Efeito Borboleta

O passado é soberano e deve descansar em paz. Nosso tempo vivido e aquele que está por vir estão e estarão sempre impregnados de passado, imutável e único. É disso que se trata o filme Efeito Borboleta.

Escrito por Barão de Lavapés

Existem três tempos: o presente do passado, o presente do presente, o presente do futuro. Porque esses três tipos de tempo existem em nosso espírito, e não os vejo fora dele. O presente do passado é a memória; o presente do presente é a intuição direta; o presente do futuro é a espera. (Santo Agostinho, Confessions, XI, 20)


Creio que desde que o mundo é mundo, cada um de nós, por razões diversas, guarda um desejo secreto de viajar no tempo. Você pode pensar: qual a intenção? Bem, quanto aos outros, não sei, falo apenas por mim. Retornar, que benção, ter a chance de reparar uma determinada escolha, mudar o curso de um acontecimento ou evitar um sofrimento alheio ou até impedir a perda de quem amamos. Mas, supondo que recebêssemos essa graça divina ou, quem sabe, para alguns, essa terrível maldição, alcançaríamos o desejado?

Um simples movimento de volta, uma pena lançada no oceano e… múltiplas consequências que, seguramente, reverberarão por todo sistema, incontroláveis, ensandecidas.

Que definição poderíamos dar para esse impulso que nos arranca do presente e nos arrasta rumo ao passado em busca de reparação, conserto, mudança ou apenas a simples tentativa de ajeitar da melhor forma possível tudo para todos?

É nesse movimento cíclico e incessante de reparação que o filme “Efeito Borboleta” (2004, direção: Eric Bress e J. Mackye Gruber) navega, sempre em águas turbulentas de lembranças contando a história de Evan (nosso protagonista) e de seu grupo de amigos Kayleigh, Tommy e Lenny.

Inicialmente, conhecemos Evan aos sete anos, sua mãe, seu pai doente e todo contexto de um drama familiar. Em um certo dia eventos estranhos e incompreensíveis denunciam que algo preocupante acontece com o menino.

Agora vemos Evan aos treze anos tomado literalmente por súbitos apagões, acontecimentos que o levam a uma frustrada hipnose e que só aceleram o desespero do jovem em compreender o que lhe acontece.

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O tempo passa e nesse momento Evan já é um rapaz de vinte anos, um brilhante estudante de psicologia. Importante ressaltar que o filme se organiza em ciclos da vida: infância, juventude, idade adulta com todos os respectivos acontecimentos registrados em diários, conteúdos que se revelam como gatilhos para o movimento de retorno ao passado, ou seja, uma tentativa de recuperar o perdido durante os tais apagões: é a invasão das lembranças.

Consciente de seu dom de alterar o passado e, consequentemente, o presente, Evan se dá conta que para cada ato de mudança, a imprevisibilidade de um novo presente se torna arrasadora e que, por mais que ele tente consertar o feito anterior, algo muito diferente acontece.

É que o mero bater de asas de uma simples borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e, quem sabe, talvez, provocar um tufão do outro lado do mundo (Teoria do Caos).

“Efeito Borboleta” ainda nos reserva um final alternativo que, a meu ver, é ainda melhor.

Bem, resta apenas sabermos que o passado é soberano e tal como é, deve descansar em paz. E jamais esquecer: nosso tempo vivido e aquele que está por vir estão e estarão sempre impregnados de passado, imutável e único.


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Luciana Helena Mussi

Engenheira, psicóloga, mestre em Gerontologia pela PUC-SP e doutora em Psicologia Social PUC-SP. Membro da Comissão Editorial da Revista Kairós-Gerontologia. Coordenadora do Blog Tempo de Viver do Portal do Envelhecimento. Colaboradora do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected].

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