Como a depressão afeta os idosos

Envelhecer não é fácil, nosso corpo e mente se deterioram, ficamos cansados e às vezes perdemos perspectivas, mas não é o fim do mundo. Há quem encare essa fase como o fim da vida e se feche para possibilidades, oportunidades e prazeres, enquanto outras pessoas encaram com leveza, bom humor, mantendo-se abertas para novas experiências e sensações. O modo como você vai encarar este período é uma escolha sua e a decisão vai influenciar na sua saúde.

Redação SPDM (*)


Envelhecer. Uma fase do ciclo da vida pela qual, provavelmente, todos nós iremos passar um dia. Aliás, uma fase que está ficando cada vez mais larga na pirâmide etária, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Os avanços tecnológicos e a melhora na qualidade vida estão aumentando a expectativa de vida das pessoas, fazendo com que o número de idosos cresça a cada ano. Em 1980 a população brasileira com 60 anos ou mais de idade era de 7.197.964 pessoas, em 2010 este número saltou para quase 20 milhões. E a previsão é de que em 2050 a população com 60 anos ou mais seja de mais 60 milhões de brasileiros. A pirâmide está se invertendo, característica de países desenvolvidos, por isso é importante pensarmos em como queremos envelhecer e nos males que mais acometem os idosos.

A depressão é uma das doenças mentais que mais atinge os idosos. A prevalência da doença e como ela se manifesta pode variar de acordo com a situação vivida pelo idoso. “Para aqueles que vivem com a família e estão inseridos na comunidade, a prevalência de sintomas depressivos gira em torno de 15% da população idosa. Esse número pode dobrar quando nos deparamos com idosos institucionalizados, que estão em casas de repouso ou asilos. Em pacientes hospitalizados por problemas de saúde, a prevalência chega a quase 50%”, explica Fabio Armentano, coordenador da equipe de psicogeriatria do AME Psiquiatria Dra. Jandira Masur.

O especialista divide as pessoas que têm depressão na terceira idade em dois grupos: a) Aqueles que nunca tiveram depressão e passam e ter e b) Aqueles que já vêm de um quadro de depressão ao longo da vida.

No primeiro caso, o componente hereditário é menor, a doença fica muito mais relacionada a dificuldades trazidas pelo envelhecimento em si, tais como a problemas cognitivos e quadros demenciais, perda de papel social e limitações trazidas por doenças físicas. Já o segundo grupo envolve pacientes cujo histórico nos remete a quadros depressivos prévios, tratados ou não, e que podem apresentar características de cronificação.

Clinicamente, uma das principais diferenças entre a depressão que atinge a população idosa frente à que acomete os mais jovens são as queixas somáticas, muito mais intensas e freqüentes nos mais velhos. “Frequentemente os sintomas depressivos nesta população traduzem-se por queixas de dores pelo corpo, falta de apetite e insônia, perda de energia para realizar as tarefas do dia-dia, sendo a tendência ao isolamento e a apatia dois sinais de alerta para a identificação da doença.Em um primeiro momento, muitas vezes não há a exteriorização de sintomas depressivos mais clássicos, como tristeza, angústia, crises de choro. Em geral, o quadro de depressão no idoso é menos exuberante”, destaca Armentano.

Como isso afeta a vida do paciente?

A depressão não tem uma causa específica, podendo ser desencadeada por uma mistura de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Além de fatores ambientais, inerentes ao envelhecimento, a depressão em idosos pode se manifestar a partir de uma série de problemas relacionados à terceira idade como o afastamento da família, a perda do papel social com a aposentadoria, falecimento do cônjuge e solidão. Limitações físicas e fatores clínicos como AVC, infarto e doenças cardiovasculares também podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro de depressão.

Além da qualidade de vida, a doença pode também interferir em aspectos físicos à medida que leva o indivíduo a uma menor disponibilidade para colocar em prática medidas essenciais para a manutenção de uma boa qualidade de vida e para controle de outros problemas de saúde, tais como manter uma dieta saudável e praticar exercícios físicos regularmente. O psiquiatra alerta para o fato de que a depressão dificulta o tratamento de outras doenças físicas. “Estudos mostram que a depressão tem uma influência muito negativa no prognóstico de pacientes que sofreram infarto, por exemplo”.

A influência do sexo na terceira idade

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Muitos ainda veem o sexo na terceira idade como um tabu, mas uma vida sexual saudável faz parte da qualidade de vida de qualquer pessoa, inclusive dos idosos. Por isso, problemas relacionados ao sexo também podem contribuir para o desenvolvimento de depressão. Homens que passam por cirurgia de próstata e que podem vir a ficar impotentes, por exemplo, mulheres na menopausa e que experimentam a sensação de perda da libido e dor durante a relação, baixa autoestima ou até mesmo o cansaço trazido pela velhice, “são fatores que podem mexer com o psíquico de forma determinante”, afirma o especialista. Além da satisfação física, prazer e libertação, o sexo na terceira idade também ajuda o idoso a se manter bem nesta fase. O fato de sair com o parceiro, namorar, demonstrar afeto, tudo isso contribui para uma boa qualidade de vida. Mas, é importante lembrar que, assim como em qualquer outro momento da vida, sexo exige proteção.

A presença da família e o tratamento

A principal dica do psiquiatra Fabio Armentano é nunca considerar uma alteração no comportamento do idoso como sendo algo normal do envelhecimento. “Se existe alteração no comportamento, na forma como o idoso se apresenta, se está mais quieto e isolado, comendo menos, mais apático, menos ativo, tudo isso precisa ser sempre levado em consideração. Ainda enfrentamos grandes dificuldades pelo fato de as pessoas considerarem o aparecimento de sintomas depressivos, alterações cognitivas e declínio funcional como sendo próprios do processo natural de envelhecimento e que, portanto, não requerem atenção e tratamento. Isso atrasa a busca por ajuda especializada e prejudica intensamente o tratamento. O envelhecimento normal é o envelhecimento saudável, e a família pode e deve oferecer ajuda ao perceber mudanças”, explica ele.

O tratamento une a combinação de medicamentos antidepressivos, outras medicações acessórias, se for preciso, e a abordagem de outros aspectos da vida, como a psicoterapia, a retomada de atividades que contribuam para um papel social na comunidade, a retomada do convívio social, estimular os exercícios físicos e o bom cuidado da saúde.

Envelhecimento saudável

Qual é a fórmula para envelhecer bem e com saúde? É o que muitos se perguntam! Mas não existe uma fórmula mágica que é acionada assim que completamos 60 anos, trata-se de um cuidado ao longo da vida. “O envelhecimento saudável não acontece aos 60 anos de idade, acontece aos 30, 40. É fruto do que e de como vivemos nossas vidas e cuidamos da nossa saúde. Se nos tornaremos idosos cheios de doenças, frágeis física e emocionalmente ou se vamos envelhecer de forma saudável e ativa, dependerá muito de como cuidamos do corpo, da mente e do ambiente onde estamos inseridos. Colhemos aos 60 aquilo que plantamos ao longo da nossa juventude”, afirma o especialista. Por isso, vale a pena bater na tecla de que é importante se cuidar, comer bem, praticar exercícios, cultivar bons relacionamentos ao longo da vida porque vamos colher esses resultados no futuro.

Outro ponto importante mencionado pelo psiquiatra é a aposentadoria e falta de planejamento. “As pessoas trabalham a vida inteira, se sentem cansadas, esgotadas e em determinado momento tudo o que querem fazer é se aposentar. Eu não aconselho que deixem de trabalhar precocemente, porém ressalto que se o fizerem, que estruturem a aposentadoria de forma a manterem-se ativos e funcionais. Se uma pessoa se aposenta aos 65 anos sem planejar o que fazer dali para frente, isso pode significar viver os próximos 10 ou 20 anos da vida sem fazer nada. Acredite, por mais que a princípio soe bem às pessoas passar anos a fio descansando, isso pode ser devastador para a saúde mental, física e cognitiva”, alerta Armentano. Por este motivo é muito importante planejar atividades que estimulem a interação social, como atividades voluntárias, cursos dos mais variados – desde gastronomia até artes e música –, atividades físicas e até mesmo viagens.

Envelhecer não é fácil, nosso corpo e mente se deterioram, ficamos cansados e às vezes perdemos perspectivas, mas não é o fim do mundo. Há quem encare essa fase como o fim da vida e se feche para possibilidades, oportunidades e prazeres, enquanto outras pessoas encaram com leveza, bom humor, mantendo-se abertas para novas experiências e sensações. O modo como você vai encarar este período é uma escolha sua e a decisão vai influenciar na sua saúde. E então…de qual grupo você vai querer fazer parte?

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