Como a afetividade é tratada nas instituições?

Dona Filó, com 73 anos de idade, residente em uma instituição de longa permanência, confidenciou estar flertando com um idoso também institucionalizado. Essa revelação a expôs frente à instituição onde residia a qual a transferiu para uma outra. Por quê?

Lúcia Helena da Silva Zani – pesquisadora mentora

 

Seu flerte foi desaprovado e tornou-se problema para a instituição que expôs publicamente o caso, de forma pejorativa, causando transtornos para Dona Filó, que começou a apresentar um quadro de aparente apatia, com queixas de indignação pelo tratamento dado ao seu caso e alguns questionamentos:
– “O idoso não pode flertar?”
-“O idoso não pode querer ter um companheiro?”

Declarando-se apaixonada pelo Sr. José, que é separado, Dona Filó, viúva, foi então autorizada pelos filhos a viver junto, maritalmente, com o Sr. José, na instituição. Mas a ex-esposa do Sr. José não gostou dessa história e a vida do casal passou a ter mais esse problema. Em função de muitas pressões internas e externas o casal acabou se separando. Com a separação tanto Dona Filó quanto o Sr. José apresentaram um quadro de apatia que necessitou de uma intervenção médica incluindo terapia medicamentosa.

A intervenção da família de Dona Filó, através da sensibilização e conscientização, foi fundamental para a alteração do quadro clínico e solução do problema do casal: sair da instituição. Dona Filó e Sr. José são aposentados e recebem, cada um, um salário mínimo. Na cidade pequena onde residem puderam sair da instituição, onde não tinham o direito de escolha, e alugaram uma casa, reconstruindo assim suas vidas.

Ora, isso nos mostra que o idoso é capaz e que o estatuto do idoso garante-lhe o direito de decisão de sua vida. Ouvi-lo é importante, respeitar seu direito de reconstruir a sua vida é primordial.

Longe da pressão da ex-esposa e da instituição que os marginalizou, suas vidas, reconstruídas, aproximaram as respectivas famílias, consolidando um lar, a partir da busca por qualidade de vida e realização de uma paixão.

A questão da afetividade está presente em todos os momentos da vida, portanto, no processo do envelhecimento não é diferente. As instituições devem saber lidar com ela e não negá-la como sistematicamente vêm fazendo.

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