Envelhecimento e Sabedoria (O tempo e o Vento)

Entre as coisas que o Senhor Deus escondeu aos sábios e poderosos deste mundo, em todos os tempos e lugares, revelando-as apenas aos mais pequeninos, mesmo que no seu último suspiro, entre tais tesouros do Espírito Santo, o mais precioso, sem dúvida, é a Sabedoria.

A. C. Guerra da Cunha

 

“Toda a Sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com Ele” (Eclo.:1 , 1 ) … “Ela foi gerada antes de todas as coisas e existe antes dos séculos, antes do tempo e do mundo… e o Verbo de Deus nos céus é fonte da Sabedoria… mas é o Temor de Deus quem nos dá felicidade e vida longa. O Temor de Deus é o inicio e a plenitude da Sabedoria”( Eclo.:1 , 5-20 ).

Refletindo sobre estes dois acontecimentos que marcam a nossa breve e conturbada existência, falamos sempre sobre o tempo (ou os tempos) e sobre o vento, ou os ventos que sopram em muitas direções e que impelem os mortais contra os elementos naturais e contra os seus iguais, nesta cidade onde se cruzam os pensamentos dos homens e a misericórdia de Deus.

Mesmo para os mais simples e menos letrados, sempre há que se meditar e recordar sobre o tempo de duração da nossa vida e sobre a eternidade da vida de Deus. É claro que eu penso que você, amigo leitor, mesmo velho, como eu, ainda acredita em Deus, não é?

Os antigos, ainda não usufruindo os aparelhos e instrumentos científicos para a medição e previsão do tempo, costumavam observar os movimentos dos ventos e as estações do ano, para prever os acontecimentos naturais. Os verdadeiros sábios aprenderam a perceber o sopro do Espírito e a reconhecer nos acontecimentos do cotidiano a presença do Verbo de Deus, ou da Sua Vontade soberana.

Os costumes e as modas, assim como tudo o mais que diz respeito ao ser humano, tem seu tempo apropriado. Há tempos de fartura e de miséria, de guerra e de paz, há tempo para viver e há tempo para morrer… Mas há um tempo especial, do qual somente os humanos podem participar e usufruir, que é o tempo da velhice.

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Há dois tipos de velhice, é bom que já se conheçam: aquela contabilizada em anos de vida (tempo de Chronos) e que nos faz velhos depois dos sessenta, e aquela que se refere à nossa experiência pessoal em viver o tempo e fixá-lo na nossa memória: tempo Kairós, que nos dá o conhecimento de quem somos e de como fomos nos transformando naquilo que somos hoje, independentemente de termos “criado juízo” quando ainda moços ou somente depois de velhos; ou mesmo quando, mesmo passados em anos, continuamos a nos comportar e pensar como eternos colegiais adolescentes.

De qualquer forma, pode-se dizer que o tempo “é a carne”, ou, em outras palavras, o tempo sou eu e as minhas circunstâncias pessoais, sejam elas físicas, genéticas, congênitas ou psicológicas. O vento é o espírito, ou para melhor comparar, o vento é o mundo, são os outros, as inspirações, os afetos, a vontade e os propósitos…

Tempos e ventos podem soprar e reinar sobre o coração humano. Sempre haverá bom tempo e tempos maus. Sempre haverá o sopro do Espírito e o vento tempestuoso das paixões desenfreadas. Quem chega à velhice, assim sem mais nem menos, se ressente dessas vivências entrelaçadas onde, de regra, a emoção fala mais alto que a serenidade da sabedoria. E o velho, olhando para trás, não consegue encontrar sua verdadeira identidade. Amadurecido “à força” e pela força das suas circunstâncias, o velho homem passional é como que um prisioneiro do corpo e do passado. Pode ser que deixe uma história de vida para os que lhe sobreviverem, todavia, estando ainda vivo, mal pode desfrutar da sua vida. Só conhece ressentimentos, frustrações e rancores. Seu presente é um rosário de sentimentos e emoções mal resolvidas e seu coração é pleno de mágoas e saudades. O velho sente orgulho do que foi, nunca do que é… O velho tem medo da vida e horror da morte. Se foi culto, transforma-se em prepotente e cruel, se ignorante, egoísta e ranzinza. Em muitos casos, ciumento, despudorado e licencioso, desmemoriado, demenciado.

Mesmo que passe dos noventa e mesmo entre os maiores luminares das universidades, às vezes se encontra feras empedernidas.

Vejamos, porém, um só modelo de velhice exemplar: Saúde razoável na mocidade e precária depois dos 70. Apesar de doença neurológica grave e evolutiva, 83 anos de idade e há 26 no comando da maior instituição do universo. O Santo Padre, como todos os santos de todas as idades e épocas, é um testemunho de que a Sabedoria da velhice realmente vem de Deus e que ela só é vivida pelos que “crendo no Nome do Verbo de Deus, no nome de Jesus, receberam o poder de se transformarem em filhos de Deus e não só filhos, mas herdeiros do Seu Reino”.

Permitam-me, pois, um breve elogio à maturidade, pois é ela que dá espaço à sabedoria, no processo do envelhecimento. Não se pode deter o tempo nem resistir aos ventos do mundo, mas o amadurecimento natural é fruto da boa vontade, da justiça e da paciência.

Envelhecer na maturidade é o mesmo que conquistar a santidade é purificar o coração, é adquirir uma verdadeira visão de si e do mundo…. O importante não é saber-se quando começou esse processo, ou quando ele vai se manifestar em sua totalidade. O que conta é que ele esteja caminhando… Não importa a idade que tenhamos, se somos pessoas maduras, se o nosso coração aperfeiçoou-se a ponto de nos introduzir no Reino da Verdade. E esse Reino sem fim começa justamente com a maturidade e a pureza do coração. No céu não há velhos, o tempo não existe, ali somente permanecerá a caridade, o amor, o Espírito de Santidade. No tempo do mundo, porém, “serão bem-aventurados apenas os que tenham um coração puro, pois apenas eles verão a Deus”. Eis a maturidade, eis o segredo da sabedoria: “Olhos que superam as aparências e são capazes de enxergar o vento… Olhos glaucos, se preferem os de Minerva, a velha Palas Atena. Mas olhos capazes de ver no ocaso do dia, na escuridão dos sentidos e do prazer, na noite da velhice.

Você pode estar bem velho, ou talvez ainda se iludindo com alguns momentos de entusiasmo e disposição. Cuide, entretanto, para que não esteja cego.

A velhice, poder-se-ia dizer, tem somente duas opções: A Sabedoria ou a insensatez ; a Santidade ou a demência.

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