Envelhecer: uma realidade que conduz a novos hábitos e “jeitos” de ser e estar na vida

Que o Brasil está envelhecendo, isto já não é mais novidade para ninguém. O que não imaginávamos é que, um dia, chegaríamos a resultados tão alarmantes. Segundo números do Censo 2010, o país possui quase 191 milhões de habitantes: 13% de 0 a 9 anos, 19% de 10 a 19 anos, 61% de 20 a 64 anos e 7% de 65 a 100 anos ou mais.

 

 

envelhecer-uma-realidade-que-conduz-a-novos-habitos-e-jeitos-de-ser-e-estar-na-vidaSegundo a reportagem “População envelhece, e idosos aderem a novos hábitos”, assinada por Flávia Gatti e produzida por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, do Rudge Ramos Jornal, a explicação para que esse número cresça é simples: baixo crescimento populacional, aliado à diminuição da taxa de fecundidade e natalidade, e aumento da expectativa de vida. Há quem diga que em 2050 o Brasil terá cerca de 63 milhões de idosos, o que significa que existirão 173 idosos para cada 100 jovens.

Com essa mudança no perfil da população brasileira, uma nova configuração de vida se faz necessária, novos arranjos levarão a alteração nos hábitos e costumes da terceira idade. Falamos de um público bastante heterogêneo de consumidores, isto sem citarmos as diferenças culturais e de formação. Como dispõem de tempo para fazer compras, esse pessoal vai ao supermercado, passeia, viaja e se deleita com os programas culturais.

Segundo dados da pesquisa “O panorama da maturidade”, da Gfk Indicator, estamos falando de uma população de tem uma renda que soma R$ 7,5 bilhões ao mês. Esse valor representa o dobro da média nacional, Ao contrário do que se pensa, esse público não é nada conservador. Nos últimos 10 anos, a renda desse grupo vem melhorando. O IBGE não possui dados sobre a população economicamente ativa idosa, mas a população com 50 anos ou mais representa, aproximadamente, 21% desse público, de acordo com o levantamento de julho deste ano. Isso possibilita que ele se interesse mais pelas compras e, portanto, as planeje melhor. O que eles realmente querem é aproveitar melhor a vida.

E “aproveitar a vida” significa permitir-se estar no mundo e usufruí-lo da melhor maneira. Como, atualmente, as informações chegam mais facilmente a casa das pessoas, tudo parece estar a mão: compras pela internet, museus do mundo todo com visitas virtuais, a televisão levando sonhos, mas também possibilidades reais, ou seja, tudo é tão maravilhoso e atraente que não há como resistir.

Poderíamos citar inúmeros exemplos, a começar pela estética. Nunca, as clínicas de rejuvenescimento com seus “mimos” milagrosos fizeram tanto sucesso. A indústria de cosméticos brinda os resultados e com razão. Graças à inovação tecnológica, é possível encontrar produtos para todas as idades e bolsos.

O mercado de cosmético, assim como o setor bancário e as instituições de ensino começam a enxergar esse público como promissor. De acordo com números divulgados em 2008 pelo Instituto de Pesquisas Datafolha, somente 5% dos idosos têm acesso à internet no país. Embora o índice seja pequeno, já causa mudança, pois, quanto mais acesso à informação o idoso tem, mais ele se torna aberto a novas experiências. Diversas faculdades já oferecem cursos destinados aos idosos.

Pela pesquisa da Gfk Indicator, os consumidores da terceira idade revelaram um desejo de serem incluídos, e não separados, das outras pessoas na hora de serem retratados pela mídia. De fato, a segmentação adquire, muitas vezes, uma conotação um tanto preconceituosa. E isso pode ser visto no comércio em geral, quando um idoso chega a uma loja e o atendente, antes de qualquer coisa, pergunta se o mesmo quer sentar e descansar “um pouco”. Esta é uma situação muito comum que irrita os idosos, eles dizem que se sentem fazendo parte de alguma “espécie” diferente do gênero humano.

Atenção: aquele que envelhece nos dias de hoje quer pertencer a muitas coisas, muitas tribos e grupos. Melhor, até em casa pode existir prazer, por que não? Assistir televisão é uma boa diversão, distrai e também estimula. Ler revistas, jornais e livros são atividades que os levam a outros mundos, à realidade, à ficção e tudo com muito romance. Entre as atividades praticadas fora do lar, estão as idas à igreja, ao shopping, caminhadas e prática de esportes.

A pesquisa mostra que em relação às despesas, as maiores são com supermercados (24% do total de gastos), planos de saúde (9%), luz e telefone (ambos com 6%). Quando se trata de gastos pessoais, as compras de remédios lideram o ranking (10%). Em seguida, vêm os investimentos em viagens (mais da meta dos idosos viaja ao menos uma vez no ano).

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Entretanto, apesar da mudança percebida, com que o mercado enxerga o idoso hoje, parece que o caminho ainda não está suficientemente claro para os executivos “marketeiros”. Hoje, as estratégias de marketing para atrair esse público ainda são frágeis, precárias e fracas de conteúdo. Um exemplo é o mercado da moda.

A reportagem conta que uma moda direcionada exclusivamente ao público idoso é praticamente inexistente no país, segundo o estudo “Idoso, moda e sedentarismo: possíveis relações”, publicado na revista “Arquivos em Movimento”. Na análise, os autores explicam que, com as mudanças que ocorrem no organismo (sedentarismo, perda de massa magra, decréscimo de estatura, aumento na gordura abdominal, flexão do tronco), surgem as limitações físicas e funcionais. Isso acaba refletindo no modo de se vestir dessa população, que passa a priorizar a funcionalidade das roupas.

O que fica claro é que os idosos não encontram outras possibilidades na forma como se vestem. E para não ficar “diferente” ou flertar com o excêntrico, optam pelo igual, parecendo até uniformizados. Mas algumas grifes atentas para estas questões e reclamações de muitos consumidores começaram a criar um tipo de moda que possa atendar a expectativa daquele que envelhece, sem fazê-lo parecer um adolescente ou descaracterizado do como ele é e se sente. A roupa veste nossos corpos, mas acima de tudo, nossa alma que fala através desse belo ou, eventualmente, ridículo envoltório.

Observando estas questões, surgiu no mercado, em 2008, a Sharisma, primeira grife de moda brasileira direcionada para a terceira idade. A ideia partiu da empresária e proprietária do CIAI (Centro Integrado de Atendimento ao Idoso), Vanda Calgaro, 47, que já trabalhava com essa parcela da população há mais de 20 anos.

Vanda explica: “A clínica foi o nosso laboratório. No dia a dia é que notamos que o mercado tinha necessidade desse investimento. Passo a passo fomos testando os produtos, vendo o que era viável ou não, e para isso contamos com a ajuda de uma estilista. O que buscamos é facilitar a vida do idoso e de quem o auxilia”.

Para a empresária, peças como cardigans de tricô ou crochê, camisas de colarinho bordado, saia marrom até a canela, meião com chinelo e uma manta bem quentinha sobre os ombros deixam de ser a única opção para compor o visual da mulher madura. “O look ‘Dona Benta’ já era. Hoje, elas, que são bastante exigentes, priorizam qualidade e acabamento, mas tem que ter um charme, um detalhezinho.” Já a preferência masculina é por blusões de botão em vez de camisas de malha.

Um “Personagens fora do comum”? Pode ser. Aurora Carcelan Salvador representa exatamente o perfil do novo idoso brasileiro. Trata-se de uma senhora com 79 anos cheia de alegria e simpatia, super vaidosa e com uma necessidade constante de estar em movimento.

Aurora nasceu em Jaboticabal, interior paulista. Seus pais eram espanhóis e vieram como refugiados para o Brasil, no período da 2ª Guerra Mundial, após ver os irmãos serem fuzilados. O maior período da vida morou aqui, exceto os três anos em que ficou nos Estados Unidos.
Aurora perdeu três companheiros: com dois deles casou-se oficialmente, sendo que o primeiro casamento (aos 19 anos) durou 35 anos e o segundo, 11; o terceiro foi um namoro de dois anos. Não teve filhos. Ela diz que para fugir da solidão mantém uma agenda sempre cheia de atividades: “Eu não paro. Detesto ficar sozinha. Gosto de estar sempre rodeada de amigos, conversando. Nunca entrei em depressão.”

Não se importando com as tão faladas limitações da idade, ela conta que está se preparando para uma apresentação de dança flamenca, que acontecerá no final do ano. Ela ainda disputa campeonatos de bocha e vôlei. “As castanholas eu ainda não toco muito bem, mas na raia de bocha me garanto, afinal, são cinco anos de treino”, afirmou.

Terças-feiras e quintas-feiras ela joga vôlei, quartas-feiras faz aula de flamenco e nas sextas-feiras joga bocha. Aos sábados, passeia com as amigas e, aos domingos, faz dança de salão. O único dia da semana que tem vago, por opção, é a segunda-feira. Quer mais: fala espanhol fluentemente e tem conhecimentos de inglês, já viajou por boa parte do Brasil e para outros cinco países, sem contar as três viagens de navio que a fizeram conhecer a América Latina.

Como bem se pode ver, a agenda de Aurora é lotada, mas mesmo assim ela reserva um tempinho para a vaidade. Sair de casa sem passar batom, jamais. As unhas, ela pinta todas as semanas. “É bom ser vaidosa. Sempre acontece uma paquerinha nos bailes. Isso faz bem para o ego, para a autoestima”.

Aurora sabe aproveitar o que a vida lhe oferta. Ela finaliza, dando um novo panorama do envelhecimento contemporâneo: “Hoje não é como antigamente. A chegada da idade já não é mais um problema. Minha mãe era uma velhinha. Eu, embora também já tenha uma idade avançada, aproveito a vida da melhor forma possível, ou seja, me distraindo e divertindo”.

Referências
GATTI, F. (2011). População envelhece, e idosos aderem a novos hábitos. Disponível Aqui. Acesso em 26/11/2011. Foto: Flávia Gatti/RRJ.

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