Cuidando do cuidador

Como pensar no cuidado ao cuidador quando há acúmulo de trabalho? Quando se tem que trabalhar fora ou em casa, cuidar dos filhos…? Quais recomendações existem para diminuir o estresse pelo próprio excesso de responsabilidades?

Tanani Ledur (*)


Seja cuidando de idosos ou de pessoas doentes, muitas vezes o cuidador acumula as funções de cuidar da pessoa enferma, trabalhar fora, trabalhar em casa, cuidar dos filhos… O acúmulo de atividades gera um estresse muito grande pelo próprio excesso de responsabilidades, muitas vezes centrado numa pessoa, que é o cuidador. Para melhorar essas atividades de rotina, um cronograma pode ser de grande auxílio.  E um cronograma significa listar todas as atividades necessárias, seus horários, dias da semana, e quem vai desempenhar aquela atividade.  Isso ajudará a todos, inclusive se houver revezamento dos cuidadores.  Confiar na memória de uma pessoa sobrecarregada não é adequado, pois a chance de falhas é muito grande e as consequências podem ser perigosas.

Sensação de culpa

A sensação de ser responsável pela pessoa doente é uma das primeiras sensações do cuidador.  E com essa sensação, vem outras como querer mostrar para a pessoa coisas que ela deve fazer para melhorar, tentar propiciar situações agradáveis, preocupar-se em evitar as situações difíceis, e quaisquer outras questões que envolvam manter a pessoa em situação mais confortável.  E quando isso não ocorre, quando alguma coisa sai do controle, é muito comum que o cuidador se sinta culpado.  Principalmente quando falamos com mães ou companheiros (as), muitas vezes há o sentimento de “eu deveria ter feito algo para evitar isso” – então o sentimento de culpa aparece.

É fundamental compreender que, não só na vida do idoso ou da pessoa doente, mas na vida de todos nós, a maioria das coisas não está sob nosso controle.  E tentar controlá-las trará mais estresse e sofrimento para todos.  Será necessário aprender a lidar com as dificuldades, as adversidades, tentando observar como é possível aprender com cada situação, se é possível evitar situações semelhantes no futuro, e se forem inevitáveis, compreender que raiva, estresse, revolta ou qualquer outro tipo de pensamento/sentimento negativos não trarão a solução.  Ao contrário, sentimentos positivos e otimistas, também não resolvem o problema, mas tornam a situação mais suportável.  O bom humor pode ser um excelente remédio para as adversidades.

Sensação de incapacidade

Perante qualquer doença ou incapacidade, todos nós ficamos apreensivos e esperançosos com uma melhora rápida e com o menor sofrimento possível.  Mas infelizmente em alguns casos a dor será inevitável, o próprio tratamento trará condições adversas e a pessoa doente sofrerá não só fisicamente, mas também ficará mais depressiva, irritada, antissocial.  E não é possível fazer nada por ela, o que é possível é oferecer apoio à ela.

O principal a compreender é que a própria limitação física ou psicológica algumas vezes altera o funcionamento do organismo da pessoa doente, causando reações emocionais diferentes das costumeiramente apresentadas.  E sem dúvidas a condição de dependência deixa as pessoas mais sensíveis, irritadiças, desgostosas.  Qualquer reação emocional adversa não deve ser encarada como dirigida ao cuidador, mas como uma reação à situação difícil que a pessoa enferma está vivenciando.

Claro que é muito difícil receber ofensas ou tratar uma pessoa doente de mal humor.  A alternativa é que o cuidador procure formas de relaxar e momentos para descanso, afastando-se da pessoa doente e permitindo também que ela reflita sobre o que ocorre.  A regra máxima é: evitar o confronto – não discutir, não questionar, não replicar.  Apenas faça o que deve ser feito, e se afaste.  A ausência, às vezes, é um excelente conselheiro para ambos.

Negligenciar sintomas de desgaste físico e emocional

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Sim, há um acúmulo de tarefas e o cuidador não pode “fazer corpo mole”.  Mas muitas vezes, o cuidador acaba ultrapassando seus limites em nome da dedicação aos cuidados e obrigações.  Porém a situação de estresse a que está submetido é grave e, caso o cuidador não respeite suas necessidades, há uma grande possibilidade de desenvolver sintomas tanto físicos quanto emocionais, e adoecer.

Alguns sintomas que não podem ser negligenciados: ansiedade, tensão, problemas para dormir, problemas para se alimentar, pessimismo frequente, esgotamento de energia, resistência baixa (gripar-se com frequência, alergias, etc), queda de cabelo, problemas de pele, dores de cabeça, dores musculares.  Todos esses sintomas podem estar relacionados ao desenvolvimento de um quadro de estresse e podem se agravar.  Portanto, no mínimo sinal, é importante buscar um auxílio médico.  O próprio isolamento dos cuidadores, em função da falta de dedicação para sua vida pessoal, pode ser bastante agravante dos sintomas.

Esquecer que também é humano

Muitas vezes o cuidador se dedica apenas à pessoa enferma e esquece que também tem suas necessidades. Sente-se culpado por pensar que gostaria de descanso; exausto por não lhe sobrar energias por falta de descanso e sono tranquilo. Acabam abdicando de suas próprias vidas, seus sonhos, seus desejos, mesmo que momentaneamente. Importante é não negligenciar a si mesmo, pois do bem estar do cuidador derivam as boas condições emocionais para dedicar-se ao outro.

Sob este aspecto é fundamental que o cuidador se lembre que é uma pessoa também, e que todas as necessidades não só são aceitáveis, mas também necessárias para a vida de qualquer pessoa.  Que sim, o cuidador tem o direito de ter um momento de descanso.  E é mais do que necessário que se tente a possibilidade de revezamento entre os cuidadores, propiciando que, nos momentos de folga, o cuidador possa (e deva) buscar atividades que lhe tragam relaxamento, descontração e diversão.  Inclusive é importante tentar manter uma rotina de exercícios físicos (mesmo dentro de casa), manter uma alimentação balanceada e cuidar ao máximo das horas de sono.  Desta maneira o cuidador pode preservar sua saúde e continuar com sua ajuda à pessoa doente. 

(*)Tanani Ledur- Psicopedagoga e Gerontologista. E-mail: [email protected]

Foto destaque: Matthias Zomer/Pexels


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