Dança: um santo remédio

Das muitas opções que existem para colocar nosso corpo em movimento, a dança é quase uma unanimidade – se nem todos sabemos dançar, ao menos gostamos!!


Mas esse movimento que serve para nos fazer bem, não precisa ser uma dança técnica dessas que somente os profissionais e frequentadores assíduos dos salões de dança ousam arriscar. Muito pelo contrário, essas modalidades de dança que vem atraindo cada vez mais novos participantes no mundo todo, são modalidades que servem para todos nós. E, nesse sentido, existem algumas alternativas para se dançar sem dar muita importância à técnica utilizada e, sim, com o objetivo de desenvolver a consciência do movimento do corpo, da respiração, pulsação, dos batimentos cardíacos, a harmonia entre mente e corpo.

A Biodança

Uma dessas alternativas é a Biodança – originalmente: Biodanza – A dança da vida! Criada na décado de 60 pelo antropólogo e psicólogo chileno Rolando Toro Araneda, a Biodança se espalhou pelo mundo afora e desde então, tem mostrado inúmeros benefícios para a nossa saúde.

Mas o que vem a ser exatamente a Biodança? Por definição, é um sistema de integração afetiva, de renovação orgânica e de reaprendizagem das funções originais da vida, utilizando-se para isso, os fundamentos da Biologia, Antropologia e Psicologia.

Ela não é, portanto, uma terapia, um esporte ou uma dança simplesmente, e sim, “uma pedagogia da arte de viver, uma poética do reencontro humano e um convite para que se crie uma nova cultura baseada no som da vida,” nas palavras de seu criador, Rolando Toro. Seus objetivos são a promoção da saúde, da consciência ética e da alegria viver.

A Biodança foi baseada em pesquisas científicas sobre as respostas neurovegetativas a determinados movimentos. As observações indicavam relação com ações reguladoras viscerais, ativação dos sistemas simpático adrenérgico ou parassimpático colinérgico (envolvidos com a produção de adrenalina e estímulo respiratório e movimento).

Tais exercícios teriam o poder de deflagrar vivências específicas, cujos efeitos sobre a percepção de si mesmo e sobre o estilo de comunicação com outras pessoas eram altamente significativos. Daí toda metodologia da Biodança induzir vivências integradoras por meio da música, do canto, do movimento e de situações de encontro em grupo.

Os benefícios

A prática da Biodança durante três meses, com um única sessão por semana, parece ser o suficiente para melhorar o quadro de dor em mulheres com fibromialgia, por exemplo, além de aprimorar sua composição corporal. Esse é o resultado de uma pesquisa dirigida por Ana Carbonell-Baeza, do departamento de Educação Física e Desportiva da Universidade de Granada, na Espanha.

O estudo, publicado pelo Journal of Alternative and Complementary Medicine, somou-se a outra investigação semelhante, realizada por especialistas em enfermagem no Brasil. Pesquisadores das Universidades do Ceará e de São Paulo, em 2008, já concluíram que a Biodança pode atenuar patologias, como transtornos mentais, diabetes e hipertensão arterial, especialmente na população idosa.

Para Maria Angelina Pereira e Maria Luiza Appy, diretoras da Escola Paulista de Biodanza, o método idealizado pelo psicólogo chileno Rolando Toro na década de 1960 foca cinco potenciais humanos: vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência. “Todos esses elementos são acionados por meio de exercícios vivenciais, orientados para o equilíbrio das funções psicológicas e respiratória. Além disso, eles auxiliam na recuperação de habilidades motoras, eliminam tensões, rigidez muscular e sintomas psicossomáticos”, explica Angelina.

Segundo Appy, todos podem se beneficiar da prática, até mesmo portadores de alguma necessidade especial. Embora a Biodança basicamente não apresente contra indicações, Angelina afirma que algumas situações requerem maior atenção: “Casos pré psicóticos ou psicóticos devem ser acompanhados por profissionais especializados”.

As especialistas relatam ainda várias situações de superação que vão desde depressão, melhora da qualidade de vida em pacientes com Parkinson, até reabilitação de menores delinquentes. “Biodanza não cura o mal, mas melhora o ânimo dos doentes”, diz Marlise. Ela também garante que a modalidade melhora a autoestima, o humor e a comunicação. “As pessoas ficam mais conscientes de suas possibilidades e limites, e isso lhes confere maior sensibilidade em relação à própria vida”, conclui Angelina.

A Biodança pode ser vivenciada por qualquer pessoa. Os exercícios são lúdicos e trabalham as linhas de potencial. “A Biodança é a dança da vida, do amor. Pelos movimentos e pela música, a pessoa melhora os potenciais e sua relação com o mundo”, finaliza ela.

Citando o criador da dança da vida, Rolando Toro: “Biodanza é a participação em um novo modo de viver, a partir de intensas vivências pessoais induzidas pela dança”

Vivência de dançaterapia, modalidade que ajuda a aliviar a dor, as tensões e o humor

A DMT – Dança Movimento Terapia

Outra modalidade que faz sucesso, é a Dança Movimento Terapia, ou simplesmente, DMT – onde os gestos, ritmos cardíaco e biológico são orientados para promover assim a integração física, emocional, cognitiva e social. A modalidade pode auxiliar no tratamento e prevenção da ansiedade, fibromialgia, depressão, estresse, distúrbios alimentares, doença de Parkinson e até câncer. Entre os idosos, ela também aprimora as funções físicas e cognitivas.

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Todos esses benefícios têm sido observados por pesquisadores na última década, mas segundo a American Dance Therapy Association (ADTA), há mais de 50 anos a prática é pioneira no entendimento de como o corpo e a mente interagem na saúde e na doença. As sessões de DMT não são uma aula de dança onde se repetem coreografias. Trata-se de uma prática guiada por terapeutas devidamente habilitados a estimular movimentos espontâneos. As sessões podem ser individuais ou em grupo, e a técnica utiliza música e admite o uso de brincadeiras e materiais que estimulem a criatividade.

Judith Esperanza, dançaterapeuta e naturopata, diretora do Centro de Formação Internacional em Dançaterapia (Cefid-DMT), conta que esse recurso foi utilizado pela primeira vez em 1940, nos Estados Unidos. “O objetivo das bailarinas Marian Chace e Trudi Schoop era auxiliar na reabilitação de pacientes desprovidos das capacidades de comunicação e expressão”, diz.

Na América do Sul, a argentina Maria Fux não só adotou a técnica como incorporou novos conceitos em benefício de pessoas com todo tipo de deficiência. “O método é integrativo e não exclui ninguém”, fala Esperanza. “Para a DMT o fato de uma pessoa não poder levantar de uma cadeira, não significa que não possa dançar. Ela movimentará suas partes saudáveis, e é a partir desse potencial que a DMT trabalha. O dançar contempla o todo: braços, dedos, e até o olhar que se move”, explica.

Na Itália, a bailarina Elena Cerruto, diretora da Associação Sarabanda de Milão e autora do livro No ritmo do coração, dançaterapia entre oriente e ocidente (Phorte Editora), passou a se interessar pela DMT, e nela introduziu elementos da medicina oriental. “A técnica é ao mesmo tempo um tratamento e uma terapia”. “Na DMT prevalece a linguagem não verbal, mas o meu método também estimula a troca verbal. Por isso, introduzi no curso as psicologias ocidental, chinesa e a zen budista”, esclarece a especialista.

Para os praticantes, igualmente não é exigida habilidade física específica, pois a DMT é indicada não só para pessoas com necessidades especiais, mas também para todo adulto, jovem, criança ou idoso, sem limite de idade.

Esperanza observa que não há contraindicações para a DMT, mas os praticantes devem estar atentos aos seus próprios limites, especialmente no início. “Com o passar do tempo, a escuta pessoal se aprimora, e já não há riscos de cometer excessos”, diz.

O que ela proporciona

Para Elisabetta Vianello, 60 anos, a DMT trouxe melhora na qualidade de vida. Como há mais de quarenta anos perdeu a visão, a técnica trouxe alívio para as tensões físicas e psíquicas. “Eu me movo melhor no ambiente que me cerca, com simplicidade e certa desenvoltura, superando os limites e enxergando com o corpo”, relata. “Durante as sessões, sinto minha respiração viva e palpitante, especialmente nas zonas que estão sempre bloqueadas: o diafragma e o abdômen. O coração também bate de forma harmoniosa e a circulação melhora. Tudo isso me deixa mais serena”, completa.

Para o cardiologista e cirurgião Giovanni Ansaldi, membro da Sociedade Italiana de Medicina Psicossomática, o valor da DMT é que ela “estimula o movimento visando o bem-estar psicofísico de uma comunidade onde o sedentarismo é a regra”.

Cláudio Santili, professor do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia (SBOT) concorda: “O mais importante da dança é a capacidade de colocar as pessoas em movimento, favorecendo o aparelho locomotor, a musculatura e os ossos”.

Porém, diferentemente de outras atividades como a ginástica ou alguma modalidade esportiva, acrescenta Ansaldi, “A DMT promove a consciência do corpo e, por meio do movimento, um contato mais profundo consigo mesmo”. “Os benefícios físicos para o aparelho cardiorrespiratório e muscular juntam-se aos psicológicos, não menos importantes”, diz. Os especialistas falam que o tempo de espera para usufruir dessa melhora dependerá de cada pessoa, mas em média, após dois meses, já se notará alguma evolução, que tende a crescer ao longo da prática.

Observando a DMT de perto, o médico italiano verificou que ela também pode ser útil para aqueles pessoas que se sentem traídas pelo próprio físico, por achar que ele não atende aos modelos da moda. “Com a DMT, o corpo passa a ser usado ao invés de rejeitado. Além disso, ele é vivenciado numa dimensão comunicativa e criativa”. E acrescenta: “do ponto de vista estritamente orgânico, a DMT figura entre as terapias de maior função analgésica. Como os movimentos não são obrigatórios, nem predeterminados, a pessoa assume de forma solta e consciente, aqueles que melhor se prestam à liberação das tensões”.

Entre os idosos

Para os idosos a dança representa o mesmo que praticar exercícios físicos. E entre os idosos que perderam a mobilidade, relata Esperanza, a experiência da dança pode ser ainda mais extraordinária. Além da resposta física, para eles há a possibilidade de resgatar a autoconfiança, criar laços de amizade e sair da solidão, além de se comunicar e tomar consciência de que ainda estão vivos. “O papel do terapeuta é ter clareza quanto às intervenções que faz, aproveitando e gerenciando cada instante durante as sessões. Afinal, nesse momento, é ele a ponte que leva o idoso ao encontro de suas próprias potencialidades”, conclui.

Seja através da Biodança, ou da DMT ou qualquer outra modalidade de dança que já existe ou que venha surgir, o que importa é o movimento, essa interação de mente e corpo numa harmonia onde só temos a ganhar. O prazer é imediato e as consequências, são inúmeras!

Fontes: Disponível Aqui / Aqui

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