Centro-dia do idoso: o espaço das diferenças

Centro-dia do idoso: o espaço das diferenças

O Centro-dia é um serviço social previsto na Política Nacional do Idoso que atende pessoas com 60 anos que necessitam de cuidados durante o dia e que à noite voltam para suas casas, mantendo assim os vínculos sociais e familiares. Trata-se de uma estratégia de garantia dos direitos dos idosos, regulada pela Secretaria de Assistência Social.

Jose Wanderley Correia da Silva*

 

Centro-dia como experiências consolidadas das políticas públicas na assistência social foi o tema central de reflexão do Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Nepe) do Mestrado em Gerontologia da PUC-SP no final de junho (dia 28) com os gestores de Centro-dia: Edelmar Ulrich, da Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos (AFAI); Rachel Vainzoff Katz, do Centro-dia para idosos Bom Retiro; Marília Fiorezzi Taborda Vieira, do Koru Centro-dia; Vanessa Idalgo Mutcchnik, do Centro-dia Pasárgada; Claudio Hara, do Centro-dia Angels4U; sob a coordenação da Profa. Dra. Silvana Tótora dos Programas de Gerontologia e Ciências Sociais. Os palestrantes chamaram a atenção do público presente trazendo as origens do centro-dia: Como e quando tudo começou.

O Centro-dia é um serviço social – de interesse da saúde – que atende pessoas com 60 anos ou mais de ambos os sexos que necessitam de cuidados durante o dia e que à noite voltam para suas casas, mantendo assim os vínculos sociais e familiares. Está previsto na Política Nacional do Idoso (Lei Nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994), como uma estratégia para garantia dos direitos dos idosos, regulada pela Secretaria de Assistência Social do Município de São Paulo.

Os gestores de centros-dia presentes, junto com muitos outros (de centros-dia privados e públicos), vêm desde 2016 organizando diversos Fóruns a fim de discutirem a regulamentação desse novo equipamento urbano com o objetivo de garantir os direitos dos idosos e a dignidade na velhice. Neste relato apresentaremos a origem de dois centros-dia: um público e um privado, espaços que abrigam as diversas velhices, daí os centros-dia serem lugares das diferenças.

O primeiro centro-dia público

Rachel Vainzoff Katz assinalou que trabalha bastante com a rede. Segundo ela, “faz-se um fortalecimento da Secretaria Municipal de Assistência Social, que vem com um RH fantástico, e com uma proposta maravilhosa que soma com os outros serviços que existem. O Centro-dia como política pública “faz uma boa articulação com a saúde, trabalhando dentro do território ainda mais e fortalecendo o serviço e toda a rede de apoio para assim fortalecer a parceria das organizações da sociedade civil”.

Segundo ela, hoje o serviço tem uma parceria com uma organização do terceiro setor, a União Brasileira Israelita do Bem Estar Social (UNIBES) quem trabalha com o repasse de verba da secretaria para concretizar uma junção de serviço.

Rachel atua no Centro-dia Bom Retiro, localizado na região central de São Paulo, sendo considerado o primeiro centro-dia público da metrópole com capacidade para 30 idosos por serviço. De acordo com ela, no mês de Maio/2017 completou dois anos de serviços e sucessos, resgatando laços familiares e “aqui tenho o orgulho de compartilhar, com muito prazer, em poder fazer parte desse projeto e ver esses idosos que participam do serviço e os mesmos vislumbrarem hoje dessa possibilidade de um centro-dia”, comentou Rachel.

Segundo ela, “já tivemos muitos desfechos bons e ruins, e ainda uma das problemáticas em andamento é um processo de trabalho com essas famílias e com essa comunidade, para assim realmente fortalecer e fazer com que entendam que o serviço público oferecido é seu por direito”.

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Rachel assinala que o trabalho era realizado através da resolução, então era a resolução que descrevia quais eram as funções, as pessoas que trabalhavam nesse serviço e como se poderia trabalhar. Diz que no decorrer destes anos foram surgindo diversas atividades, melhorando-se, “com aprimoramentos em busca de captar qual era a definição do serviço, pois ao longo destes anos foram aparecendo outros centro-dia”. Contudo, confessa, o serviço precisava se organizar juntamente com a secretaria para se “descrever qual era nosso papel, a fim de esclarecer qual era a função de cada serviço e profissional que atuava nele.

Ela acrescenta que só recentemente, em dezembro de 2016, saiu a tipificação “da nossa portaria, e com esse resultado estamos tipificados dentro da assistência social, ou seja, tem uma discrição do que fazer no RH, qual o valor específico da verba, objetivo geral, objetivo específico, tudo isso está descrito, é só procurar a tipificação da rede social assistencial no item que esclarece todos os detalhes”.

De acordo com Rachel, hoje existem 16 centros-dia na cidade de São Paulo, e “dentro do plano de meta já se fala da cidade Amiga do Idoso”. Segundo ela, sabe-se que esse número não é suficiente para atender, “mas já é um bom começo, ou seja, um serviço que vem dando resultados muito rápidos, pois o trabalho tem sido de diálogo e temos conseguido nos comunicar e fazer com que as pessoas se apoderem da importância desse serviço”.

Como tudo começou no setor privado

A abertura de Centros-dia privados, como o Pasárgada, se deu a partir da crença de um ideal de acolhimento gerontológico, na mudança de uma cultura do cuidado em relação a modos de se estar no mundo e de investimentos próprios. É o que assinala a ex-aluna do Programa de Mestrado em Gerontologia da PUC-SP, Vanessa Idargo Mutchnik, que comentou da sua felicidade em retornar a academia. Vanessa é terapeuta ocupacional, mestre em Gerontologia e Especialista em Administração Hospitalar. Para ela, tudo começou em uma atividade do Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE), em 2009, quando ainda fazia seu mestrado, com o tema “Sensações do Morar”, coordenado pela então professora Suzana Medeiros. Depois disso ela foi convidada a participar de um grupo de pesquisa chamado “Moradias”, demonstrando a importância de se refletir sobre esta temática.

“Foi a partir dessa ideia que começamos a investigar um grupo de idosos na cidade de São Paulo, um total de mais de 800 entrevistados que moravam em todo o Estado, como habitantes de rua, idosos que moravam no flat Santa Catarina, idosos que moravam em sua casa sozinhos”, diz Vanessa. A perguntava realizada a esse idosos era:

– O que faz vocês se sentirem em casa?

Para Vanessa foi uma pesquisa “muito gostosa de fazer”. Segundo ela, o resultado da pesquisa sobre o que faz uma pessoa se sentir em casa, independente da faixa etária e da autonomia, é um poder de decisão do espaço onde ela mora.

Vanessa conta que depois da pesquisa alguns alunos fundaram uma ONG em São Bernardo do Campo (SP) chamada Instituto Envelhecer, com a proposta de oferecer a opção de moradia digna para os idosos com situação de risco, vulnerabilidade social. Na ocasião, em São Bernardo do Campo, existia um casal de idosos casados há 50 anos, e por medida de segurança e proteção a prefeitura os retirou da casa deles, pois se encontravam em área de risco. Eles seriam encaminhados para uma Instituição de Longa Permanência (ILPI). Vanessa relata que como eles não tinham filhos, por medida de segurança “decidimos unir forças e começamos a juntar materiais de casa como fogão, geladeira, cama, juntamos dinheiro, alugamos um cômodo e ali instalamos o Sr. João e Dona Nelcinda em uma casinha, e lá eles moraram até virem a falecer no ano passado”.

Ela relata que com isso foi criado uma rede de apoio com a vizinhança e “construímos cuidado e toda uma relação de territorialidade com eles”. Foi assim que nasceu o Instituto Envelhecer para proporcionar diversas formas de moradia para as pessoas. Segundo ela, o propósito era fazer entender que ali era o espaço para o idoso ficar. Esse foi o embrião do Centro-dia Pasárgada.

*Jose Wanderley Correia da Silva – Fisioterapeuta, Pós Graduado em Ortopedia pelo Albert Einstein e Mestrando em Gerontologia pela PUC-SP. E-mail: [email protected]. É colaborador do Portal do Envelhecimento.

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