seu familiar participará!

A distância não será motivo para o isolamento, assim como fizemos ao longo do ano, os familiares que não puderem estar presentes fisicamente, podem e devem participar das celebrações pelas plataformas digitais. Quanto mais repetirmos aos idosos com Doença de Alzheimer sobre o porquê deste distanciamento físico e quanto mais minimizarmos seus impactos, menos ele se sentirá abandonado. Recentemente um idoso queixou-se de que o filho que não reside com ele o abandonou, nunca mais o visitou, mas ele esquece que o filho que também é idoso e está preocupado com a pandemia, preferiu manter-se em isolamento em um sítio fora da cidade, por isso que há meses não o visita, embora realize chamadas por vídeo frequentemente.

Aos presentes, manter a máscara será importante também como um sinalizador para o idoso com Doença de Alzheimer de que não é possível aproximar-se, muito menos beijar ou abraçar! Tal recomendação se estende às crianças. Se o idoso conseguir permanecer de máscara será ainda mais seguro!

Em resumo, não teremos como garantir uma confraternização 100% segura, mas podemos minimizar os impactos destas mudanças na saúde mental e nas confusões que no idoso com demência podem trazer. Na torcida para que as perspectivas de imunizações possam nos devolver o essencial, bruscamente tirado neste ano!

Desejo a todos um Feliz Natal e um 2021 cheio de saúde e esperança!

Referências
FIOCRUZ. Covid-19: preservar a vida é o melhor presente neste fim de ano. Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/sites/agencia.fiocruz.br/files/u35/_cartilha_cuidados_final-de-ano_2020-12-15.pdf


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Fabiana Satiro de Souza

Pedagoga, especialista em Gerontologia pela Unifesp com titulação e associação pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP, especialista em Neuropsicologia pelo HC/FMUSP. Sócia na empresa 50Mais Ativo, Coordenadora do Grupo de Apoio de Perdizes da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz-SP), atua há mais de 15 anos na área de estimulação cognitiva e assessoria em atendimento domiciliar, auxiliando frente ao declínio cognitivo e às dificuldades enfrentadas pela família e cuidadores no dia a dia. Site: www.50maisativo.com.br. E-mail: [email protected]

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Pedagoga, especialista em Gerontologia pela Unifesp com titulação e associação pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP, especialista em Neuropsicologia pelo HC/FMUSP. Sócia na empresa 50Mais Ativo, Coordenadora do Grupo de Apoio de Perdizes da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz-SP), atua há mais de 15 anos na área de estimulação cognitiva e assessoria em atendimento domiciliar, auxiliando frente ao declínio cognitivo e às dificuldades enfrentadas pela família e cuidadores no dia a dia. Site: www.50maisativo.com.br. E-mail: [email protected]

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