Mensagens

Maria Betânia canta: “Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas”. Escrever para quem se ama certamente nos torna ridículos. As palavras, algumas vezes soam bobas, outras vezes picantes demais, quase um abuso não permitido.

Luciana Helena Mussi *

 

mensagensNunca sabemos como um “certo outro” receberá esse sopro de emoção que se transforma em frase que desemboca em texto.

Navegando por letras e canções: “Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com uma carta na mão…”.

E alguns escritos do passado: “Se eu fosse uma folha de papel desejaria que sobre mim, mãos inteligentes me tocassem…, e deitassem as mais belas palavras de amor…”.

Tal não foi minha surpresa ou, quem sabe, uma mágica conspiração dos Deuses, que encontro uma música que fala lindamente sobre mensagens e, se são, lindas, são obviamente regadas de sentimentos que transcendem a carne, letra a letra voam encantadas para o espírito.

É claro que não me refiro a essas mensagens cifradas e terrivelmente mal escritas que circulam entre estranhos e até entre pessoas que dizem se amar. Definitivamente, não! Quem ama só se inspira e oferta frases queridas, mesmo quando o sentimento já não é mais recíproco, mesmo quando não nos querem mais.

Antigamente, cartas iam, cartas vinham, e éramos sempre invadidos pela intensa expectativa da resposta do outro, palavras que transpirassem desejos, emoções contidas, lágrimas freadas. E, tudo isso, renovava uma nova espera, como se fosse, imaginem, sempre a primeira.

Hoje, já não temos mais cartas, mas temos e-mails e demais formas bem rápidas de nos corresponder com um alguém distante.

Assim, “Mensagem” cantada por Maria Betânia e “Todo amor que houver nessa vida” (Cazuza) “Eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida, nós na batida, no embalo da rede, matando a sede na saliva…” foram ingredientes que me trouxeram amorosamente a esse texto.

A diva canta:

“Todas as cartas de amor são Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas”.

Escrever para quem se ama certamente nos torna ridículos. As palavras, algumas vezes soam bobas, outras vezes picantes demais, quase um abuso não permitido. Nunca sabemos como um “certo outro” receberá esse sopro de emoção que se transforma em frase que desemboca em texto.

Mas, o friozinho na barriga é que torna tudo muito mais excitante. A resposta virá? Se não, o que houve? As palavras não foram as melhores? Faltou vírgula ou um “acento” incorreto? Talvez, um equívoco na concordância. Melhor pensar assim!

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E Betânia continua:

“Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras, Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser Ridículas…

Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor,

É que são Ridículas”.

Quem se importa em ser Ridículo? Escrever nos faz próximos, nos concede a presença em pensamento. Alguns diriam que é, apenas, um consolo que ameniza a distância. Eu prefiro acreditar numa forma mais delicada de abreviar o que não podemos ter, ao vivo e a cores, se é que me entendem.

A maturidade carrega surpresas já que nunca escrevi cartas de amor. Comecei esse “delicioso ofício” aos 48 anos e, confesso: não parei mais.

É interessante que tudo, todos e exatamente todas as coisas me fazem e me trazem ao papel que a tecnologia, hoje em dia, transformou em disco rígido, teclado e tela. Não importa, tenho como cúmplice do meu amor um robozinho chamado computador (e que Alan Turing, criador do primeiro computador, durma em paz!).

Em “As neves do Kilimanjaro”, conto de Ernest Hemingway, o protagonista, que está morrendo, relembra todas as histórias que, agora, jamais escreverá: “Ele sabia pelo menos vinte histórias boas dali e jamais escrevera nenhuma delas. Por quê?”

O escritor argentino, Alberto Manguel, em “Uma História da Leitura” (2004, Companhia das Letras) comenta: “Ele menciona algumas histórias, mas a lista, evidentemente, deve ser interminável. As estantes dos livros que não escrevemos, assim como as dos livros que não lemos, estendem-se pela escuridão do espaço remoto da biblioteca universal. Estamos sempre no começo do começo da letra A”.

Caro leitor, escreva, se não cartas de amor, escreva, apenas.

E que esse texto, seja um entre tantos outros que ainda escreverei para quem amo. Estou apenas na letra A do infinito alfabeto particular do que sinto.

Maria Betânia em “Mensagem”: Disponível Aqui

Cazuca em “Todo amor que houver numa vida”: Disponível Aqui

* Luciana Helena Mussi – Engenheira, psicóloga e mestre em Gerontologia pela PUC-SP. Doutoranda em Psicologia Social PUC-SP. Editora-executiva da revista Kairós Gerontologia. Coordenadora da Coluna Filmografia do Portal do Envelhecimento. Professora do Curso de Especialização em Gerontologia (Cogeae-PUCSP). Email: [email protected]. Currículo Lattes: Disponível Aqui 

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