Minha experiência como enfermeira em um Centro Dia para Idosos (CDI)

Minha experiência como enfermeira em um Centro Dia para Idosos (CDI)

O apoio da equipe multidisciplinar do Centro Dia para Idosos (CDI), já que na maioria das vezes atuamos em conjunto, foi fundamental para meu processo de aprendizagem e atuação em um serviço de proteção social especial do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Maria Alves de Souza (*)


Minha primeira experiência de trabalho como enfermeira em um Centro Dia para Idosos (CDI) foi em um público, localizado na zona sul, periferia de São Paulo, numa comunidade carente com aproximadamente 100 mil habitantes, onde iniciei no mês de outubro de 2019. O Centro Dia para Idosos é um Serviço de Proteção Social Especial de Média Complexidade, segundo o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).

Trata-se de um espaço para atender idosos com algumas limitações para realizar as atividades da vida diária, como alimentação, mobilidade e higiene; idosos que não possuem comprometimento cognitivo severo ou que apresentam perdas cognitivas leves ou moderadas; e que residem ou mantêm vínculos com suas famílias, mas não dispõem de atendimento em tempo integral em seus domicílios.

Após meu ingresso no CDI, não demorou muito para começar a pandemia de Covid-19, mas eu já tinha adquirido uma base de como funcionava o serviço no CDI, então o desafio ficou mais fácil de ser enfrentado. Durante os poucos meses de atividades presenciais com os idosos e equipe, consegui realizar atendimento individual, ministrar palestra de educação em saúde para os idosos e cuidadores, orientar o pessoal do apoio em serviços gerais, estabelecer vínculo com as Unidades Básicas de Referência dos idosos e familiares.

No início fiquei um pouco perdida, mas contei com o apoio da equipe multidisciplinar do CDI, na qual cada profissional é de uma área específica e os conhecimentos de todos constroem o trabalho a ser realizado com os idosos. Na maioria das vezes atuamos em conjunto, são poucas as ocasiões em que atuamos de modo independente.

Durante a pandemia, todos os atendimentos aos usuários aconteceram remotamente via teleatendimento, de acordo com as necessidades de cada idoso. Após vários meses de pandemia e entrega de atividades em domicílio pelos cuidadores, a equipe selecionou cuidadosamente sete idosos, os que mais necessitavam de atenção presencial, para atendimento em domicílio, pela equipe técnica. Para isso foi desenvolvido um projeto para prestar assistência a esses idosos em específico, mesmo em distanciamento físico.

Nesse momento se pensou em desenvolver um protocolo para entrar na residência desses idosos, cujo plano foi concretizado com apoio da equipe técnica, gerência e CREAS, liberando recursos para os equipamentos de proteção individuais (EPIS), tanto para profissionais quanto para idosos. Os profissionais do CDI seguiam para a residência dos idosos sempre munidos de EPIS e álcool 70%; a paramentação sempre ocorreu do lado de fora da residência e somente após é que os profissionais adentravam o domicílio, sempre mantendo distanciamento e respeitando as medidas sanitárias. Todos os pertences que entravam na residência do idoso pelo profissional, eram higienizados com álcool 70%.

Encaminhamentos para os CDIs

Os encaminhamentos para os CDIs públicos são realizados pela rede socioassistencial aos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), nos municípios que já dispõem desse tipo de serviço, pelo serviço de Busca Ativa, ou por procura espontânea do próprio idoso, de sua família, e ainda pela rede de atendimento de outras políticas setoriais.

Desse modo, o Centro Dia tem sido descrito como uma oportunidade promissora na atenção aos idosos, baseado na promoção da saúde, na prevenção de agravos, na recuperação e na reabilitação. A frequência da pessoa neste serviço favorece a manutenção dos vínculos familiares, o desenvolvimento das relações interpessoais, a promoção da socialização e a manutenção da capacidade funcional (FRATEZI e TRONCHIN, 2018).

Aprendizagens

Tem sido um grande desafio, pois nunca imaginei a riqueza de aprendizado deste serviço, que se encontra na área da assistência social. Na graduação de enfermagem não se fala em atuação em um Serviço Único de Assistência Social (SUAS). O objetivo da graduação em Enfermagem é formar profissionais totalmente voltados para atuar na assistência em saúde.

O trabalho construído na assistência é muito importante e demora mais para ser concluído, os profissionais trabalham com cautela e em etapas lentas, cada detalhe é uma informação importante para montar e executar os objetivos traçados pela equipe, com cautela e angariando informações. Fui aprendendo a lidar com as demandas apresentadas pelos idosos, pois o enfermeiro na assistência social não pode executar os procedimentos de enfermagem direto, apenas indiretamente.

O ponto forte para que o serviço de saúde funcione dentro do CDI é ter habilidades em se comunicar com as redes de atenção básicas de saúde locais, de referência e ter conhecimento científico para realizar as consultas e atendimentos de enfermagem aos idosos do serviço, e, posteriormente, acionar as equipes de saúde.  

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Usuários do CDI público

Os usuários do serviço do CDI são idosos com seus direitos violados e que necessitam de uma equipe multidisciplinar (psicólogo, enfermeiro, terapeuta ocupacional nutricionista e assistente social) para conseguir exercer novamente seus direitos. Os profissionais de diferentes áreas proporcionam melhor qualidade de vida aos idosos através de um trabalho conjunto e contínuo. Exemplo: todos da equipe precisam realizar atendimento individual e coletivo, as informações trazidas nos atendimentos individuais para o coletivo favorecem uma análise em equipe para melhor atender cada idoso.

O serviço do CDI funciona de 7 às 19 horas e os serviços de saúde da atenção básica também são prestados neste período. Neste contexto, o trabalho de rede é uma das ferramentas principais para que os idosos tenham sua assistência continuada após a adesão aos serviços do CDI. Segundo a lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986 e decreto nº 94.406/87, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e outras providências, incumbe a participação do enfermeiro em programas e atividades de educação sanitária, visando à melhoria de saúde do indivíduo, da família e da população em geral; participação nos programas de higiene e segurança do trabalho e de prevenção de acidentes e de doenças profissionais e do trabalho entre outras.

O papel da enfermagem no CDI

A enfermagem é comprometida com a produção e gestão do cuidado prestado nos diferentes contextos socioambientais e culturais em resposta às necessidades da pessoa, família e coletividade. O profissional de enfermagem atua com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais, técnico-científico-e teórico-filosófico, exerce suas atividades com competência para promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os princípios da Ética e da Bioética, e participa como integrante da equipe de enfermagem e de saúde da defesa das políticas públicas, com ênfase nas políticas de saúde que garantam a universalidade de acesso, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas (RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017).

As atribuições do  enfermeiro dentro do Centro dia são: participar do acolhimento dos usuários, proporcionando atendimento humanizado, identificando as necessidades de intervenções de cuidado e viabilizando o estabelecimento do vínculo; conhecer os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e a politica Nacional da Atenção Básica; Conhecer a Rede de Atenção a Saúde (RAS) do município e sua rede de serviços; Orientar-se pelas normatizações e protocolos da Secretaria Municipal de Saúde/SP; Trabalhar conjuntamente com a equipe da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura da Cidade de São Paulo (SMADS), o retorno aos vínculos interrompidos com familiares e sociedade; Atuar junto com a equipe multidisciplinar identificando os aspectos da subjetividade que intervém na saúde geral da pessoa idosa; Realizar atividades em grupo e encaminhar, quando necessário, usuários a outros serviços, conforme fluxo estabelecido pela RAS do território entre outras (RESOLUÇÃO Nº 001/2020- SMS-SMADS).

Na pandemia, a presença do enfermeiro no quadro de profissionais do CDI mostrou-se extremamente importante, para análise da situação de saúde, para um atendimento com avaliação médica e para intervir no processo de perda cognitiva do idoso, evitando possível internação em tempos de pandemia.

Pelo fato de os idosos passarem o dia no CDI, o profissional de enfermagem consegue realizar uma avaliação mais ampla, e consequentemente as articulações com as UBS (Unidades Básicas de Saúde) de referência, visando um atendimento para sanar as necessidades apresentadas pelos idosos. Exemplo: idosa do CDI que convive com uma úlcera varicosa em um dos membros inferiores, e necessita de acompanhamento contínuo. Há determinados momentos em que essa úlcera inflama consideravelmente, diminuindo a qualidade de vida dela. Como o CDI está constantemente presente na vida do idoso, o enfermeiro faz uma avalição e passa as informações para a equipe de saúde de referência, e após o comunicado com a equipe de saúde é necessário a continuidade do acompanhamento ou monitoramento para que a assistência chegue até o idoso.

Por fim, todo CDI tem um profissional como Responsável Técnico, que pode ser qualquer um da equipe técnica. Eu assumi essa responsabilidade, tendo como atribuições: guarda da documentação necessária ao atendimento de saúde, tais como, prontuário, termo de consentimento livre e esclarecido, carteira de vacinação, cumprimento da responsabilidade técnica dos demais profissionais que compõem o quadro profissional, de acordo com a lei do exercício profissional de cada categoria.

Referências
COFEN. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução Cofen Nº 564/2017. Disponível em http://www.cofen.gov.br/decreto-n-9440687_4173.html acessado em, 13/05/2021
RESOLUÇÃO Nº 001/2020 -SMS-SMADS Secretaria Municipal de Saúde e Secretaria Municipal de Assistência Desenvolvimento Social de 10 de janeiro 2020. Disponível em: http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/resolucao-conjunta-secretaria-municipal-da-saude-sms-secretaria-municipal-de-assistencia-e-desenvolvimento-social-smads-1-de-9-de-janeiro-de-2020.
FRATEZI, R. F.; TRONCHIN, R. M. D., Enfermeira Global. Revista Eletrônica, nº 52: p 1-1 octubre,2018   

(*) Maria Alves de Souza é formada em Enfermeira pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro (2014-2018) e Pós Graduanda em Saúde Pública pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (2020-2021). Atuou como Enfermeira em um Serviço Socio sanitário Centro Dia para idoso na zona Sul de São Paulo, dentro da Política Nacional do Idoso em um serviço da Proteção Social Especial com prática baseada na política do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. E-mail: [email protected] e [email protected]

Foto de Kampus Production/Pexels


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