Cuidados paliativos e fim de vida

Em meio aos progressos que contemplaram o mundo contemporâneo no século 20, o envelhecimento populacional fez com que as sociedades passassem a ter um número significativo de pessoas com doenças incuráveis, que permanecem vivas com sequelas e complicações.

Claudia Burlá *

 

O atrativo modelo da medicina curativa, cujo foco é o “ataque à doença” visando a cura, não se coaduna com essa realidade; a doença terminal, o processo de morrer e a morte foram “hospitalizados” nas últimas décadas.

Questões em torno da morte interessam a todos e constituem ainda hoje um tema pouco falado. A partir da resolução nº 1.805/2006 e, mais recentemente, da entrada em vigor do novo Código de Ética Médica do Conselho Federal de Medicina é que a mídia veio a explorar o tema, que ainda gera controvérsias.

Nesse cenário, surgem os cuidados paliativos, uma modalidade de assistência e intervenção cujo alvo é a pessoa doente, com ênfase no alívio do sofrimento físico e no atendimento das demandas psicossociais e espirituais.

Trata-se de uma resposta ativa aos problemas decorrentes da doença prolongada, incurável e progressiva para prevenir o desconforto e proporcionar a melhor qualidade de vida possível às pessoas doentes e seus familiares.

Os médicos jamais devem perder o foco de atuação: a pessoa doente no final da vida, um processo que pode levar dias, semanas ou meses.

Não obstante a globalização do conhecimento e a rapidez com que as informações são divulgadas, somando-se a necessidade de atenção especial para o final da vida, os cuidados paliativos ainda não fazem parte do interesse e do conhecimento de profissionais da área nem do sistema de saúde.

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A doença terminal atravessa todas as faixas etárias, do recém-nascido ao idoso frágil. Assim, dezenas de milhares de pessoas poderão ser beneficiadas quando o sistema de saúde incorporar essa modalidade de atendimento.

Os cuidados paliativos não são cuidados menores no sistema de saúde, não se resumem a uma intervenção de caridade bem-intencionada, não restringem sua aplicação aos moribundos nos últimos dias de vida e, pela especificidade das intervenções, são diferenciados dos cuidados continuados.

Eles também não encarecem os gastos do sistema de saúde; ao contrário, tendem a reduzi-los pela racionalização da assistência. Tais cuidados previnem o sofrimento e as múltiplas perdas associadas à doença terminal (da potencialidade do corpo às questões psicológicas), pela intervenção plural em que a pessoa doente e sua família são o centro gerador de decisões.

Idealmente, a assistência inclui médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas e também profissionais de outras áreas, como direito, filosofia e teologia.

Os cuidados paliativos constituem uma resposta indispensável aos problemas do final da vida.
Em nome da ética, da dignidade e do bem-estar de cada ser humano, é preciso torná-los cada vez mais uma realidade.

*Claudia Burlá, médica, especialista em geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, é membro da Câmara Técnica sobre a Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do Conselho Federal de Medicina.

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Fonte: Artigo publicado na Folha de S.Paulo – Tendências/Debates – 2 de junho de 2010. Acesse Aqui

 

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