Como irão viver e morar nossos descendentes?

No grupo formado por pessoas de 65 anos e mais, amigos há décadas, todos tem filhos e netos em diferentes faixas etárias. São da geração que mesmo não vindo de famílias de recursos, bem ao contrário, estudou em boas escolas públicas, com sacrifício familiar e pessoal, cursou a Universidade e, como hábito da época, casou cedo e teve filhos.

Vera Brandão *

 

como-irao-viver-e-morar-nossos-descendentesSexta-feira, 21hs. A semana de trabalho se encerra com um convite: Vamos tomar um vinho? O grupo de amigos de infância e colegas de Faculdade adere prontamente.

Sentados à mesa de uma casa simples, mas confortável, entre alguns petiscos e o vinho, o grupo, formado de quatro casais, conversa. Fala-se de política, trabalho, viagens, filmes, do passado comum a todos e, inevitavelmente, a conversa se encaminha para o assunto: filhos e netos. No grupo formado por pessoas de 65 anos e mais, amigos há décadas, todos tem filhos e netos em diferentes faixas etárias. São da geração que mesmo não vindo de famílias de recursos, bem ao contrário, estudou em boas escolas públicas, com sacrifício familiar e pessoal, cursou a Universidade e, como hábito da época, casou cedo e teve filhos.

Ninguém tinha medo da vida e, sem exceção, começaram do “zero”. Além de formar família todos tinham um sonho: ter uma casa própria! Muitos vinham de famílias em que este precioso bem não era realidade. Muitos anos de trabalho árduo, sacrifícios financeiros, dinheiro “curto”, mas todos conseguiram ter suas famílias e a casa própria.

Quanto aos filhos…Bem, todos os deste grupo chegaram à Universidade, casaram, descasaram, tiveram filhos….Depois de um certo tempo (e copos de vinho) a conversa se torna mais aberta e franca: e os pais confessam que, de um jeito ou outro, ajudam os filhos financeiramente de forma pontual e, em alguns casos, com um providencial “suporte” na compra da casa. Certo ou errado? Os pais não sabem responder, mas movidos pela eterna preocupação de pais socorrem seus filhos sempre que possível.

Um detalhe: todos esses filhos trabalham muito, mas a vida hoje tem mais apelos ao consumo, as crianças frequentam dispendiosas escolas privadas, opção diante da falência do ensino público, e as novas demandas sociais impedem que essa geração, entre 35 a 45 anos, consiga fazer uma poupança. Estamos falando de uma classe média que atingiu seus sonhos, teve oportunidades, trabalhou e progrediu. O comentário foi: nossos filhos saíram de onde chegamos, mas, ou por causa disso, ficou no ar a questão: os protegemos demais? Devemos ou não ajudá-los? Ou, conscientes das mudanças que impactam a sociedade, buscamos ajudá-los…pensamos também nos netos!

Por coincidência, no dia seguinte, sábado, a revista Veja, traz uma matéria em sua página blogosfera (de acesso online) intitulada População envelhece e novas gerações se preparam para não conseguir comprar casa própria e viver pior que os pais, que toca alguns pontos que motivaram a conversa do grupo de velhos amigos no dia anterior.

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Nela, a repórter Mariana Barros traz as previsões da Organização Mundial da Saúde (OMS) que indica o ano de 2015 como ponto crítico de mudança no equilíbrio da população mundial. Segundo esses estudos, até dezembro, a população de crianças com menos de 5 anos será ultrapassada pela faixa com mais de 65 anos de idade, indicando uma transformação “na relação de forças entre as gerações, que tem como ponto de tensão a aquisição da casa própria”.

Realidade que não é só do Brasil

Este panorama é trazido como exemplo real, nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas que indica uma mudança global. No Brasil o problema se agrava com a recente expansão imobiliária seguida da forte retração no mercado, uma composição perigosa: alta oferta de imóveis, não propriamente populares, e a estagnação econômica que compromete a empregabilidade. A reportagem indica menor poder de compra entre os jovens e aumento entre os mais velhos, grupo formado por mais de 26 milhões de brasileiros com mais de 60 anos!

A realidade: aumento do número de idosos responsáveis pela manutenção das famílias; diminuição do grupo de jovens independentes; coabitação entre várias gerações. Se a convivência intergeracional pode ser extremamente enriquecedora para ambos os grupos, o mesmo não se pode dizer da relação de dependência que os mais jovens têm em relação aos mais velhos. As moradias intergeracionais poderão, no futuro, ser palco de novas tensões entre as gerações? Onde fica o “sonho” de independência na geração de jovens adultos atuais? Será que ele existe?

As questões surgidas em volta da mesa, em uma sexta-feira qualquer, refletem não apenas as preocupações de um grupo de velhos amigos sobre seus descendentes, mas espelha a realidade social na qual vivemos e os desafios que se prenunciam no futuro próximo, a organização das relações sociais e familiares, e o espaço de cada um.

Leia mais

Revista Veja – In Blogosfera por Paula Perin. Acesse Aqui 

(reportagem de Mariana Barros) em 24/03/2015. Acesse Aqui

* Vera Brandão – Doutora em Ciências Sociais e pós-doutoranda na PUC-SP no Pós em Gerontologia. É editora da Revista Portal de Divulgação e coeditora do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]

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