Morte no Poupatempo: faltou um desfibrilador

O metalúrgico aposentado Antônio Neves, de 66 anos, morreu ontem às 11 horas enquanto tirava a segunda via da carteira de identidade no Poupatempo de Santo Amaro, na Zona Sul da Capital. Neves teve um ataque cardíaco fulminante e chegou a ser socorrido por um médico do Departamento de Trânsito de São Paulo (Detran) que trabalha no local. Infringindo uma lei municipal, o Poupatempo não tinha nenhum desfibrilador em suas dependências.

Felipe Grandin *

 

Nenhuma das 18 unidades do Poupatempo tem esse aparelho, que é usado para reanimar pacientes que sofrem ataques cardíacos. A lei 13.945 de 7 de janeiro de 2005 determina que o equipamento esteja nos locais por onde trabalham ou circulam mais de 1.500 pessoas por dia. O Poupatempo de Santo Amaro, um dos mais movimentados da Cidade, recebe em média, 12 mil pessoas diariamente.

Morte imediata

“Ele nem passou mal. Caiu e morreu”, afirmou a esposa do aposentado, a manicure Maria Aparecida de Sousa Neves, de 41 anos. Casada há 20 anos, ela estava ao lado do marido na hora em que Neves teve o ataque cardíaco e morreu. Apesar da falta de infra-estrutura no local, a mulher não culpa o Poupatempo pela morte do marido.

Segundo a manicure, o socorro prestado pelo médico – que fica no local para realizar exames em quem quer renovar ou tirar a carteira de habilitação – foi rápido, mas mesmo assim o aposentado morreu na hora. “O médico chegou na hora, mas ele não teve como salvar mesmo”, afirmou Maria Aparecida. O aposentado deixou uma filha de 18 anos. “Ainda não caiu a ficha para ela”, disse Maria Aparecida. “Perdi meu marido. Eu também estou aérea”, acrescentou.

O aposentado tinha ido até o local para tirar a segunda via do RG. “Na hora em que ele pegou a caneta para assinar os papéis, foi com tudo para trás. Tentei segurar mas, não consegui”, disse Maria Aparecida.

De acordo com a família, ele tinha angina – doença coronária causada pelo estreitamento das artérias que conduzem o sangue ao coração – há 17 anos e tomava remédios para combater o problema. Apesar da doença do marido, Maria Aparecida não esperava que ele fosse ter algum problema. “Ele tinha tomado remédio e estava tão bem”, disse a mulher, que ainda completou: “ele estava sentado bonitinho e simplesmente caiu”.

Uma funcionária do Poupatempo de Santo Amaro, que não quis se identificar, contou que uma atendente chegou a fazer massagem cardíaca no aposentado enquanto esperava a chegada do médico. “Não adianta abafar, isso aqui não tem ambulatório, não tem ambulância, não tem nada”, disse a funcionária.

Procedimento padrão

Segundo a Secretaria Estadual de Gestão, o procedimento padrão nos Poupatempos em caso de emergência é acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e chamar o médico do Detran para fazer os primeiros atendimentos nas vítimas . Também é rotina levar quem passa mal no local a até um local reservado. Porém, não não há centro médico e nem posto de saúde nas unidades.

O Poupatempo possui 11 unidades fixas e outras sete móveis. O posto de Santo Amaro é um dos mais movimentados. Ao todo 80 mil pessoas por dia são recebidas em todos as unidades.

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Entenda o que diz a Lei 13.945

A lei municipal nº 13.945, de 7 de janeiro de 2005, estabelece que todos os aeroportos, shoppings centers, centros empresariais, estádios de futebol, hotéis, hipermercados e supermercados, casas de espetáculos, clubes, academias e locais de trabalho com concentração ou circulação média diária de 1.500 ou mais pessoas ficam obrigados a manter o aparelho desfibrilador externo automático em suas dependências. Além disso, todos esses locais deverão ter uma equipe para operar o desfibrilador e estabelecer um fluxo que permita a disponibilidade ao paciente em até 5 minutos após constatado o problema.

Multas

Segundo a lei, a falta de desfibrilador implicará na imposição de multa de R$ 2.000 nos estabelecimentos. Essa punição será renovada semanalmente até a constatação por parte da Prefeitura de que o local se adequou as normas e possui um desfibrilador à disposição dos visitantes.

Governo diz que vai comprar aparelhos

A Secretaria Estadual de Gestão, responsável pelas unidades do Poupatempo em São Paulo informou, em nota enviada à imprensa, que iniciou uma licitação em agosto do ano passado para a compra de 16 desfibriladores e a capacitação de funcionários para usar o equipamento. Segundo a pasta, esse processo ainda não foi concluído ‘devido a inúmeros questionamentos das próprias empresas licitantes’.

Secretaria lamenta morte

A nota enviada pela secretaria de Gestão ainda lamentou a morte do aposentado na unidade de Santo Amaro do Poupatempo. Segundo a versão da pasta, o médico do Detran que fica de prontidão no local prestou o pronto atendimento na hora em que Neves passou mal. Pouco tempo depois, ainda segundo a nota, o mesmo médico constatou o óbito do aposentado. Assim, quando a equipe do Samu chegou ao local, não havia mais tempo para socorrê-lo.

Equipamento cardíaco tem a venda suspensa

A Medtronic, maior fabricante de dispositivos cardíacos implantáveis dos Estados Unidos, anunciou anteontem que está instruindo os médicos a suspenderem o uso de um componente. A peça está sujeita a um defeito aparentemente ligado a cinco mortes e apresentou problemas em centenas de pacientes. O componente com defeito é um eletrodo que conecta o coração a um desfibrilador, aparelho que dá choques para regularizar o ritmo cardíaco. A empresa pede que os cerca de 235 mil pacientes com o eletrodo, conhecido como Sprint Fidelis, consultem seus médicos para ter certeza de que a peça não sofreu a fratura que pode levá-la a confundir dados do ritmo cardíaco. Esse defeito pode fazer o aparelho liberar uma descarga elétrica desnecessária ou então deixar de liberá-la quando é preciso. Na maioria dos casos, os desfibriladores podem ser reprogramados sem a necessidade de cirurgia para reduzir ao mínimo a eventual possibilidade de choques defeituosos.

No Brasil, 881 usam

A Medtronic Brasil informou que pacientes com desfibriladores implantáveis conectados ao coração pelo eletrodo Fidelis devem continuar o monitoramento do aparelho em consultas médicas a cada três meses. Segundo a empresa, 881 pacientes usam o ‘fio’ no País. ‘Todos os parelhos são catalogados’, afirmou o presidente da Medtronic Brasil, Oscar Porto. ‘Estamos contatando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as sociedades médicas e os médicos que utilizaram o eletrodo sobre as medidas preventivas.’ O componente importado é vendido no Brasil há dois anos e nunca apresentou problemas, segundo Porto. Outras empresas que produzem desfibriladores implantáveis também usam o eletrodo da Medtronic, que detém 60% do mercado desses equipamentos.

Fonte: Jornal da Tarde, Cidade, 16/10/2007. Disponível Aqui

 

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