A função do Nutricionista no Centro Dia para Idosos (CDI)

A função do Nutricionista no Centro Dia para Idosos (CDI)

Este artigo trata da inserção do nutricionista em um Centro Dia para Idosos (CDI), em uma comunidade de São Paulo, baseada na legislação vigente e que descreve suas atribuições.

Fátima Cristina de Lima Silva (*)


O Centro Dia para Idosos (CDI) é um serviço de “Rede de Proteção Especial – Média Complexidade” do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, destinado à atenção diurna de pessoas idosas em vunerabilidade social e com grau de dependência, que necessitam de uma equipe multidisciplinar para prestar serviço de proteção social especial e cuidados pessoais, fortalecimento de vínculos, autonomia e inclusão social, por meio de ações de acolhida, escuta, informações e orientações. Caracteriza-se por ser um espaço para atender idosos com limitações para realização das atividades de vida diária (AVD) que convivem com suas famílias, porém não dispõem de atendimento em tempo integral no domicílio (SÃO PAULO, 2016). 

O CDI é um serviço dirigido a pessoas idosas com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, prioritariamente beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e em situação de pobreza incluídas no Cadastro Único para Programas Socias (CadÚnico), com diferentes necessidades e graus de dependência, que não tenham condições de permanecerem sozinhos nos domicílios. Também serão atendidos seus familiares (SÃO PAULO, 2016). 

O objetivo do CDI é atender e possibilitar ao idoso proteção social especial e cuidados pessoais, prevenindo a institucionalização e a segregação, com visitas a promover a sua inclusão social, por meio do fortalecimento das relações familiares (SÃO PAULO, 2016). 

O serviço tem capacidade para atender até 30 idosos, são envolvidos nos cuidados os seguintes profissionais: 10 cuidadores, 01 cozinheira, 02 auxiliares de cozinha, 02 auxiliares de limpeza, 01 gestora, 01 psicólogo, 01 enfermeira, 01 assistente social, 01 terapeuta ocupacional e 01 nutricionista (SÃO PAULO, 2016). 

O dia a dia do nutricionista no CDI

A função do nutricionista é extremamente importante, visto as inúmeras alterações fisiológicas, psicológicas e sociais que afetam o ato da alimentação, as escolhas e hábitos alimentares dos idosos. Entretanto, seu papel não pode se limitar ao cálculo dos nutrientes e à organização do cardápio. Deve orientar o pessoal da cozinha e da copa sobre o significado afetivo da refeição e da necessidade de zelar também pelos seus aspectos estéticos (BENETTI et al., 2014). 

Com o passar do tempo, na velhice, apesar de ser um processo natural, ocorrem várias alterações anatômicas e funcionais, com repercussões importantes na saúde e nutrição, muitas delas progressivas, ocasionando efetivas reduções na capacidade funcional. A associação destas alterações ao uso de medicamentos, comum na população idosa, aumenta o risco de má nutrição, além do aparecimento de inúmeras doenças que podem atrapalhar todo o processo de ingestão, digestão, absorção e utilização dos nutrientes ou aumentar a necessidade dos mesmos (MALTA; PAPINI; CORRENTE, 2013). 

No CDI o nutricionista colabora no planejamento de alimentação saborosa, higiênica e de qualidade, promovendo a socialização e o prazer de comer. O cardápio é adaptado de acordo com as restrições alimentares do grupo alvo, ou seja, redução de sal e inclusão de temperos naturais, substituição de açúcar por adoçante, estimulando o consumo de alimentos integrais (arroz, pães e, massa). Incluindo também, frutas, legumes e verduras. 

Outra atribuição própria do nutricionista no CDI é desenvolver atividades de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) para que o grupo trabalhado conheça estratégias para obter hábitos e trocas alimentares saudáveis. De acordo com (MULLER, FIETZ,2009) a educação nutricional é um fator relevante para a melhora no comportamento alimentar e na saúde em geral.

A alimentação deve ser balanceada e oferecida em condições higiênico-sanitárias adequadas que atendem ao conceito de Segurança Alimentar e Nutricional, ou seja, com alimentos em quantidade e qualidade suficientes, respeitando a diversidade cultural, social e econômica (SÃO PAULO, 2015).

No trabalho presencial, acolhe-se os familiares e os idosos, direcionando-os para o refeitório e os acompanhamos; no café da manhã, alguns não ingerem esta refeição por ter dificuldade de comer neste horário. Outros, por conta do comprometimento cognitivo, necessitam de auxílio ou de um incentivo, enquanto alguns conseguem se alimentar sozinhos. 

Durante a semana realiza-se aconferência do cardápio e, quando necessáriosão feitas alterações. As compras são realizadasquinzenalmente, pela gestora do serviço, e o cardápio elaborado mensalmente.  

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O planejamento do cardápio é realizado com a finalidade de ofertar alimentos e não só nutrientes, quando possível acrescentado um prato cultural de alguma região, por exemplo: dobradinha, cuscuz paulista, frango com quiabo, feijoada, nos lanches intermediários, pastel, mini pizza e outros, com o objetivo de trazer a recordação de memórias passadas e momentos vividos com os familiares.  

Na sequência do trabalho nutricional, acompanha-se a rotina da cozinha, supervisionando e orientando na elaboração das preparações das refeições, higiene pessoal, higiene das verduras, legumes e frutas, do ambiente – equipamentos e utensílios – com o objetivo de evitar contaminação. Além da supervisão do armazenamento das refeições, atualização de planilhas de temperatura e coleta de amostras.

Considerando a necessidade de constante aperfeiçoamento das ações de vigilância em saúde, e visando à proteção da saúde da população e as peculiaridades locais, o nutricionista trabalha seguindo as exigências da portaria 2619 de 2011 (Código Sanitário do Município de São Paulo), Portaria CVS 5, de 2013 da Secretária de Estado da Saúde de São Paulo e RDC N° 216 federal – Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação de 15 de setembro de 2004, complementada pela estadual, distrital e municipal. 

O estabelecimento é fiscalizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que nos orienta a seguir as normas relatadas das portarias citadas.

No horário de almoço se acompanha os idosos, enquanto os cuidadores auxiliam na higiene das mãos. Alguns têm autonomia para montar o seu próprio prato. Os cuidadores ofertam água após o almoço e nos intervalos antes das refeições. Neste período realiza-se orientações nutricionais para os idosos e cuidadores quando necessário. 

São oferecidas quatro refeições: café da manhã, almoço, lanche 1 e lanche 2, sendo que o último é algo mais nutritivo, como sopas ou canja e vitaminas de frutas, pois para alguns idosos esta é a última refeição do dia. 

A recomendação da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) indicarealizar avaliação nutricional mensal para os idosos com risco nutricional, e trimestral para os demais idosos. São coletados medidas antropométricas, peso, circunferência do braço e panturrilha, altura e cumprimento do joelho, com a finalidade de observar classificação nutricional ou avaliar medidas estimadas.

No final de março de 2020, devido a pandemia do Covid-19, houve algumas alterações que nos levaram a desenvolver um trabalho de atendimento à distância, são realizadas ligações telefônicas ou por WhatsApp para os cuidadores dos idosos ou para o próprio idoso, de acordo com a necessidade, uma vez ao mês ou mais. Alguns são atendidos com orientações nutricionais sobre determinadas patologias ou em conversas sobre sua rotina diária. Para comemorar o aniversário dos idosos preparamos um bolo, e um vídeo da equipe do Centro Dia cantando os parabéns. O bolo é entregue na residência e o vídeo mostrado ao idoso pelo o celular do familiar ou do cuidador no momento da entrega.  

Como atividade socioeducativa são elaborados alguns kits de alimentação em datas comemorativas como: São João, Páscoa, Natal e outras, com o objetivo de os idosos recordarem momentos e memórias vivenciadas no Centro Dia. Em algumas situações, seguindo avaliação da equipe técnica, são feitas visitas domiciliares na residência do idoso com a finalidade de acompanhá-lo mais de perto, auxiliando e orientando o familiar ou ele próprio. 

Referências
BENETTI, F. et al. Instituição de longa permanencia para idosos: olhares sobre a profissão do Nutricionista.Estud. interdiscipli. Envelhec, Porto Alegre,v.19, n. 2, p.397-408, 2014.
MALTA, M. B.; PANINI, S. J.; CORRENTE, L. E., Avaliação da alimentação de idosos de município paulista – aplicação do Índice de Alimentação Saudável.Ciência & Saúde Coletiva, 18(2):p.377-384, 2013.
MULLER, N.; FIETZ, V. R., Educação em Saúde e Educação Nutricional aos idosos do Centro de Convivência do Idoso Andrés Chamorro (CCI) no Município de Dourados, MS. Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. 2010.
SÃO PAULO. PORTARIA 2619/11- SMS- Publicada em DOC 06/12/2011, página 23. 
SÃO PAULO. PORTARIA SMADS 45, 17 de Dezembro de 2015. Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social 2015.
SÃO PAULO. PORTARIA SMADS 65, 26 de Dezembro de 2016. Diário Oficial Cidade de São Paulo, Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. p.1-25.

(*) Fátima Cristina de Lima  Silva é nutricionista formada pela a Universidade Nove de Julho – UNINOVE (2008-2012). Pós-Graduada em Gestão e Qualidade dos Alimentos pelo Centro Universitário das  Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU (2015-2016). Atuou como Nutricionista em um Centro Dia Para Idosos em uma comunidade da Zona Sul de São Paulo. E-mail: [email protected]

Foto destaque de Mehmet Turgut Kirkgoz no Pexels


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