Co-Lares (cohousing), arquitetura para a longevidade

Co-Lares (cohousing), arquitetura para a longevidade

Cohousing é entendido como um arranjo espacial destinado também à moradia de pessoas que pertencem a outra etapa de fragilidade inerente ao ciclo de vida humana: a velhice. Independentemente de ser um cohousing intergeracional ou somente para pessoas idosas, os cuidados mútuos e compartilhados, facilitados pelos vínculos relacionais somados à proximidade física, alcançam assim maior qualidade de vida.

Por Lilian Avivia Lubochinski (*)

 

Foto: Paulo Ferreira

Em 1988 apresentei o tema livre Arquitetura para a terceira Idade no 8o Congresso da SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Falei sobre os arranjos de moradia que buscavam preservar a autonomia e a individualidade das pessoas idosas, além de prevenir a imposição limitadora que caracteriza as Instituições de Longa Permanência, as ILPIs, incluindo aqui as casas de repouso, as vilas diversas, enfim, os asilos – a verdadeira natureza destas instituições.

Entendo que a institucionalização é uma resposta adequada para as situações em que há perda da autonomia e/ou limitações significativas no exercício das atividades e rotinas do dia a dia, o que, no entanto, só ocorre na vida de uma parcela muito pequena de idosos. Nos Estados Unidos, somente 4% das pessoas acima dos 65 anos estão em ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos). Desses, 10% tem mais de 85 anos, sendo que mais da metade dessa população, dos acima dos 85 anos, dá conta de suas atividades do dia a dia com autonomia.

No entanto, quando a solidão é a causa da institucionalização, o resultado da perda de autonomia implicada é depressão e seus trágicos desdobramentos, inclusive queda na expectativa de vida.

Soma-se ao fenômeno da solidão a insuficiência e inadequação das políticas públicas e das alternativas privadas destinadas à proteção de uma população de idosos que não para de crescer. Com as mudanças nas estruturas do núcleo familiar contemporâneo, tais como das mulheres, que antes cuidavam das pessoas idosas de suas famílias saindo de casa para trabalhar, a vivência da condição de aposentadoria gerando na vida dos idosos um espaço relacional esvaziado que provoca frequentemente conflitos e separações entre casais, a solidão acaba se tornando um fenômeno dolorido e dominante na vida dos idosos das grandes cidades.

A estrutura familiar mudou radicalmente nas últimas décadas. Muitos divórcios, famílias monoparentais, filhas e filhos livres, independentes, ocupados na lida de suas próprias vidas, muitas vezes distantes em outra cidade ou mesmo em outro país. E a velha máxima “não quero ser um peso na vida dos meus entes queridos” continua presente.

Fez parte da contracultura o anseio por comunidades. Muitas se formaram e pouquíssimas sobreviveram. As causas podem ser atribuídas a um autoritarismo presente no modelo de coletivo e um tanto de machismo enquanto a consciência feminista emergia.

Ainda assim, o anseio por comunidade continua presente, principalmente entre as mulheres que ativamente respondem aos chamamentos para uma nova forma de envelhecer, afirmando com muita frequência que este é seu plano de vida. Viver entre amigos, com autonomia em relação aos filhos, compartilhando espaços.

O primeiro cohousing, agregando 27 famílias, foi fundado em 1972, em Copenhagen, na Dinamarca. O arquiteto Jan Gudmand-Hoyer é reconhecido como idealizador deste movimento, mas o impulso inicial se deve ao debate levantado pela psicóloga Bodil Graee. Atualmente, cerca de 1% da população da Dinamarca vive em cohousing (cerca de 50 mil pessoas).

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Interessante notar que o fator que impulsionou esta realização foi o compartilhamento do cuidado na criação de filhos. No presente, cohousing é entendido como um arranjo espacial destinado também à moradia de pessoas que pertencem a outra etapa de fragilidade inerente ao ciclo de vida humana: a velhice. Independentemente de ser um cohousing intergeracional ou somente para pessoas idosas, os cuidados mútuos e compartilhados, facilitados pelos vínculos relacionais somados à proximidade física, alcançam assim maior qualidade de vida.

Co-lares

O que é co-lares? Fisicamente é um conjunto de moradias autônomas e próximas, espaços de uso comum, tendo sempre uma cozinha e um ambiente para refeições coletivas que são ofertadas algumas vezes por semana e seu preparo é rodiziado dentre os membros (conforme decide a comunidade). Há diversos espaços de lazer, biblioteca, lavanderia e outros ambientes de uso comum, conforme indicação e definições da comunidade. Estas características valem para os espaços externos. Tipicamente, são adotadas soluções ambientais que visam a reduzir a pegada ecológica, como por exemplo, água, bio-saneamento, construções solares, uso de materiais de baixo impacto, autonomia energética, lixo zero.

(*) Lilian Avivia Lubochinski – Arquiteta e urbanista formada pelo Technion Institute of Technology, Haifa (Israel,1976). Tem se dedicado à facilitação na construção de novas arquiteturas sociais no campo das comunidades intencionais, desde 1988, promovendo a Arquitetura para a Longevidade. Nestes últimos quatro anos, particularmente, tem se dedicado ao modelo de Cohousing (Co-Lares) e comunidades intencionais, proferindo palestras em diversas cidades brasileiras.

Nota da redação

Se você tem interesse no tema, o artigo completo de Lilian A. Lubochinski, contendo 15 páginas, faz parte do livro Habitação e Cidade para o Envelhecimento Digno, livro oficial do III Congresso Internacional de Gerontologia promovido pela EACH (USP-Leste) em dezembro de 2017. Outros temas presentes são: ILPI, moradia assistida, centro dia, centro de acolhida, caminhabilidade, telecentros, direito à moradia, mobilidade e cidade amigo do idoso entre outros. E-mail: [email protected]

Livro: Habitação e Cidade para o Envelhecimento Digno

Formato: 16 x 23
Tamanho: 338 páginas
Papel/capa: cartão duplex 250g
Papel/miolo: pólen 80gr
Preço: 49,90

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