(Des) encontro de gerações

(Des) encontro de gerações

Os jovens de ontem são os idosos de hoje. O que há de comum entre as gerações mais velhas e as de hoje? E entre a juventude de ontem e a de nossos dias?


Quais são as semelhanças e as diferenças no comportamento das gerações dos anos 1960 e as gerações dessa terceira década do terceiro milênio? De que modo o fim da Guerra Fria, a exacerbação do consumismo, as novas relações de produção e a revolução tecnológica tem impactado o modo de vida de jovens e velhos e a relação entre os grupos etários? Como tantas transformações culturais alteraram as relações na família, no trabalho, na escola e nos espaços públicos de modo geral?

Nos emblemáticos anos da década de 60 do século passado, muito se viu e se comentou sobre o protagonismo da juventude no mundo ocidental. A revolta dos jovens americanos contra o imperialismo e a Guerra do Vietnã. A rebelião dos estudantes e operários em maio de 68 em Paris, os movimentos estudantis contra as ditaduras militares na América do Sul. Uma juventude que encantou Margareth Mead (1969) com a promessa de um ativismo revolucionário.

Por isso tudo, o debate sobre o conflito de gerações estava na ordem do dia, inclusive no âmbito familiar em relação ao autoritarismo dos pais. Os jovens daqueles anos são os idosos de hoje. O que há de comum entre os velhos de ontem e os de hoje? E entre a juventude daquele histórico momento e a de nossos dias?

Claudine Attias Donfut (1988) considera que não há mais aquele antagonismo tão agudo entre mais velhos e mais novos em decorrência de uma educação dos filhos mais permissiva. Twenge (2018) radicaliza essa ideia dizendo que os jovens atuais preferem o conforto da casa dos pais e não têm nenhuma pressa em tornarem-se adultos. E quanto ao futuro, como ficarão as relações entre pais e filhos e entre avós e netos, com o impacto do aumento vertiginoso da longevidade humana?

Yuval Harari (2016) projetando uma longevidade de 150 anos imagina situações inusitadas e perturbadores. Por exemplo, como será a vida de um casal em uma relação prá lá de duradoura, coisa de 120 anos? Ou um jovem de 20 anos ter um chefe de 140? E na política ter alguém como o autoritário Putin por oito décadas no poder?

Quando deixamos nossa imaginação vagar a respeito do futuro das relações intergeracionais, muitos cenários criamos em nossa mente. Em um futuro distante a humanidade poderá ser obrigada a buscar a sobrevivência da espécie em um planeta longínquo, situado em outro ponto da galáxia, em um outro sistema solar. Pelo fato dessas distâncias serem muito grandes, serão necessárias naves espaciais multigeracionais, já que apenas uma geração não viverá o suficiente para cobrir distâncias em viagens que poderão durar séculos.

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Michio Kaku, midiático astrônomo norte-americano, ao comentar essa possibilidade de viagens interestelares, se mostra incrédulo quanto à possibilidade das várias gerações das famílias desses astronautas colonizadores se relacionarem bem. A seu ver, os conflitos interpessoais serão um obstáculo para essa viagem de centenas de anos. Mas será mesmo que os humanos não aprenderão a viver em paz tanto com seus pares de geração, como com seus ascendentes e descendentes, nem na Terra e tampouco em outros mundos?

Ah! Não vamos nos esquecer das consequências da revolução da biotecnologia. Com a programação genética poderemos selecionar seres humanos melhores e assim melhorar as relações entre pais e filhos e entre avós e netos e não apenas gerar crianças bonitas de olhos azuis?

Referências
ATTIAS-DONFUT, C. Sociologie des générations. Paris. Presses Universitaires de France, 1988.
HARARI, Y. Homo Deus. São Paulo, Companhia das Letras., 2016.
MEAD, Margareth. Culture and commitment. A study of the generation gap. NY, Panther, 1969.
TWENGE, J. Igen. São Paulo, Versos, 2018.


Foto destaque de Askar Abayev/Pexels

José Carlos Ferrigno

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e pela Universidade de Barcelona. Especialista em Gestão de Programas Intergeracionais pela Universidade de Granada. Professor de cursos de especialização em Gerontologia. Consultor em planejamento, acompanhamento e avaliação de programas de preparação para a aposentadoria, de ocupação do tempo livre do trabalhador aposentado e de programas intergeracionais. Autor dos livros “Coeducação entre Gerações” e “Conflito e Cooperação entre Gerações”. Temas sobre os quais escreve: Relações intergeracionais na família, no trabalho e demais espaços sociais; Psicologia do envelhecimento; Preparação para a aposentadoria; Ocupação do tempo livre; Desenvolvimento cultural na velhice. E-mail: [email protected].

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Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e pela Universidade de Barcelona. Especialista em Gestão de Programas Intergeracionais pela Universidade de Granada. Professor de cursos de especialização em Gerontologia. Consultor em planejamento, acompanhamento e avaliação de programas de preparação para a aposentadoria, de ocupação do tempo livre do trabalhador aposentado e de programas intergeracionais. Autor dos livros “Coeducação entre Gerações” e “Conflito e Cooperação entre Gerações”. Temas sobre os quais escreve: Relações intergeracionais na família, no trabalho e demais espaços sociais; Psicologia do envelhecimento; Preparação para a aposentadoria; Ocupação do tempo livre; Desenvolvimento cultural na velhice. E-mail: [email protected].

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