Gerontologia mundial: novos desafios na sociedade contemporânea

gerontologia-mundial-novos-desafios-na-sociedade-contemporaneaCom uma população mais envelhecida e acometida, sobretudo, por doenças crônicas é fundamental delinear políticas públicas mais eficientes e adequadas para responder às novas demandas. Entender que em países e regiões desenvolvidos, tanto a transição demográfica quanto a epidemiológica ocorreram mais cedo e demoraram mais tempo, possibilitando um cuidado gerontológico adequado e condições de vida (econômica, social, ambiental e cultural) mais bem planejadas.

Eliana Novaes Procopio de Araujo *

O aumento da expectativa de vida e o crescimento da população “muito idosa” levantam a questão de novos desafios no atendimento gerontológico. O envelhecimento populacional vem ocorrendo em vários países, embora em ritmo e momento diferenciados. Este processo é determinado pela queda na taxa de fecundidade afetando o crescimento da população e dos grupos etários e diminuição da mortalidade com aumento de idades avançadas, ou seja, pessoas com mais de 80 anos. Os dados nos mostram que esse segmento de muito idosos em 2011 representava 1,6% da população mundial e as projeções indicam que passará para 4,3% em 2040 (United Nations, 2013).

Com uma população mais envelhecida e acometida, sobretudo, por doenças crônicas é fundamental delinear políticas públicas mais eficientes e adequadas para responder às novas demandas (Wong; Carvalho, 2006). Entender que em países e regiões desenvolvidos, tanto a transição demográfica quanto a epidemiológica ocorreram mais cedo e demoraram mais tempo, possibilitando um cuidado gerontológico adequado e condições de vida (econômica, social, ambiental e cultural) mais bem planejadas. Em contrapartida, os países em desenvolvimento não estão tendo esse tempo, as transições iniciaram mais tarde e estão ocorrendo de forma mais rápida. A transição demográfica nos países ocorre em ritmos e momentos diferentes como o da Coreia e Brasil em 20 anos.

O Brasil se depara com uma população que tem uma sobrevida cada dia maior e prevalência de doenças crônicas e múltiplas e, consequentemente, o aumento de atendimentos gerontológicos (2010). Entretanto, essa não é uma questão apenas brasileira. Em diversos países há uma crescente convergência de que os estados têm a obrigação de ofertar cuidados de longa duração e apoio social para as pessoas com deficiências (2012). Políticas de cuidado devem ser um direito social (Camarano).

Na Europa com o aumento das pessoas muito idosas e acometidas de dependências de ordem física e de quadros de demência surge a necessidade de cuidados de longa duração cujo custo é oneroso e a mão de obra cada vez mais escassa. Além disso, ocorreram episódios recentes de maus-tratos de idosos em instituições de longa permanência em países como a Grã-Bretanha e em outros. Outro fator além das denúncias de violência são os custos mensais onerosos. Na Suíça, os custos variam entre US$ 5 mil e US$ 10 mil (R$ 11,8 mil a R$ 47,5 mil), já na Tailândia, porém, caem para US$ 3 mil por mês (perto de R$ 7 mil), com uma oferta maior de serviços. Diante dessa realidade, a tendência vem sendo “exportar os idosos com demência e dependência funcional” a países asiáticos onde os cuidados gerontológicos são mais baratos e o atendimento dos cuidadores é mais afetivo (Anna Lacey, 2014).

Segundo especialistas da Comissão Europeia, a Europa é “vítima” do próprio êxito no que se refere ao desenvolvimento populacional. O envelhecimento da população traz consequências diretas para os programas sociais, pois países onde cada vez menos pessoas trabalham, menos se paga para os sistemas de previdência e pensão. Ao mesmo tempo crescem os gastos dos sistemas de aposentadoria e saúde. Segundo um estudo da União Europeia, o número de casos de demência na Europa, por exemplo, deve dobrar até 2050, chegando a 16 milhões.

gerontologia-mundial-novos-desafios-na-sociedade-contemporaneaEm relação aos cuidados de pessoas independentes na Europa, está em teste o uso de robôs que têm uma tarefa muito delicada. Ou seja, acompanhar e cuidar de idosos que vivem sozinhos. A máquina é ligada aos sensores da casa e a uma central de assistência médica. Assim, poucas pessoas poderão cuidar de muitos idosos. Um dos pesquisadores do projeto, Andrea Orlandini, explica que esse robô poderá permitir visitas virtuais a pacientes em lugares distantes. A máquina é financiada pela Comissão Europeia.

No Japão onde existe a maior expectativa de vida no mundo, sendo de 87 anos nas mulheres, verifica-se expressiva diminuição no percentual de crescimento da população. Assim ocorrem dificuldades nos atendimentos aos idosos devido a escassez de mão de obra japonesa e a ajuda imigrante para ser aceita deve ter o domínio do idioma japonês. Verifica-se, portanto, a crescente carência de atendimentos especializados por profissionais e o aumento nos serviços através da utilização de robôs nos cuidados gerontológicos.

Na antiga China, o filósofo Confúcio (que viveu entre os anos 551–479 a.C) já apregoava que as famílias deveriam obedecer e respeitar ao indivíduo mais idoso. Mas na atualidade as dificuldades da mão de obra estão aumentando e os serviços estão sendo realizados por Robôs no valor de US$ 200.000,00, sendo submetidos ao ISO – International Organization of Standarization – para estabelecer padrões globais de serviços. Entre as funções dos robôs estão: assistir a locomoção de idosos ou outros doentes, ajudar os pacientes a utilizarem o toalete… Este tipo de necessidade não se resume ao Japão, mas também a outros países que, com o aumento de idosos dependentes, enfrentam desafios semelhantes.

Na África subsaariana, por ser mais baixa que nos países desenvolvidos, a realidade é que muitos africanos vivem mais tempo. Entretanto, o desaparecimento do sistema de família alargada e a falta de equipamentos que permitam aos idosos reunir-se e desfrutar de atividades recreativas faz com que os idosos africanos levem uma vida sedentária e com doenças crônicas. Há falta de mão de obra especializada e de centros de atendimento a essa população emergente (África, 2013).

gerontologia-mundial-novos-desafios-na-sociedade-contemporaneaDe acordo com dados de AgeWatch Index, um terço dos países do mundo não consegue atender às necessidades dos mais velhos. Essa pesquisa mede qualidade de vida para os idosos em 96 países do mundo. O Brasil, no índice de qualidade de vida dos idosos, aparece em 58º lugar entre os 96 países analisados. A Noruega em primeiro lugar e o Afeganistão em último. Entre os países da América do Sul, o Brasil só não fica atrás do Paraguai. Infelizmente,  em relação com o relatório divulgado no ano passado, caímos de 31º para 58º em qualidade de vida para os idosos. Os países com maiores taxas de população sexagenária em 2050 serão República Dominicana (39,2%), Porto Rico (31,5%), Chile (30,3%), Costa Rica (29,8%) e Brasil (29%) (Ziegler, 2014).

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Estima-se que, em 2025, o Brasil terá a 6ª maior população idosa no mundo e, em 2050, essa população será de 30%. Assim, o Brasil antes considerado um país de jovens para ser no futuro país de idosos. Essa alteração no perfil da população necessita de mudanças sociais e de políticas públicas para atender a desigualdade socioeconômica e diversidade cultural. O grande desafio mundial é saber cuidar com dignidade essa nova geração de idosos.

A longevidade acompanhada de fragilidades cognitivas e funcionais, com novas urgências de atendimento, exige que nos organizemos para acolher esse novo perfil de brasileiros. Na minha experiência como gestora de atendimentos psicogerontológicos durante 16 anos em uma instituição de longa permanência na cidade de São Paulo, recomendo um trabalho gerontológico que atenda os idosos em sua integralidade e que tenha uma orientação psicoeducativa atualizada de orientação às famílias e aos funcionários, promovendo uma reorientação aos sistemas de saúde e aos modelos de atendimento institucionais, a fim de respeitar a singularidade e fragilidade das pessoas hoje já envelhecidas.

Referencias 

Camarano AA. Introdução. In: Camarano, AA (org.). Cuidados de Longa Duração para a População Idosa: um novo risco social a ser assumido? Rio de Janeiro 2010: IPEA. pp. 13-38.

Camarano AA, Kanso S, Fernandes, DC. Saída do mercado de trabalho: qual é a idade? Boletim Mercado de Trabalho – Conjuntura e Análise nº 51, Maio de 2012.

Europeus ‘exportam’ idosos para asilos na Tailândia Anna Lacey e Imogen FoulkesDa BBC Health Check7 janeiro 2014

Wong LLR, Carvalho JA. O rápido processo de envelhecimento populacional do Brasil: sérios desafios para as políticas públicas. Rev. Bras. Est. Pop. 2006; 23:5-26

United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division: World Population Prospects: The 2012 Revision. New York, 2013

AFR/RC63/4 Envelhecimento saudável na Região africana: Análise da situação e perspectivas (273.59 kB) (2013)

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Na América do Sul, apenas o Paraguai é pior que o Brasil no bem estar dos idosos Maria Fernanda Ziegler- iG São Paulo | 01/10/2014 05:00

* Eliana Novaes Procopio de Araujo – Psicóloga e mestre em Gerontologia pela PUC-SP. Psicoterapeuta de adultos e idosos. Desenvolve reabilitação psicocognitiva nos casos de idosos com dificuldades de memória e com quadro de demência. Realiza orientação de apoio emocional aos familiares de idosos. Professora em cursos de psicogerontologia em pós-graduação na PUC-Cogeae e FAAPS. Autora do livro: Práticas psicogerontológicas nos cuidados de idosos (Editora Juruá, 2012). Email: [email protected]

 

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