Contrariar a depressão

Entrar na chamada terceira idade não tem de ser sinónimo de apatia e depressão. Se a chegada da reforma lhe deixa mais tempo livre, há que o investir em actividades lúdicas e “fintar” a tristeza e o isolamento. Acredite: melhorar o estado de espírito sente-se por dentro e isso vê-se por fora.

Andreia Pereira *


Já pensou no que vai fazer quando chegar a idade da reforma? Se este é o seu caso, antes de se deixar “abater” pela tristeza, deverá procurar desenvolver actividades que lhe dêem alento nesta nova fase da vida. Afinal de contas, como diz Alexandre Dumas, o que nos torna velhos não é a idade, são as doenças que se atravessam no caminho.

Aprenda a sorrir para a vida e atire as tristezas para trás das costas. E isto porque o isolamento e a inactividade podem propiciar o aparecimento de algumas doenças, nomeadamente a depressão. Segundo o Dr. Horácio Firmino, coordenador da consulta de Gerontopsiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, “esta é a patologia psiquiátrica mais comum na população idosa”.

Assim sendo, e já que “as tristezas não pagam dívidas”, o melhor mesmo é poupar a saúde, investindo em programas de terapia ocupacional. Ficar em casa deprimido não é a solução para os problemas. Antes pelo contrário. “O estado de desânimo, a perda de interesse, o cansaço físico e intelectual e a falta de perspectivas para a vida influenciam a interacção com o mundo exterior”, aponta o médico psiquiatra.

O impacto da depressão não está, apenas, limitado ao convívio social. “Sabe-se que também aumenta o risco de doenças cardiovasculares, nomeadamente a hipertensão arterial ou enfarte agudo do miocárdio. Em alguns casos, quando o idoso manifesta um declínio cognitivo, associado à perda de memória, a depressão pode ser um estado prévio ao desenvolvimento que se segue”, completa Horácio Firmino.

Depressão ou crise da idade?

Para Horácio Firmino, a sociedade ainda encara “a depressão como um estado de espírito normal na pessoa idosa”, desvalorizando os sintomas de tristeza e apatia. “Felizmente, este não é o apanágio do envelhecimento”, acrescenta o especialista, indicando que o humor depressivo não deve ser entendido como uma crise da idade.

“Trata-se de um uma situação persistente no tempo e distinta do estado de desânimo. O diagnóstico de depressão baseia-se em critérios actuais, nomeadamente o aparecimento de tristeza ou perda de interesse, associado a, pelo menos, quatro outros sintomas: perturbação do sono, apetite, culpabilidade, apatia, dificuldade de concentração, ideação suicida”, diz o psiquiatra. E adianta que a patologia depressiva “tem tratamento e, quando bem sucedido, melhora a qualidade e evita um mal maior: o suicídio”.

Segundo os dados existentes, a depressão assume-se como “a principal causa do comportamento suicida”. Contrariamente aos adolescentes, o acto suicida nos seniores “é, geralmente, fatal”. E por várias razões. Desde logo, “pela maior fragilidade física, pela incapacidade em pedirem auxílio (já que muitos dos idosos moram sozinhos) e pela intenção de colocarem termo à vida”.

Por todos estes motivos, o psiquiatra alerta para a importância de manter um olhar vigilante sobre algumas populações de risco. “Para evitar situações de suicídio, deve-se redobrar a atenção nos homens com idade superior a 75 anos, viúvos, deprimidos, com problemas de álcool ou com doenças crónicas e incapacitantes.”

Razões para sorrir

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No livro “Envelhecer com saúde: guia para melhorar a sua saúde física e psíquica”, editado pela Lidel, a Dr.ª Belina Nunes, autora da obra e neurologista, reforça o papel do envelhecimento activo nas sociedades actuais. “A reforma tem de ser vista como um tempo em que se abrem novas perspectivas, novos projectos, sempre adiados por falta de tempo”, afirma.

Assim, para que se possa aproveitar o que a vida tem de melhor, a neurologista defende a integração dos idosos em actividades de grupo ou em acções que tragam retorno emocional. “Os programas ocupacionais ajudam os idosos a sair do ciclo vicioso da depressão.”

Para a especialista, praticar exercício físico regular é “uma óptima maneira de contrariar os sintomas depressivos”. Além de manter o corpo activo, a prática de exercício físico estimula a produção de endorfinas – substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar”.

Ainda assim, “se apesar das tentativas, houver uma persistência dos sintomas de tristeza e desânimo”, a especialista aconselha o idoso a procurar um médico. “Nestes casos, pode haver necessidade de medicamentos ou de psicoterapia para ultrapassar a situação causadora de depressão”, realça.

Se é um dos recém-reformados, lembre-se que a vida começa agora. E não há razões para ficar triste. Aproveite para ingressar em actividades que antes, quando estava refém do trabalho e da rotina, não conseguiu colocar em marcha. “Esforce-se por viver alegre uma segunda juventude”, remata Belina Nunes.

Envelhecimento activo

Envelhecer não significa ficar trancado em casa, a ver os dias a passar. Se está deprimido, invista em actividades que o ajudem a melhorar o humor. Ficam aqui algumas sugestões.

  • Praticar uma actividade física individual ou em grupo: caminhadas, natação, ciclismo, dança, jardinagem, entre outras;
  • Cuide dos netos;
  • Invista na sua formação, inscrevendo-se numa universidade sénior ou num curso de pintura;
  • Aproveite para passear, observar a paisagem, conversar com pessoas e apreciar a natureza;
  • Quando a meteorologia for desfavorável, vá até a uma biblioteca e escolha um bom livro para ler.

“O estado de desânimo, a perda de interesse, o cansaço físico e intelectual e a falta de perspectivas para a vida influenciam a interacção com o mundo exterior” Horácio Firmino

“A reforma tem de ser vista como um tempo em que se abrem novas perspectivas, novos projectos, sempre adiados por falta de tempo”, diz Belina Nunes

Fonte: Jornal do Centro de Saúde, 11/01/2008. Disponível Aqui

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