Diversidade na velhice

Diversidade na velhice

Até um tempo atrás eu achava que toda velhice tinha um padrão a ser seguido. Tinha de ser bem-sucedida, ativa, não pensava que o ser humano tem sua história de vida, suas singularidades. Não há uma velhice certa a ser seguida.

Natacha Paradella (*)

 

O que é ser velho? Existe um padrão a ser seguido?

Desde que os seres vivos nascem já ocorrem em seus corpos mudanças relacionadas ao ciclo de vida. A vida em si é um processo, um ciclo existencial, social, cultural, psíquico e biológico. Envelhecer é parte deste processo, uma das várias fases que o compõe. A velhice, parte natural da vida, nada mais é do que uma categoria socialmente produzida/construída: cada cultura determina quando um indivíduo é considerado velho para exercer determinadas atividades.

A mídia constrói expressões sobre o envelhecimento na qual ela acaba sendo alvo de um contingente de estereótipos. As várias formas de discriminação que a mídia idealiza na e para a sociedade é que o velho é bom, sábio, generoso, responsável pela transmissão de valores até a visão do velho implicante, repetitivo, ranzinza, ditador, egoísta, gagá. Acredito que ser velho ditador vai muito de sua cultura familiar e social, como ele foi criado.

Conforme o filósofo Edgar Morin destaca e que já sabemos, a velhice – querendo ou não – é a fase da vida que está próxima a morte, sendo assim, ela é vista como uma recusa, é rejeitada. A sociedade a associa ainda como sendo um peso.

A velhice pode ser sentida como descrito, ou não, e deve ser contextualizada, ligada não apenas ao tempo biológico, mas a um pensar no envelhecimento enquanto processo multifacetado e multideterminado. Tem-se, portanto, duas velhices: uma objetiva, demográfica, biológica e outra subjetiva: a velhice que queremos e vivemos.

Portanto, entende-se que não há um padrão de envelhecimento. Essa fase da vida é vivida por cada indivíduo de uma maneira diferente. E assim como qualquer outro ciclo da vida será vivida conforme a cultura, histórico de vida…

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Reflexões sobre os “tempos” da velhice

A principal referência que tive ao escrever este artigo foi minha vó e a vó de meu esposo. Antes de realizar o curso Fragilidades na velhice: Gerontologia social e atendimento, promovido pela PUC-SP, eu tinha alguns preconceitos sobre como o velho tem que se comportar diante da velhice, mas não no sentido conservador, e sim em ter sua autoestima para cima.

Antes de conhecer meu esposo, há 8 anos, eu só tinha como referência a velhice de minha vó, e minha vó depois de ter ficado viúva há alguns anos, passou a viver a sua vida com liberdade. Já a vó de meu esposo é o oposto da minha vó, uma pessoa calada, triste por ter um histórico familiar complicado.

Onde eu quero chegar?

Como estava dizendo, antes de realizar o curso eu tinha meus preconceitos em relação a como os velhos estão envelhecendo, no sentido de que eles próprios se enxergam como pessoas inutilizáveis, ou com o discurso de que já não têm mais idade para tal coisa.

Após iniciar o curso, fui percebendo que não só a velhice, mas tudo em nossa vida tem o outro lado da moeda. Não existe uma única forma de ser velho, de olhar para a velhice, um único padrão de envelhecimento e sim diversos entendimentos dela.

De acordo com Luciana Helena Mussi e Ruth Gelehrter da Costa Lopes o exercício da vida nos leva a crer que a literatura oferece farto material sobre o processo de envelhecimento contemporâneo. Além de ajudar a compreender pessoas e culturas, o que me possibilitou entender a vida que a vó do meu marido escolheu levar/ter, também pode ser utilizado como estratégia didática na compreensão das necessidades e desejos dos sujeitos envelhescentes.

Minha visão de velhice era que o velho tinha que ser ativo, querer participar de grupos denominados para a “terceira idade”. Várias vezes questionei minha vó se ela não queria ir em bailes, no bairro em que ela mora há um espaço para esse evento, mas tive a grande surpresa quando ela me respondeu dizendo que não gostava dessas atividades. Minha vó tem seu próprio jeito de levar a vida/velhice e é isso que me chama a atenção, mas não posso omitir um fato que possibilitou essa liberdade dela, a morte de meu avô, um senhor machista em uma sociedade machista.

Tenho poucas recordações dessa época, mas relatos de minha mãe confirmam que minha vó era uma pessoa submissa ao meu avô. Quando meu avô faleceu, é claro que foi uma grande tristeza, ele era acima de tudo um homem bom, eu o amava muito… mas quando ele faleceu, minha vó, hoje com 81 anos, passou a viver a vida dela, fazer coisas que gosta e que antes não podia, com liberdade e muita alegria.

(*)Natacha Paradella escreveu esse texto no curso Fragilidades na velhice: Gerontologia social e atendimento, promovido pelo COGEAE/PUC-SP, no primeiro semestre de 2017. E-mail: [email protected]

 

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