Fragilidade na velhice: relato de aula

Fragilidade na velhice: relato de aula

Percebi a grande importância de buscar informações, novos saberes, refletir sobre o envelhecer para uma maior compreensão da velhice na atualidade e poder atuar com mais competência e humanidade.

Lucimaura Pereira da Silva (*)

 

Observamos que ao longo dos anos muitas mudanças tornaram possível uma discussão positiva sobre a velhice. Envelhecer deixou de ser sinônimo de doença, e que é possível envelhecer com saúde. Por isso surgiu a necessidade de um novo ajustamento na saúde pública, exigindo dos governantes investimentos na prevenção e controle das várias patologias. O processo de envelhecimento depende de fatores psicossociais, econômicos, culturais e políticos, ou seja, as pessoas envelhecem de maneiras diferentes e devemos considerar que existem condições que propiciam um bom ou um mau envelhecer.

No decorrer das aulas do curso Fragilidades na Velhice: gerontologia social e atendimento, ofertado pelo Cogeae da PUC-SP, pude observar o quanto não estamos preparados com a nossa finitude e das pessoas com quem nos relacionamos. Não nos damos conta de perceber de que envelhecer faz parte da nossa vida desde que fomos gerados, e passamos por um longo processo que por muitas vezes é muito difícil. Na maioria das vezes rotulamos as pessoas idosas achando que não são capazes de gerenciar a sua própria vida e tiramos delas a sua autonomia e independência, fazendo com que este indivíduo deixe de ter a sua identidade própria, e com isso provocamos o adoecimento físico, social e psicológico do outro.

Também ficou claro no curso que a nossa saúde física, mental e espiritual se dá da forma como enfrentamos a realidade das coisas e como cuidamos de nós, por isso a nossa relação com o mundo precisa ser de modo saudável e harmoniosa. Porém, o que mais vivenciamos no cotidiano é a falta de respeito para com esta população idosa e para os que estão a caminho da velhice, não tendo acesso às necessidades básicas, como saúde, moradia, educação, cultura entre outras.

Cada discussão realizada em sala de aula com os alunos de diversas formações, desde profissionais da saúde, educação e demais categorias foi muito rico e prazeroso, todos interessados em aprender e trocar experiências para saber lidar com esta fase da vida e também como cuidar do outro na nossa atuação como profissional. Todos nós necessitamos de conhecimentos e entendimento para facilitar o convívio desta população, para que possa viver de forma digna e saudável, sem depender totalmente de outras pessoas na sua rotina da vida diária.

Todos os temas abordados foram importantes, mas quando foi refletido sobre a matéria Bioética, longevidade, fui percebendo que a palavra morte que é tão difícil de ser questionada por nós… Ela precisa ser mais discutida entre as pessoas e os nossos familiares, e que a partir do nosso entendimento sobre a vida, passamos a entender que a morte é o fim dos órgãos de um corpo que se iniciou desde o seu nascimento, e dependendo da crença de cada um a morte tem um significado, sendo vista de formas diferentes.

Falar sobre cuidados paliativos trouxe também uma gama de esclarecimentos e a certeza de que é preciso respeitar o desejo do outro sempre, saber acolher, escutar, e reverenciar o seu pedido. Foram recomendados filmes e artigos durante o curso, todos de um conteúdo riquíssimo e esclarecedor, material de extrema importância para o nosso dia a dia.

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A leitura do livro do autor Hendrik Groen, intitulado “Tentativas de Fazer Algo da Vida“, foi muito esclarecedora. A obra mostra o quanto é importante ter autonomia e sermos capazes mesmo com dificuldades. Ter poder de decisão e de questionar e se reinventar, lidar com as inconstâncias da vida, de como ter 83 anos e saber reconhecer que tudo é diferente e complexo, do quanto é difícil ser esquecido pela sociedade e também pelos familiares por ter muita idade, ser velho…

Os relatos escritos no diário de Groen, no asilo em Amsterdã, mostram em alguns trechos o quanto morar em um outro espaço com outras pessoas que não são seus familiares e que se tem por finalidade ser cuidado até a sua morte é estar sempre em contato com o fim, pois dali não há outros pensamentos a não ser o fim da sua vida, gerando todo um sofrimento e fazendo com que os mesmos queiram antecipar esse fim.

Groen foi bastante crítico e reflexivo em seu diário, mostrando possibilidades que não são abordadas pelas políticas públicas, pois é de grande importância o conhecimento, esclarecimento e valorização das pessoas em que se encontram nesta fase da vida, e que envelhecer é transformar e se reinventar, sempre.

Por fim, entender que a vida é mais que sobreviver. Vai muito além disso, é poder ter ambiente e um espaço que propicie se reinventar, ser social, é a construção e a busca pelo prazer, ter saúde física, espiritual e mental, não aceitar qualquer lugar e sim poder fazer escolhas, pois a velhice é longa e precisa ser bem vivida.

Termino este relato com um poema de William Shakespeare:

Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas.

Nota da redação

O curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento está com inscrições abertas para a próxima turma.

Início: 11 de agosto de 2018
Término: 17 de novembro de 2018
Dia da semana: sábado
Horário: das 9h às 13h

Maiores informações: Tel.: (11) 3124 9600

 

(*)Lucimaura Pereira da Silva é graduada em Serviço Social, pós-graduada em Saúde Pública com Ênfase em Programa Saúde da Família, com experiência em Políticas Públicas de Saúde (CAPS AD, Infantil e Adulto) Unidade Básica de Saúde (UBS) e Centro de Acolhida, Prefeitura de São Paulo-SP. Texto escrito para o curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, no segundo semestre de 2017. E-mail: [email protected]

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