A intergeracionalidade: das relações às práticas sociais

A intergeracionalidade: das relações às práticas sociais

A intergeracionaidade, desde a teoria à prática, foi tema de evento promovido pela PUC-SP e o Itaú Viver Mais em São Paulo, no encontro chamado Diálogos.

Por Adelice N. Cambuim, Conceição Carvalho e Jose de C. Araújo Júnior (*)

 

Vivemos numa sociedade cada vez mais envolvida com atividades diversas, conectados em interação com o mundo a sua volta em diferentes contextos: na família, nas relações de trabalho, em sociedade, em ações de cunho social. Cenário, aonde, comumente, questões ligadas às relações e sentimentos surgem e assim a intergeracionalidade é fortalecida. Ao abordamos o tema intergeracionalidade, traduzimos as interações sociais entre indivíduos de idades distintas e troca de experiências de vida, valores e princípios.

Essa foi a temática abordada em Diálogos, evento realizado pela PUC-SP em parceria com o Itaú Viver Mais, no dia 29 de novembro, no Espaço Itaú de Cinema Augusta, em São Paulo, com o título Laços Intergeracionais e Sociedade. O evento contou com os psicólogos José Carlos Ferrigno, Rita de Cássia Monteiro de Lima Siqueira e Katia Maria Pacheco Saraiva.

Subdividir e classificar a sociedade, a princípio, demonstrou controle, porém gerou individualismo, indiferença e distanciamento entre as gerações, criando um impacto negativo nas relações intergeracionais, explica o psicólogo José Carlos Ferrigno que, durante muitos anos esteve à frente do programa gerações do SESC SP. Ferrigno é doutor em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Gerontologia pela Universidade de Barcelona e em Gestão de Programas Intergeracionais pela Universidade de Granada (Espanha). Segundo ele, o vínculos entre avós, pais, filhos, netos são por vezes cada dia mais distanciados, ainda que esses se encontrem no mesmo espaço de convivência, seja por razões no mundo do trabalho, seja por fatores inerentes às ocupações diárias, aos interesses pessoais, fragilizando as relações interpessoais e afetivas.

Ferrigno apresentou algumas práticas desenvolvidas tanto no país como fora dele, chamando a atenção para a ausência de pesquisas relativas ao tema, e para a necessidade de avançar nos estudos neste campo de conhecimento, com vistas a implantação e implementação de programas que potencializem o intercâmbio entre grupos por meio de práticas sociais.

Nessa direção, Rita de Cássia Monteiro de Lima Siqueira, técnica da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), falou a respeito da concretude de projetos e práticas sociais que já acontecem, destacando algumas iniciativas que já acontecem no município de São Paulo, como a implantação dos Centro de Convivência Intergeracional (CCInter), espaços que ofertam proteção social e fortalecimento de laços familiares e comunitários, prioritariamente para crianças, adultos, idosos em situação de fragilidade e vulnerabilidade social.

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Siqueira esclarece que o CCInter é uma modalidade do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) que tem a perspectiva de trazer à convivência crianças, jovens, adultos e idosos, fortalecendo as relações entre os diferentes ciclos de vida de forma harmoniosa e respeitosa. Nesse sentido, a intergeracionalidade como política, gera práticas sociais nesses espaços de convivência, destacando-se a importância da convivência em meio a grupos sociais de diferentes faixas etárias, contemplando aspectos que muitas vezes não são vivenciados no ambiente familiar e que, de repente, são promovidos nesse convívio. De acordo com Siqueira, o trabalho desenvolvido nos CCInter permite verificar que as relações estabelecidas nesses espaços são impulsionadoras das relações no seio familiar, fortalecendo-as e influenciando-as positivamente.

Portanto, os CCInter representam, segundo Siqueira, “uma forma de intervenção social planejada, que cria situações desafiadoras, estimula e orienta os usuários na construção e reconstrução de suas histórias e vivências individuais e coletivas, na família e no território de modo a ampliar trocas culturais e de vivência, desenvolver o sentimento de pertença e de identidade, fortalecer vínculos familiares e incentivar a socialização e a convivência comunitária”.

A psicóloga, especialista em Gestão de Programas Intergeracionais pela Universidade de Granada, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC-Minas, e professora da PUC-Caldas/MG, Katia M. Pacheco Saraiva, destacou avanços em pesquisas nesse campo de investigação, mas sua fala focou a experiência que vem desenvolvendo há dois anos, no Projeto de Extensão Intergeracional chamado “Sacudindo a Memória: recontando histórias, ressignificando memórias e aproximando gerações”. O projeto tem como proposta aproximar gerações – idosos e estudantes – e comunidade local e Universidade através do resgate da memória da cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais. Ela destacou o fortalecimento de vínculos estabelecidos entre os estudantes e a comunidade por meio do resgate de memórias.

Saraiva disse que o ponto de partida do projeto foi a valorização das histórias de vida, as memórias autobiográficas de idosos de diversas classes sociais e de diversos segmentos da cidade de Poços de Caldas. Segundo a professora Kátia, “o contar, o ouvir, o compartilhar as experiências parece que está ficando cada dia mais distante das nossas vidas”. Ela encerrou sua fala dizendo que “a falta de convívio entre gerações tem favorecido a construção de estereótipos geracionais e acaba distanciando as pessoas umas das outras”.

(*) Adelice N. Cambuim – Assitente social, mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP. 

Conceição Carvalho – Advogada, mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP.

Jose de C. Araújo Júnior – Professor de Educação Física – CEDUC-PA, mestrando do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP.

 

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