Alice Munro, a contista e seu Nobel de Literatura

Anunciado em 10/10/2013 em matéria do website Ciência Hoje, o Prêmio Nobel de Literatura para a contista Alice Ann Munro, nascida em Wingham, província de Ontário, a 10 de julho de 1931. Considerada uma das principais vozes femininas da literatura de língua inglesa da atualidade, Munro é a décima-terceira mulher a ser agraciada com prêmio.

 

 

alice-munro-a-contista-e-seu-nobel-de-literaturaMas uma escritora de contos ganha Nobel? Sim, sinal dos tempos comandados por pessoas que avançam positivamente sabendo identificar, julgar e premiar as preciosidades dos pequenos textos, as palavras simples e profundas.

História

A matéria do Ciência Hoje conta que Alice Munro vem de uma família de gente simples, começando seus estudos na Universidade Werstern Ontario em jornalismo e língua inglesa. Casou-se em 1951 com James Munro e com ele abriu uma livraria em Victoria, na Colúmbia Britânica. O casal, que se separou em 1972, teve três filhas. Alice casou-se novamente em 1976, com Gerald Fremlin, falecido em abril deste ano.

Reconhecimento, maturidade e estilo

Começar nunca é fácil, até para os “brilhantes”. Munro tinha a escrita no sangue desde a adolescência, inclusive com textos publicados em várias revistas literárias desde o início da década de 1950. Mas foi apenas em 1968, próxima dos 40 anos que seu nome despontou no mundo das letras com a coletânea de histórias “Dance of the happy shades” (Dança das sombras felizes). A obra recebeu considerável atenção em seu país.

Em 1971, publicou “Lives of girls and women” (Vidas de meninas e mulheres), coletânea de histórias entrelaçadas (formando o que se poderia chamar de romance) considerada pela crítica como obra de formação. Nesse tipo de obra, o autor expõe de modo pormenorizado o processo de desenvolvimento físico, moral, psicológico, estético, social e político de um personagem, da infância à maturidade.

Munro já tinha a técnica, conhecia e dominava os caminhos da escrita, o mundo complexo de seus personagens, os compreendia e respeitava. Criando enredos finamente tramados, suas principais características são a clareza de estilo e a elaboração de um realismo de fundo psicológico. A obra provoca e faz pensar.

Suas histórias são frequentemente ambientadas em cidadezinhas do interior, onde a luta por uma existência socialmente aceitável resulta quase sempre em relações deterioradas e em conflitos de natureza moral. Os relatos centram-se em relacionamentos humanos observados pela lente da vida quotidiana.

Assim, a escritora se tornou conhecida por seus contos, reunidos em várias coletâneas. Entre elas, destacam-se “Who do you think you are?” (Quem você pensa que é?), de 1978, “The moons of Jupiter” (As luas de Júpiter), de 1982, “Runaway” (A fugitiva), de 2004, “The View from Castle Rock” (A vista do castelo), de 2006, e “Too much happiness” (Felicidade demais), de 2009.

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Como vemos, títulos sugestivos e inteligentes, já que, propositadamente chamam o leitor a navegar nas histórias, fugir rapidamente da rotina – muitas vezes insuportável – através de textos curtos e impactantes.

Munro ainda guarda surpresas com o sofrido (quase um golpe fatal) “Hateship, Friendship, Courtship, Loveship, Marriage” (Ódio, amizade, namoro, amor, casamento), de 2001 que deu origem ao filme “Away from her” (Longe dela), de 2006, dirigido pela canadense Sarah Polley. Com maestria e extrema delicadeza, a cineasta explora a história de Munro sobre a relação de um casal de idosos (Grant e Fiona), que veem suas vidas serem alteradas, na medida em que Fiona (Julie Christie) é acometida pela Doença de Alzheimer.

Um tema difícil, mas que nas mãos e no coração de Munro se transforma numa obra de raro talento. Seu livro mais recente é “Dear life” (Querida vida), de 2012.

No Brasil, foram publicadas as coletâneas Ódio, amizade, namoro, amor, casamento (Globo, 2004), A fugitiva (Companhia das Letras, 2006), Felicidade demais (Companhia das Letras, 2010) e O amor de uma boa mulher (Companhia das Letras, 2013).

Com a palavra, o pesquisador

Segundo o professor José Paiva dos Santos, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), “por explorar a dimensão psicológica, existencial de personagens femininos, a obra de Munro, tem sido analisada também na linha de estudos feitos no Brasil sobre a obra de Clarice Lispector”.

Doutor em teoria literária e literatura comparada pela Universidade Purdue, nos Estados Unidos, Santos desenvolveu, entre 2005 e 2008, um projeto de pesquisa sobre o tema realismo e ilusão nos contos de Alice Munro.

Santos diz que chama a atenção nas narrativas da contista canadense é o fato da autora apresentar uma visão aparentemente realista da realidade, mas ao mesmo tempo questionar e subverter essas convenções: “Em seu texto, ela está mais preocupada com a significação pela ausência do que propriamente pela presença de fatos e detalhes”.

Alice Munro não se notabiliza pelas experimentações estéticas em seus contos. Prefere, de acordo com o pesquisador da UFMG, uma escrita clara, direta, objetiva, mais centrada na escrita tradicional.

Santos considera que a obra de Munro é algo negligenciada no meio acadêmico brasileiro. Uma explicação que tem para isso é o fato de ela não erguer bandeiras, nem políticas, nem culturais. Sequer se considera uma feminista no sentido engajado, político do termo. “Por não ser, digamos, ‘de vanguarda’, tem merecido pouca atenção.” Agora, com o Nobel, é provável que a obra ganhe fôlego aqui e mundo afora.

Referências

CARVALHO, R.B. (2013). Mestra do conto contemporâneo. Disponível Aqui. Acesso em 21/10/2013.

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