Doença de Alzheimer na fase prodrômica, ou seja, na pré-demência

Doença de Alzheimer na fase prodrômica, ou seja, na pré-demência

O assunto principal foi os avanços em Comprometimento Cognitivo Leve bem como divulgar dados de um estudo nutricional envolvendo o equilíbrio de múltiplos nutrientes ainda na fase prodrômica da doença, isto é, fase indicativa de sinais e sintomas que prenunciam a Doença de Alzheimer.

 

O Portal do Envelhecimento participou do II Simpósio Internacional sobre Avanços em Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) no último dia 14 de Abril em São Paulo. O evento tratou dos seguintes temas: a necessidade da identificação da Doença de Alzheimer ainda na fase prodrômica, ou seja, fase que é indicativa de sinais e sintomas que prenunciam a Doença de Alzheimer; as atualizações sobre o diagnóstico; a nutrição como quesito benéfico neste contexto; e a importância de estratégias não farmacológicas nesta fase.

Mas o assunto principal mesmo foi sobre os avanços em Comprometimento Cognitivo Leve bem como a divulgação de dados de um estudo nutricional envolvendo múltiplos nutrientes ainda na fase prodrômica da doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência entre idosos, incurável, de causa desconhecida, e cuja frequência aumenta significativamente com a idade. Ora, como ela é uma enfermidade crônica de evolução lenta, o impacto econômico sobre a sociedade é considerável. Daí o interesse de muitos grupos em pesquisá-la, na tentativa de achar novas drogas para retardá-la e até impedir a instalação de um quadro demencial.

O evento foi mediado por profissionais da área como o Dr. Paulo Caramelli, Neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais; Profº Tobias Hartmann, Especialista em lipídios e nutrição na Doença de Alzheimer, diretor do Instituto Alemão de Prevenção à Demência; Dr. Paulo Bertolucci, Neurologista e docente da Universidade Federal de São Paulo e, Dr. Wilson Jacob Filho, médico Geriatra e diretor do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O encontro reuniu mais de 140 profissionais atuantes no contexto da Geriatria e Gerontologia do país.

A Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa e progressiva que leva ao declínio de funções cognitivas importantes como memória, atenção, funções executivas, linguagem percepção, entre outras; funções que permitem interagir com o mundo. É o tipo de demência que mais acomete a população, em torno de 60 a 90% e, por se tratar de uma doença recente, pouco mais de 110 anos, os estudos com o objetivo de descobrir sua causa e, tentar postergar o início e avanço da doença, ainda está caminhando em direção a novas descobertas.

Prodrômica é a fase pré-demência

Nesta perspectiva, a medicina está dando maior atenção à identificação da doença ainda na fase prodrômica, ou seja, uma fase anterior à demência, bem no início, onde surgem os primeiros sintomas indicativos de uma patologia clínica e que ainda não oferece possibilidade de diagnóstico. É uma fase com comprometimentos cognitivos e funcionais leves, mas perceptíveis. Nesta fase, a função cognitiva mais comprometida é a memória episódica, responsável pelas experiências individuais passadas que ocorreram em um determinado evento e lugar.

Estima-se que a fase prodrômica possa durar em torno de 6 anos e, em conjunto com outras fases que antecedem à demência – como a fase assintomática e o comprometimento cognitivo leve -, mostram que no mínimo há 15 anos a doença já esteja agindo no cérebro. Em 2011 pesquisadores reconheceram que a Doença de Alzheimer não tem seu início com o aparecimento dos sintomas e com a presença obrigatória de demência. Na realidade, as lesões que vão determinar o comprometimento cognitivo começam a ocorrer muito antes dos primeiros sintomas, anos, até décadas.

Por ser considerada uma fase pré-demência, a janela existente entre uma fase e outra cria oportunidades de intervenção ainda em estágios iniciais levando em consideração que ainda não há tratamento farmacológico para indivíduos na fase prodrômica da doença. Aliás, como essa fase pré-clínica é longa, pesquisadores apostam na possibilidade de intervenções que modifiquem o curso natural da doença.

O desafio para esta fase da doença é conseguir postergar o avanço dela, e aí surge uma pergunta importante: como fazer isso?

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Consenso entre os médicos do evento, uma possibilidade é tentar corrigir os fatores de risco para a doença como hipertensão, colesterol alto, hipotireoidismo, sobrepeso, depressão, tabagismo, diabetes, inatividade cognitiva e física entre outros; promovendo uma melhora sintomática e mantendo de forma regular atividades protetoras. É importante sinalizar que a frequência das atividades protetoras é importante neste momento. Logo, atividades intelectuais, adequação nutricional, atividades físicas são consideradas de extrema importância nesta fase.

Além desses fatores, outro bastante significativo é a escolaridade, embora este fator não seja passível de correção, podemos aprender novas coisas a todo momento, pois a educação modifica estruturalmente o que nos interessa no cérebro e cria reservas cognitivas que também ajudarão no futuro.

Nutrição como neuroproteção: intervenção não farmacológica

Mas, o mais discutido neste evento foi em relação à nutrição na fase prodrômica da doença. A dieta é fator de risco modificável para demência e, uma readequação alimentar pode mostrar efeitos sobre o cérebro, agindo como uma neuroproteção.

Foi apresentada a pesquisa patrocinada pela União Europeia chamada ‘LipiDiDiet’ que estuda o impacto pré-clínico e clínico da nutrição na doença. Essa pesquisa resultou em intervenções dietéticas em um período de dois anos em 153 pessoas na fase pré-demência de um componente nutricional composto por múltiplos nutrientes considerados neuroprotetores, conhecido como Souvenaid. O estudo foi publicado no periódico científico The Lancet Neurology. O objetivo foi proporcionar neuroproteção fornecendo compostos que possam limitar a velocidade de síntese fosfolipídicas e em múltiplos processos patológicos relacionados à doença. Dados do estudo pontuaram que houve melhora na funcionalidade cognitiva do indivíduo. Mas essa melhora só se deu porque a ingestão diária foi ininterrupta no período do estudo e uma vez iniciada sua ingestão, ela deve ser até a morte, senão perde seu efeito. Só para se ter uma ideia do custo desse suplemento, um pacote contendo 4 potinhos custa R$ 73,23. Ao mês se gastaria cerca de R$ 550,00. Quem terá acesso a esse suplemento? No país como o nosso, cuja saúde está sucateada, onde não há investimento público nem privado para o diagnóstico da doença, haveria interesse em investir na sua prevenção?

Qual é o segredo desse suplemento?

O Souvenaid é um componente nutricional composto por substâncias como Ácido fólico, Colina, Fosfolipídeos, vitamina B12, B6, C, D, Selênio, DHA e EPA (ômega 3). Todos esses compostos em conjunto permitem um aumento da fluidez e funcionalidade da membrana do cérebro, tendo papel importante na neuroproteção. Seus nutrientes muito bem combinados contribuem para manutenção das sinapses e conservação da integridade da membrana neuronal.

É cada vez mais amplamente divulgada a importância de intervenções não farmacológicas na Doença de Alzheimer como forma de postergar o avanço da doença como readequação alimentar, atividade física, estimulação cognitiva. Com relação à readequação alimentar, sugere-se que a dieta do mediterrâneo seja a mais equilibrada com alta ingestão de frutas, verduras, legumes, cereais, peixes, vinho, oleaginosas, considerada protetiva para a doença.

A Atividade física também é de suma importância, visto que proporciona benefícios diretos sobre a substância Beta-Amilóide e auxilia na preservação dos neurônios, reduzindo a inflamação no cérebro. A estimulação cognitiva também é importante fator protetivo uma vez que, através de atividades e exercícios programados de acordo com a demanda de cada indivíduo, tem duas funções importantes: criar reservas cognitivas que irão proteger nosso cérebro por tempo determinado e individual e, realizar a manutenção das funções cognitivas que estão preservadas a fim de postergar o avanço da doença.

Outros fatores como o social também devem ser considerados já que, estudos apontam que a socialização é fator protetivo para a Doença de Alzheimer. Grupos para troca de experiências também são considerados suporte necessário para os cuidadores destes indivíduos com a doença.

A informação sobre a Doença de Alzheimer e os primeiros sintomas indicativos ainda são um entrave para o diagnóstico visto que alguns sintomas ainda são considerados parte do envelhecimento ‘normal’.

A pergunta que não calou foi: E quando vamos conseguir retardar os efeitos da Doença? A resposta foi enfática: Quando conseguirmos identificar a fase pré-clínica da doença na população, fazendo testes preditivos. Porém, para isso deve haver investimento, pois os exames utilizados para esse diagnóstico são extremamente caros e tanto os convênios quanto o SUS não os bancam.

Neste sentido, observa-se que as futuras mudanças previsíveis para a Doença de Alzheimer serão o diagnóstico e tratamento em fases mais precoces possíveis, mudando radicalmente a perspectiva para os indivíduos acometidos pela doença e que ainda não sabem que a têm, nem seus familiares e nem seus médicos que as acompanham.

(*)Beltrina Côrte colaborou na elaboração desta matéria.

Simone de Cássia Freitas Manzaro

Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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