Alzheimer, cuide e se cuide

A DA estava presente, mas as pessoas do seu convívio a ignoravam. Ele dizia estar bem, falava de futebol, mas era incapaz de dizer quanto era dois mais dois, de traçar uma linha reta ou completar um círculo minimamente redondo. Não conseguia rebater uma bola com uma raquete, usar a palma da mão para lançar uma peteca ou chutar na direção de um gol vazio.

Mário Luiz (*)


A Doença de Alzheimer está se tornando tão popular que os profissionais da saúde, cuidadores e até familiares passaram a tratá-la apenas como DA.A previsão é que em 2030 a DA alcance 65 milhões de pessoas no mundo. Como cuidar? Como prevenir? Como envelhecer com a DA sem se tornar um vegetal em pouco tempo?

Quando a DA se manifesta em idosos, na faixa dos 70 anos ou mais, vê-se como um acidente de trajeto. E a vida segue com recursos do INSS…
Quando o idoso tem um companheiro, como era o caso da minha sogra, o problema se revela aos olhos do outro por meio dos erros que se sucedem, dos constantes equívocos e dos esquecimentos que se tornam regra.
O outro não entende, mas se queixa e, no fim, todos percebem.

Meu sogro sofria. Ela passou a encará-lo como um desconhecido. Esquecia o fogo ligado, a geladeira aberta, a roupa largada, torneiras jorrando água e só falava sobre sua terra natal, como se estivesse ao alcance de um passo e não do outro lado do mar.

A família só percebeu a DA quando já era tarde demais para evitar sofrimentos. Meu sogro sofreu mais que a minha sogra, como sofrem os cuidadores, pois ela não tinha consciência, enquanto ele achava que ela fazia aquelas coisas para enlouquecê-lo.

Saía e deixava tudo escancarado. Porta e portão. Dizia que ia comprar pão e não retornava. Lá ia ele atrás. Ela se perdia. Andava esquecida. Um dia deitou e esqueceu de acordar.

A história da minha sogra, como tantas, chega a ser engraçada. Seus causos ainda fazem rir. Com meu cunhado foi trágico. Antes dos 50 anos, a DA se manifestou e tudo mudou. Já não era o mesmo. Distanciou-se da mulher e dos filhos. Passou a esquecer compromissos. Não pagava as contas. Vivia com a cabeça na lua.

A DA estava presente, mas ninguém percebia.
O histórico da minha sogra serviu como alerta. Os irmãos levantaram a hipótese da DA. Parecia um absurdo completo. Alzheimer é doença de velho, diziam. Meu cunhado era jovem, forte, ativo, podia ter tudo, estresse, por exemplo, menos DA.

Veio a separação. Afastou-se mais ainda da mulher e dos filhos. Seguia na direção dos negócios, dirigia, pegava praia, administrava seu dinheiro, fazia parte da diretoria de uma entidade como tesoureiro, tocava a vida como se a DA não existisse.

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Doença ou estresse?

Infelizmente a DA estava presente, mas as pessoas do seu convívio a ignoravam. Ele se dizia bem, falava de futebol, mas era incapaz de dizer quanto era dois mais dois, de traçar uma linha reta ou completar um círculo minimamente redondo. Não conseguia rebater uma bola com uma raquete, usar a palma da mão para lançar uma peteca ou chutar na direção de um gol vazio.

Concordou em visitar um especialista, Dr. Paulo Renato Canineu, um dos melhores do Brasil no assunto. Seu diagnóstico: Alzheimer. Sim, senhores, o Alzheimer está cada vez mais precoce, disse o médico para espanto de todos, até daqueles que já desconfiavam.

O Alzheimer quando vem cedo, vem a galope. É devastador. Aos 51 anos, o comportamento do meu cunhado mudou tanto que ninguém mais duvidava. Mesmo assim, os filhos não recorreram a ajuda de profissionais. Incentivaram o pai a se exercitar, o que ele fazia esporadicamente na companhia de um conhecido. Puro amadorismo.

Foi morar na casa do pai enquanto seu novo apartamento era decorado. Entrou para uma igreja evangélica e encontrou uma “irmã” também separada e casaram. Vida nova.

A parceira tomou conta do carro, do dinheiro e não tomou conhecimento do problema de saúde do novo marido.

Os filhos finalmente despertaram, mas a falência já havia sido decretada e seus bens dilapidados. Meu cunhado perdeu tudo. Negócios, carro, apartamento e até a herança deixada pelos pais já estava comprometida por ações trabalhistas. Foi roubado por todos e condenado em todos os sentidos.
O Alzheimer requer muito mais que amor e compreensão, requer cuidados profissionais, aponta o Dr. Paulo Renato Canineu. Seus laudos serviram para os filhos anular o casamento e interditar o pai, mas não foi uma luta fácil. A Justiça tem seus prazos, e a doença? Qual é o prazo da DA?

Quando os filhos assumiram o pai e abraçaram a doença, restava pouco a ser feito.
Hoje, aos 61 anos, meu cunhado vegeta sobre um leito hospitalar. Aos 58 já não tinha mais contato com a realidade. Não reconhecia filhos, irmãos ou amigos. Perdeu a fala. É incapaz de se mover. Respira com a ajuda de um balão de oxigênio…

Não deixe que isto aconteça com você ou com seu próximo. Aproveite e leia gratuitamente A Importância da Fisioterapia Gerontológica em um Grupo de Idosos com a Doença de Alzheimer. Pesquisa realizada por Ana Maria Tabet sob a supervisão do Dr. Paulo Renato Canineu. É uma das 19 pesquisas apresentadas no livro O Envelhecimento Ativo e Seus Fundamentos (editora Portal Edições) publicado pelo Pós em Gerontologia da PUC-SP, que você receberá gratuitamente ao se cadastrar na loja do site do Portal do Envelhecimento.

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