Medicamentos, escândalos e muito dinheiro envolvido

Notícias com indústrias farmacêuticas sempre nos causam surpresa e indignação, normalmente ligadas a escândalos, propinas e interesses financeiros escusos. Mas quem poderia pensar que o maior grupo farmacêutico inglês, a GlaxoSmithKline (GSK), pudesse vender antidepressivos nos Estados Unidos para uso não-aprovado em crianças?


A empresa cometeu falha grave ao esconder evidências importantes do órgão regulador, o Food and Drug Administration (FDA), que relaciona o produto a diabetes, e ainda oferecendo entretenimento aos médicos dispostos a promover seus remédios.

Tão sério quanto o escândalo da GSK é o envolvimento dos médicos. Profissionais que depositamos confiança e acreditamos ter na vida e no respeito ao ser humano seus principais valores.

Acusações envolvendo a GSK

Entre as principais acusações, estão as seguintes:

a) Promotores descobriram que a empresa estava distribuindo mais de meio milhão de dólares ao ano para que seus representantes locais de vendas oferecessem aos médicos aulas regulares de golfe, viagens de pesca e entradas para jogos de basquete — enquanto argumentavam sobre o uso da droga antidepressiva Paxil em crianças. A campanha de vendas envolvia também ajuda para publicar artigos na revista de medicina que estampou artigo com evidências erradas de um teste clínico.

b) A empresa também foi acusada de vender a droga Wellbutrin para disfunção sexual e perda de peso, mesmo tendo obtido consentimento oficial da FDA apenas para tratar de depressão. Alguns dos representantes de vendas dessas drogas estavam declaradamente descrevendo o Wellbutrin como “a pílula de felicidade, magreza e tesão”.

c) No caso de um terceiro medicamento, Avandia, a empresa não relatou ao FDA que alguns de seus estudos indicavam preocupações em relação a doenças de coração. Alguns críticos pedem há quatro anos que a droga seja banida, mas apenas em 2010 as restrições foram levadas em conta e a comercialização interrompida.

A matéria de Terry Macalister “Medicamentos, muito dinheiro, fraudes infinitas” divulgou que “o problema veio à tona por conta de auditorias internas, gerou uma multa de 3 bilhões de dólares e amplia a sucessão de casos com empresas farmacêuticas — o que leva os críticos a argumentar que esses problemas são endêmicos no setor”.

Falar que o setor sofre de um problema “endêmico” é simplesmente um ultraje. O problema é geral, não apenas na GSK, mas com abrangência muito maior: No mês passado, a Abbott Laboratories foi forçada a pagar multa de 1,6 bilhão de dólares, por propagandas referentes ao tratamento antipsicótico Depakote. O valor total das multas a empresas farmacêuticas soma mais de US$ 20 bilhões, nos últimos vinte anos.

Multas

A GSK foi obrigada a pagar uma multa de 3 bilhões de dólares para eliminar as acusações dos governos federal e estadual norte-americanos relacionadas a atividades ilegais nos últimos dez anos. É a maior multa desse tipo já aplicada, mas não parecem existir planos para processar executivos, ou outras pessoas em posição de poder, na época em que os fatos ocorreram. Em resposta às revelações da semana passada, a empresa farmacêutica disse que havia mudado a forma de pagamento do pessoal de vendas, eliminando metas individuais.

Mas será que uma medida como essa resolve o problema? Se nem as elevadas multas são suficientes para coibir irregularidades como essas, que dizer, então, de uma simples suspensão de metas!

Comprometimento da imagem

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Eliot Spitzer, como procurador-geral de Nova York, processou a GSK há oito anos, por práticas parecidas, disse ao New York Times que empresas como a GlaksoSmithKline parecem incorrigíveis: “Estamos aprendendo que dinheiro [ou seja, as multas] não impede a conduta ilegal por parte destas companhias. A única coisa que irá funcionar, na minha opinião, é que diretores executivos sejam forçados a se demitir e que se estabeleça sua culpabilidade individual”.

Sim, um processo crime aplicado a pessoa física, já que nem todas as multas aplicadas serão suficientes para resolver, eliminar a corrupção nas empresas. Sidney Wolfe, médico e responsável pelos direitos do consumidor, no setor de pesquisa de saúde da organização norte-americana Public Citizen, vai além: “Até que penalidades mais significativas e a possibilidade de prisão para os presidentes de tais empresas sejam comuns, as companhias irão continuar fraudando o governo e colocando a vida de pacientes em perigo”.

Na verdade, o problema é sério e de difícil resolução porque o que está em jogo é, na linguagem popular, muito, mas muito dinheiro, grandes somas circulando no meio empresarial.

Wolfe explica: “O fato de os lucros de medicamentos líderes em vendas superarem, em muito, as multas impostas caso as irregularidades sejam descobertas significa que as contravenções são esperadas”. Sua conclusão é, no mínimo, triste: para os grandes grupos farmacêuticos, “o crime compensa”.

E na onda das irregularidades, um estudo revelou que a combinação de medicamentos usados para combater problemas cardíacos, depressão e alergias podem aumentar o risco de morte e de deterioração de funções cerebrais entre idosos. Cientistas estimam que metade das pessoas com 65 anos ou mais consomem regularmente tais medicamentos.

Mas as pessoas que consomem esses medicamentos, normalmente, estão orientadas pelos seus médicos. Como, tal risco, não é percebido por esses profissionais? Então o conhecimento só chega após a realização de uma pesquisa, que muito provavelmente se estendeu por um longo tempo? Enquanto isso, as pessoas morrem?

Pesquisa

Realizada entre 13 mil pessoas de 65 anos ou mais, pela Universidade de Anglia, na Grã-Bretanha, a pesquisa partiu de dados coletados entre 1991 e 1993 envolvendo medicamentos vendidos mediante a apresentação de receita médica ou outros que dispensavam a apresentação de receita.

O estudo se centrou nos efeitos colaterais desses remédios sobre uma substância química chamada acetilcolina, produzida no cérebro. Essa substância é um neurotransmissor que exerce um papel vital no sistema nervoso, o de passar mensagens de célula nervosa para célula nervosa. Muitos remédios, quando tomados simultaneamente, afetam o funcionamento da acetilcolina.

Entretanto o estudo não pode concluir que necessariamente os medicamentos causaram morte ou reduziram as funções cerebrais, apenas indica uma associação.

Referências

MACALISTER, T. (2012). Medicamentos, muito dinheiro, fraudes infinitas. Disponível Aqui. Acesso em 14/07/2012.

BBC BRASIL (2012). Estudo liga combinação de remédios para idosos a maior risco de morte. Disponível Aqui. Acesso em 12/07/2012.

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