Como a tecnologia poderá ser útil em nossa velhice?

Atualmente, 21% da população com mais de 60 anos, ou seja, 5,2 milhões de pessoas têm acesso à internet. Várias empresas vêm buscando desenvolver produtos para este consumidor. Hugo Barra, atual presidente da Xiaomi e ex vice-presidente mundial do Google, coloca alguns questionamentos que fazem parte do seu dia a dia: “Que tipo de tecnologia teremos no futuro? Quanto tempo demora até o smartphone se tornar obsoleto? Viveremos num mundo em que humanos, animais inteligentes e máquinas precisarão aprender a conviver?

Denise Morante Mazzaferro *

 

como-a-tecnologia-podera-ser-util-em-nossa-velhiceO envelhecimento é um fenômeno multifacetado que nos afeta nas mais diversas dimensões: pessoal, profissional, econômica, social, saúde, etc.

Atualmente, a faceta que confronta o envelhecimento é a utilização da tecnologia que vem sendo amplamente discutida, afinal, vivemos o que estudiosos nomeiam como Terceira Revolução Tecnológica, iniciada desde a segunda metade do século XX, cujos avanços e velocidade são inexoráveis.

“Agora, aqui, veja, é preciso correr o máximo que você puder para permanecer no mesmo lugar. Se quiser ir a algum outro lugar, deve correr pelo menos duas vezes mais depressa do que isso!”, já dizia Lewis Caroll.

Os desafios desta Revolução causam estranhamento até mesmo para os profissionais da área como Hugo Barra, mineiro, atual presidente da Xiaomi e ex vice-presidente mundial do Google.

Ele coloca alguns questionamentos que fazem parte do seu dia a dia: “Que tipo de tecnologia teremos no futuro? Quanto tempo demora até o smartphone se tornar obsoleto? Viveremos num mundo em que humanos, animais inteligentes e máquinas precisarão aprender a conviver? Como exemplo, cita: “Algo que aconteceu comigo essa semana: esqueci do aniversário do meu pai porque, primeiro, ele não está no Facebook; segundo, eu nunca sei que dia é hoje, já que consigo essa informação apenas olhando para o cantinho da tela, então não me importo em memorizar.” (1)

Em 15 de agosto de 2016, o jornal O Estado de S.Paulo publicou a matéria “Idosos conectados geram demanda por inovação”. Nela desponta o dado que, atualmente, 21% da população com mais de 60 anos, ou seja, 5,2 milhões de pessoas têm acesso à internet. A matéria contextualiza o mercado e seus participantes e mostra vários exemplos de empresas que vem buscando desenvolver produtos para este consumidor.

Vários dos exemplos trazidos pela matéria buscam atender às questões dos idosos que moram sozinhos, focando em como monitorar estas pessoas. Realmente esta é uma preocupação para a sociedade de forma geral, inclusive representada muito bem no filme “Frank e o Robô”, cuja narrativa mostra os filhos comprando um robô para cuidar do pai que apresentava sinais iniciais de demência e morava sozinho.

Para José Roberto Muratori, presidente da Associação Brasileira de Automação Residencial, uma das utilizações da tecnologia se daria por meio de “um caminho como investir em tecnologias “pervasivas”, que usam sensores de presença, por exemplo, monitoram idosos sem invadir sua privacidade – e sem exigir que eles interajam diretamente com um aplicativo.” (2)

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como-a-tecnologia-podera-ser-util-em-nossa-velhiceEntendo que, realmente, em termos de avanço tecnológico o monitoramento dos seres humanos, em qualquer idade, virou algo completamente aceito e normalizado. Não precisamos ir muito longe. O whatsup, largamente utilizado por todas as idades, faz com que possamos saber qual foi a última hora que a pessoa estava conectada, se ela recebeu a nossa mensagem e se leu. Ou seja, caminhamos para o fim da privacidade e não temos, na minha opinião, como monitorar pessoas sem preservar sua individualidade e privacidade.

Para os pais de adolescentes existe a justificativa da falta de segurança nas ruas, do excesso de liberdade, bebidas e drogas.

E para os mais velhos? Qual será a nossa justificativa?

“Mamãe mora sozinha em casa, e não tenho tempo de visitá-la, mas preciso saber quantas vezes foi ao banheiro, quantos copos de água bebeu, quanto tempo dormiu, etc.”

Em 1949, George Orwell, escreveu 1984, um romance que tratava exatamente do fim de nossa privacidade. Naquela época ele anunciava este final por meio do controle do estado em nossas vidas e não do que assistimos hoje por meio da tecnologia. No livro a tecnologia aparece como meio de execução deste controle, porém não chega perto do que temos hoje.

Trago neste texto uma provocação para que realmente pensemos em como a tecnologia poderá ser útil em nossa velhice. Queremos aplicativos que cuidem e monitorem nossas vidas?

Ou seremos a geração que promoverá a utilização do que realmente nos faz sentido?

Precisamos refletir e nos posicionar urgentemente a este respeito, caso contrário a indústria nos “presenteará” com um grandioso espetáculo do “Grande Irmão”, sequer sonhado por George Orwell.

Notas

(1) Disponível Aqui

(2) Matéria do Jornal O Estado de S.Paulo, p B8 em 15/08/16.

(*)Denise Morante Mazzaferro – Mestre em Gerontologia PUC-SP, Pós graduação em Marketing ESPM. Sócia da Angatu IDH – Angatu Integração e desenvolvimento humano. Membro da Rede de Colaboradores do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]

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