A velhice em “Em Três Atos”

A velhice em “Em Três Atos”

O filme trata de finitude e continuidade, velhice e juventude trabalhando com o corpo. “Em Três Atos” contrapõe dança contemporânea, através de uma bailarina de 85 anos e uma jovem bailarina em seu auge, com diálogos inspirados nos escritos de Simone de Beauvoir sobre a velhice, uma das intelectuais que mais refletiu sobre o tema do envelhecimento e da morte. No papel da intelectual aos 80 anos, que reflete sobre a velhice e a morte hoje está Nathalia Timberg e essa mesma intelectual, aos 45 anos, que vive a dor da morte da mãe, é interpretada por Andrea Beltrão.

 

“A verdade é que todos somos mortais. E aos 80 anos todos temos idade para morrer. Mas nós não morremos por ter nascido, nem por ter vivido, nem por velhice. Nós morremos por qualquer coisa. A morte é um acidente,” assinala Simone de Beauvoir, frase que dá destaque à página do filme, de onde extraímos o texto a seguir.

“Em três atos” se insere no quadro de um filme entre a ficção e a não ficção, uma proposta de  ensaio poético que vem explodindo no cinema mundial. O limite cada vez mais tênue entre ficção e documentário vem permitindo que se  trabalhe sem enquadramentos preconcebidos.

O filme trata de finitude e continuidade, velhice e juventude trabalhando com o corpo, através da dança contemporânea e com a palavra, em textos de Simone de Beauvoir. A dança, coreografada por João Saldanha, é ao mesmo tempo uma homenagem a Angel Vianna, um ícone da dança contemporânea brasileira, que participou do filme aos 85 anos.

Angel dança com Maria Alice Poppe, sua ex-aluna, que está no auge do seu vigor. A esse espetáculo de dança, que faz um contraponto sem clichês entre esses dois corpos, se agrega os textos de Simone de Beauvoir interpretados por Nathalia Timberg e Andrea Beltrão. Esses textos são livremente inspirados em entrevistas da autora, nos livros “A velhice” e “Uma morte muito doce”, em que a escritora escreveu sobre a morte da mãe.

Com uma proposta poética e lírica, “Em três atos” é um filme que trata de questões densas sob uma nova ótica.

Realizado em parceria com a TS Productions, com quem a Taiga já co-produziu “Quase Dois Irmãos”, o filme conta com o apoio francês de Milena Poylo, Gilles Sacoud e Céline Loiseau, responsáveis pela negociação com a Editora Gallimard, detentora dos direitos de Simone de Beauvoir.

Nota da diretora, por Lucia Murat

Simone de Beauvoir diz em uma de suas entrevistas que um dos motivos que a levou a escrever o livro “A velhice” foi por ela mesma estar vivendo esse momento e que, por isso, sentiu necessidade de investigar a situação dos velhos na sociedade. Pelo mesmo motivo, decidi fazer o filme “Em três atos”. Pela minha formação como cineasta e também por ter sido bailarina na adolescência pensei em tentar exprimir essa sensação contrapondo o “corpo” e a “palavra”.

A proposta do filme é muito mais levantar questões e apontar sensações do que dar respostas. Por isso, o que busco são as nuances e contradições observadas no corpo: a dor de ter perdido o vigor convivendo com a vida que está presente na velhice.

Sobre a palavra, a opção por trabalhar com textos de Simone de Beauvoir foi imediata. Não somente por ela ter escrito e pensado sobre o tema, mas também por ter sido uma das intelectuais mais importantes da minha geração.

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Já conhecia o livro “A velhice”, onde a questão é tratada aprofundadamente mas, ao realizar a pesquisa, fiquei encantada com as muitas entrevistas que ela tinha dado sobre o tema. A vantagem de trabalhar com as entrevistas é que elas têm uma vivacidade maior para serem reproduzidas na tela do que um texto feito para ser lido.

Durante o trabalho de pesquisa, me foi sugerida a leitura de “Une mort très douce”, livro em que Simone de Beauvoir descreve a morte de sua mãe, já que a questão da morte está intrinsecamente ligada à questão da velhice. Desse trabalho surgiu a proposta do filme, em que o mesmo personagem aparece com 80 anos e com 50 anos, sendo que os textos dessa segunda parte se baseiam no livro “Une mort très douce”.

Do ponto de vista dramático, o personagem ganhou assim uma força considerável pois ele é visto nesses dois tempos: hoje, aos 80 anos, refletindo sobre a velhice e a sua morte, e aos 50 anos, experimentando a dor da morte da mãe. O contraste entre os dois momentos humaniza e traz mais complexidade ao personagem. Mas persistindo na ideia de trabalhar também visualmente sobre a questão do corpo, decidi acrescentar duas bailarinas, Angel Vianna e Maria Alice Poppe que realizam uma performance contrastando seus corpos.

A força do espetáculo está não somente no vigor e capacidade técnica de Maria Alice, mas principalmente no despudor com que Angel se entrega no palco com seus 85 anos, sem intimidação.

Com isso, nós passamos a trabalhar com 4 personagens. A intelectual em dois momentos e as duas bailarinas. Entrecruzar esses personagens é o trabalho desse filme, que se define numa proposta presente no cinema contemporâneo, trabalhando com a liberdade que o tema exige.

Personagens

Intelectual – A personagem da intelectual é livremente inspirada em Simone de Beauvoir (1908 – 1986) e utiliza muitos de seus textos e entrevistas. Basicamente, aqueles que tratam do envelhecimento, resumidos no seu livro “A velhice” e aquele que escreve sobre a morte da mãe (Une mort très douce), um relato muito emocional e que se destaca na sua bibliografia. Para Sartre e muitos críticos, esse pequeno livro é o seu melhor livro. A intelectual é interpretada em dois momentos distintos de sua vida: aos 50 anos, pela atriz Andrea Beltrão, e aos 80 anos, pela atriz Nathalia Timberg.

Angel Vianna – Um ícone da dança contemporânea brasileira. Angel dança e observa o corpo jovem de Maria Alice realizar movimentos que não pode mais, ao mesmo tempo em que seu corpo vive e se expressa com o peso da vida. O espetáculo de dança do qual partimos é um experimento coreográfico que justamente celebra os 85 anos de Angel, dos quais 60 dedicados inteiramente à dança.

Maria Alice Poppe – Introduz uma dança vigorosa e poética. Bailarina e professora formada em dança moderna e contemporânea, é graduada em Licenciatura Plena em Dança pela Faculdade Angel Vianna. Apresentou-se em inúmeros festivais no Brasil e no exterior.

Assista o triler: acesse Aqui

Fonte: acesse Aqui

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