A importância dos NCIs para se longeviver na cidade

A importância dos NCIs para se longeviver na cidade

O seminário Longeviver na cidade de São Paulo: a importância dos Núcleos de Convivência de idosos, realizado no dia 03 de outubro, no teatro Tuca (SP), foi um esforço de superação da equipe organizadora, docentes e mais de 400 profissionais envolvidos. Falou-se sobre envelhecer na cidade de São Paulo, a relevância social dos NCI’s e a importância da formação permanente.

Beltrina Côrte, Vera Brandão e Ademir Alves da Silva (*)

 

O seminário encerrou o trabalho de capacitação com a exposição de mais de 120 propostas no formato de banner que expressam a ação no território onde atuam os Núcleos de Convivência de Idosos e os técnicos e supervisores, realizado no período de dezembro de 2016 a outubro de 2017, resultado de convênio firmado entre a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), por meio da Coordenadoria de Proteção Social Básica e em parceria com a UNESCO e a PUC-SP/Cedepe, envolvendo os Programas de Pós Graduação em Gerontologia e Serviço Social.

A abertura do evento contou com a presença da Profa. Dra. Mariangela Belfiore Wanderley (coordenadora Institucional da Capacitação), a Profa. Dra. Sílvia Helena Simões Borelli (coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais – Cedepe/PUC-SP), José Antonio de Almeida Castro (chefe de Gabinete da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social); e Rosane da Silva Berthaud (coordenadora da Gestão SUAS). O compromisso com um melhor envelhecer na São Paulo metrópole esteve presente em todas as falas.

As equipes envolvidas consistiram em: a) por parte da SMADS, Rita de Cássia M. de Lima Siqueira, Especialista em Assistência e Desenvolvimento Social, referência no segmento Idoso da Proteção Social Básica; e b) por parte da Cedepe/PUC-SP, os professores doutores Beltrina Côrte (Programa de Pós em Gerontologia) e Ademir Alves da Silva (Programa de Pós em Serviço Social) como formadores da capacitação, e Vera Brandão que atuou como supervisora pedagógica ao longo de todo o processo.

Os membros da equipe objetivaram, à luz dos princípios e diretrizes da Política Nacional de Assistência Social e do Estatuto do Idoso, a capacitação dos técnicos e supervisores dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS e equipe técnica e gerentes dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – Núcleos de Convivência de Idosos – NCI’s, relativamente à metodologia de trabalho que será utilizada na oferta dos serviços de convivência e fortalecimento de vínculos para a faixa etária acima de 60 anos.

O projeto de capacitação visou, assim, contribuir para a formação permanente de quadros profissionais para a gestão e operação da rede de serviços sócios assistenciais, especialmente aqueles que integram a rede de proteção social básica, na oferta de condições para o convívio social, a criação e o fortalecimento de vínculos.

O panorama deste projeto se fundamenta no contexto da sociedade atual marcado pela expressiva longevidade populacional, levando em conta os diversos modos de viver e envelhecer segundo a condição de classe social, gênero, etnia, inserção sócio territorial; a perspectiva de um envelhecimento ativo; as responsabilidades do Estado, da sociedade e da família quanto à segurança social das pessoas idosas; as disputas pelo fundo público e o contingenciamento de recursos orçamentários como parte da estratégia de ajuste fiscal em face da crise; os desafios relacionados à constituição de uma rede de proteção e segurança social para as pessoas idosas e, especialmente, a necessidade de profunda revisão das matrizes discursivas e do modus operandi no que respeita à abordagem do fenômeno do envelhecimento baseada em direitos (e não em necessidades), que reconhece o direito das pessoas à igualdade de oportunidades e tratamento em todos os aspectos da vida.

A abordagem do envelhecimento como parte do ciclo vital e a visão alargada sobre a complexidade do tema são os diferenciais que marcam a perspectiva adotada pela Gerontologia Social, para a qual os direitos e deveres cidadãos, a liberdade, respeito e a dignidade são os valores fundamentais ante as muitas velhices que se apresentam.

Metodologia

A metodologia que sustentou o projeto de capacitação foi a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) na qual o docente não assume o papel tradicional de ‘ensinar algo a alguém que não sabe’, mas parte do conhecimento e questões derivadas do cotidiano de trabalho de cada profissional, trazidas ao grupo a ser capacitado para reflexão, partilha e busca de perspectivas-base que guiem as práticas, considerando os desafios para o trabalho social nas diferentes regiões do município de São Paulo, suas diversidades e peculiaridades.

Nesta perspectiva buscou a promoção de um espaço de escuta e de diálogo das equipes envolvidas, o aperfeiçoamento profissional, técnico e ético-político, a reflexão e o estudo das questões cotidianas de trabalho e práticas profissionais, a produção de subsídios para novas práticas e técnicas profissionais, metodologias e novos processos e rotinas de trabalho, os conhecimentos teóricos e práticos sobre os fenômenos, contextos e dinâmicas sociais dos territórios, o rompimento com práticas preconceituosas, assistencialistas e estigmatizadoras, e o desenvolvimento de trabalho colaborativo, horizontal e interdisciplinar da equipe, especialmente em ações que fortaleçam o vínculo comunitário.

Etapas do Projeto

Consistiu na constituição das equipes e planejamento geral: envolvendo a atuação interdisciplinar (por parte da Universidade) e intersetorial (por parte da SMADS); Formação da equipe de pesquisadores-docentes; Realização de diagnóstico de 31 Núcleos de Convivência de idosos: envolvendo capacitação a pesquisadores de diversas áreas de formação e de distintas idades; Elaboração de proposta de capacitação, organização do material didático e execução dos Encontros de Reflexivos envolvendo a realização de 04 (quatro) encontros presenciais para 10 turmas, com carga horária de 04 (quatro) horas/cada para grupos de até 40 participantes; Execução das Oficinas Propositivas: envolvendo a realização de 04 (quatro) Oficinas semanais, presenciais, com 20 turmas, com carga horária de 04 (quatro) horas/cada para grupo de aproximadamente 20 participantes; e Seminário de encerramento, previsto para 03/10/2017, a ser realizado no TUCA/ PUCSP, do projeto iniciado em dezembro de 2016.

Considerações finais sobre o projeto

Ficaram evidenciados os seguintes pontos:

a) A relevância social dos NCI’s – Núcleos de Convivência de Idosos enquanto serviços integrantes de uma rede de proteção social às cidadãs e aos cidadãos com mais de 60 anos de idade, pois promovem o pertencimento e convivência social em oposição ao segregacionismo e ao isolamento, e representam oportunidades para a expressão de necessidades e demandas sociais pessoais, familiares e comunitárias, acesso à informação quanto a direitos sociais, trocas culturais e socioafetivas intergeracionais, fruição de benefícios advindos de um diversificado elenco de atividades sociais, culturais, recreativas, lúdicas e de lazer. Atendem, de modo geral, à diretriz da inserção territorial de serviços públicos, observados os índices de vulnerabilidade e risco social nas várias expressões de desigualdade, incluindo as intergeracionais, intergêneros, de renda, étnico-raciais e sócio-territoriais.

b) A necessidade de investimento na formação contínua dos trabalhadores, de modo a suprir lacunas e debilidades teórico-metodológicas e técnico-operativas na gestão e funcionamento das unidades, destacando-se a necessidade de supervisão efetiva no acompanhamento das ações. Além deste aspecto ficou evidente a reprodução dos modelos protetivos em relação aos idosos e a falta de maior impulso à participação cidadã.

c) A ausência de uma cultura de planejamento e avaliação das ações, sendo identificada uma profusão de eventos e atividades de interesse, mas sem as devidas conexões com a Política Nacional de Assistência Social no âmbito da proteção social básica e Estatuto do Idoso e sem a clara e consistente enunciação de resultados que expressem a amplitude e a profundidade do alcance social dos serviços que ficam, às vezes, circunscritos às metas quantitativas – negligenciando as qualitativas – e a alguns procedimentos administrativos, embora necessários, determinados pelos convênios com a gestão municipal.

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d) A existência de polaridades nos papéis exercidos pelos profissionais: muitos excessivamente burocráticos; outros com forte grau de envolvimento, sem o equilíbrio necessário ao funcionamento adequado ao serviço.

e) A precarização da formação superior expressa tanto na compreensão de consignas como na expressão escrita e falada dos profissionais, observada especialmente no processo de correção dos banners a serem apresentados no Seminário final. Nota-se ainda a prevalência da expectativa pelo modo tradicional de ensino-aprendizagem, o que gerou certa ‘resistência’ inicial.

Avaliação

A avaliação final da equipe que promoveu a capacitação foi baseada nos modelos formais com perguntas abertas e fechadas, não identificadas para maior espontaneidade nas respostas, mas, principalmente, pelo convívio próximo proporcionado pela metodologia proposta.

O projeto de capacitação como um todo provocou um ‘movimento’ nos trabalhadores sociais, seja porque compreenderam e aderiram ao projeto de capacitação, em suas diferentes etapas, seja pela negativa em participar ou procurar entender o processo. Em alguns casos, a atitude questionadora, mas circunscrita aos aspectos burocráticos e não interessada em possíveis respostas, parece repetir as avaliações negativas, feitas por alguns, a respeito da supervisão dos técnicos e da própria Secretaria.

O convívio na mediação foi de mútua aprendizagem, reforçando a pertinência e a força da metodologia proposta a esta capacitação que promove a formação continuada construída na dinâmica das relações.

A avaliação realizada pela Cedepe/PUC dos Encontros Reflexivos e Oficinas Propositivas ficou entre Bom, Muito Bom e Excelente, observadas as estratégias utilizadas pelos professores com vistas à a) construção de propostas que expressem a atuação dos territórios; b) contribuição para o desenho de uma proposta que expresse o trabalho social no território; c) incentivo dos professores à participação dos alunos; e d) participação do grupo na discussão e na elaboração das propostas que expressem a ação no território, respectivamente. A avaliação mais negativa foi para a carga horária (28,4%), embora a maioria tenha avaliado como boa (43,2%).

Frases dos docentes

– “o desafio da formação foi levar um enorme contigente de profissionais a refletir sobre a essência da Assistência Social, a tornar o velho/velha sujeito da vida, retirando-o da situação de sujeitado, por meio de ações de proteção e garantia de acesso”, por Isabel Cristina Bueno da Silva.

–  “a perspectiva é de de que boas ou más, desgastantes ou edificantes, eles constroem a experiência maior que é a vida e nossas escolhas de futuro”, por Karen Harari.

– “educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, por Áurea Eleutério Soares Barrroso, repetindo Paulo Freire.

– “foi um esforço de superação da equipe organizadora, docentes e profissionais envolvidos”, por Vera Brandão.

– “descobrir o humano que há em cada um de nós e o velho digno que daí poderá sair é, talvez, o maior achado que se poderá encontrar/promover nas paradas técnicas dos serviços daqui em diante, pois o percurso continua”, por Beltrina Côrte.

– “Sempre acreditei em processos de construção coletiva, vai além dos saberes específicos e se concretiza no território, espaço onde tudo acontece! Vivenciamos esta experiência com os NCIs e os CCInter durante a capacitação!”, por Dagmar Creilde dos Santos.

-“‘Foi uma experiência que me tocou profundamente’ – como diria Larrosa Bondia. De um grande desafio, construímos juntos – equipe, coordenadores, profissionais dos NCIs e CCinters, não só uma  metodologia, mas um caminho com novas possibilidades. Nietzche já afirmava: ‘É preciso ter um caos dentro de si, para dar à luz uma estrela cintilante’. E, com certeza nosso céu  durante o Seminário final regado a tantos sorrisos e caras de satisfação, ficou estrelado”, por Sônia Fuentes.

Agradecimentos

A equipe agradece a todos os pesquisadores que foram a campo para o levantamento do diagnóstico e aos profissionais dos NCIs pela acolhida.

Aos Docentes que responderam pela condução das atividades de capacitação: Áurea Eleutério Soares Barrroso, Dagmar Creilde dos Santos, Isabel Cristina Bueno da Silva, Karen Harari, Maria Elisa Gonzalez Manso, Regislaine Leôncio Pereira e Sonia Azevedo Menezes Prata Silva Fuentes.

A todos os membros do Espaço Público do Aprender Social (Espaso) que respondeu pelo acolhimento a todos os profissionais e docentes, cuidando da infraestrutura e logística da capacitação, especialmente a Sylmara Andreoni Vettorello Ramires.

Aos membros da Cedepe, que responderam pela parte administrativa e apoio para a capacitação, especialmente a Vergilio Alfredo dos Santos, Fátima Tramutola, Luciana de Almeida e Carola Arregui.

(*) Beltrina Côrte, Vera Brandão e Ademir Alves da Silva – equipe por parte da PUC-SP que esteve à frente de todo o processo de capacitação.

Foto de destaque: Imprensa PUC-SP. As demais, do arquivo pessoal da equipe e profissionais

Beltrina Côrte

Jornalista, Especialização e Mestrado em Planejamento e Administração do Desenvolvimento Regional, Doutorado e Pós.doc em Ciências da Comunicação pela USP. Estudiosa do Envelhecimento e Longevidade desde 2000. É docente da PUC-SP. Coordena o grupo de pesquisa Longevidade, Envelhecimento e Comunicação, e é pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE), ambos da PUC-SP. CEO do Portal do Envelhecimento, Portal Edições e Espaço Longeviver. Integrou o banco de avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Basis/Inep/MEC até 2018. Integra a Rede Latinoamericana de Psicogerontologia (REDIP). E-mail: [email protected]

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